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Patrícia Comunello

Patrícia Comunello

Publicada em 29 de Maio de 2024 às 12:03

Em meio à destruição no Mercado Público, mercadeiros podem perder R$ 6 milhões de fundo

Mercadeiros de dois quadrantes puderam ingressar e presenciar destruição no Mercado Público

Mercadeiros de dois quadrantes puderam ingressar e presenciar destruição no Mercado Público

RAFAEL SARTORI/DIVULGAÇÃO/JC
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Patrícia Comunello
"É como empurrar o banquinho. É botar todo mundo na forca." O alerta do presidente da Associação Comercial dos Permissionários do Mercado Público (Ascomepc), Rafael Sartori, é forte, assim como as cenas de destruição do Mercado Público de Porto Alegre que ele e mais de cem mercadeiros viram na manhã desta quarta-feira (29), ao entrar para começar a retirar produtos perdidos com a cheia.
"É como empurrar o banquinho. É botar todo mundo na forca." O alerta do presidente da Associação Comercial dos Permissionários do Mercado Público (Ascomepc), Rafael Sartori, é forte, assim como as cenas de destruição do Mercado Público de Porto Alegre que ele e mais de cem mercadeiros viram na manhã desta quarta-feira (29), ao entrar para começar a retirar produtos perdidos com a cheia.
Os permissionários do complexo estão alarmados, pois podem perder R$ 6 milhões do fundo do Mercado, que eles contam para a reconstrução dos negócios.
A coluna Minuto Varejo explica: o prefeito Sebastião Melo (MDB) mandou à Câmara o projeto que transfere o dinheiro do Funmercado para o caixa único. A medida faz parte do Projeto de Lei Complementar do Executivo (PLCE) 008/2024, que cria o Fundo de Reconstrução da Economia, da Infraestrutura Logística, Social e Ambiental de Porto Alegre
A previsão é que o projeto seja votado na tarde desta quarta-feira na Câmara. Os mercadeiros vão ao Legislativo para pressionar contra a inclusão do Funmercado na ação de reconstrução. Já há emendas de vereadores contra a inclusão, alegando justamente a situação dramática do complexo histórico e referência no Centro, com mais de 150 anos e que ficou com 1,7 metro de água por mais de 20 dias. O nível da água ficou muito acima da enchente de 1941.
Só que o caixa do Funmercado passou a ser essencial na retomada dos negócios, alerta Sartori. "O recurso já é carimbado para investir no mercado e subsidiar os permissionários. Querem saquear a nossa poupança. Com esta manobra, o que já está ruim pode piorar", reforça o presidente da Ascomepc.
"Este recurso foi negociado com a prefeitura para ajudar a subsidiar a isenção dos aluguéis. Vamos de reconstruir do zero, precisamos deste dinheiro. Se perdermos o subsídio, como vai ser daqui para frente?", questiona Sartori 
"Tem permissionário que já fala em repensar a continuidade no Mercado Público, se isso for aprovado", alerta ainda o presidente da associação.
"É o único dinheiro que o Mercado Público tem para restauração e colocar a vida de volta", apela João Melo, dono do restaurante Gambrinus, um dos mais antigos do empreendimento. Melo pede que a prefeitura preserve o recurso, que é pago pelos mercadeiros: "Sem este dinheiro, será difícil reerguer o mercado". Melo ainda que o Centro Histórico depende do Mercado
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Limpeza e remoção de entulhos e lixo mobiliza equipes no empreendimento no Centro Histórico  

O primeiro dia de liberação para ingresso abrange os quadrantes 1 e 2, que estão mais perto da avenida Júlio de Castilhos. Nesta quinta-feira (30), os ocupantes dos quadrantes 3 e 4, ao lado do Largo Glênio Peres, poderão fazer a retirada de produtos.
"Está horrível", definiu Sartori, após pisar no local. "São R$ 3 milhões de prejuízos só com produtos perecíveis", lamenta o mercadeiro que tem açougue no complexo. A estimativa do valor total de perdas aponta para até R$ 30 milhões. A prefeitura ainda não divulgou cifra, mas há danos em elevadores, escada rolante, rede elétrica e infraestrutura - desde pisos a paredes internas e externas.   

Limpeza mobiliza prefeito e empresas voluntárias   

A limpeza do Mercado Público, um dos símbolos do patrimônio e do comércio de Porto Alegre, após a inundação histórica, vai dar muito mais trabalho do que se imaginava. A ação, com voluntários e equipamentos cedidos pela fabricante alemã Stihl, foi retomada na manhã desta terça-feira (28), com muita intensidade, uso de produtos de higiene especiais e máquinas de hidrojato potentes. A prefeitura manteve previsão de reabrir parcialmente o complexo em meados de junho.
A reabertura seria do segundo piso, que não teve inundação, que chegou a 1,7 metro. Já as operações no térreo, onde está o maior número entre os mais de 100 estabelecimentos, devem retornar após conseguirem repor equipamentos e estoques, algo incerto. Lojistas do Mercado que a coluna Minuto Varejo tem ouvido respondem sempre que é questão de dias. "Mercadeiro é mercadeiro. A gente tá ali defendendo o negócio e cuidando do prédio há muitos anos", resume Clóvis Althaus Júnior, da Café do Mercado.   
"Começando a limpeza já dá um ânimo na gente. Como as perdas foram muito grandes, esperamos voltar o quanto antes", motiva-se Valdir Sauer, com dois açougues, um inaugurado em meados de 2023, e a Banca 43. A expectativa é poder entrar ainda esta semana para dimensionar prejuízos e tirar máquinas e mobiliário. "O Centro de Porto Alegre não vive sem o Mercado".  
O vice-presidente da Stihl, Romário Britto, citou que muitos equipamentos que estão sendo usados para retirar barro e fazer a higienização são ainda inéditos no mercado. Entre os 30 voluntários da indústria, com sua sede brasileira  em São Leopoldo, na Região Metropolitana e também atingida pelas fortes cheias, estão engenheiros de desenvolvimento de produtos e inovação da marca.
"Temos feito muitas ações com a Defesa Civil e órgãos públicos, estamos participando da reconstrução do Estado", frisou Britto. São mais de 20 equipamentos. "Estamos em um ambiente inóspito, sem eletricidade e limitação de água", descreve o vice-presidente. "Adotamos uma estratégia de começar nas partes mais altas do piso, levar a lama ao centro e remover com uma bomba de lodo", detalha Carlos Henrique Wey, gerente de produtos e serviços da Stihl. O engenheiro Raul Kriedte, frequentador do Mercado, diz que não vê a hora de voltar ao local com tudo funcionando. 
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Britto (centro), Wey (esq) e Kriedte são voluntários da Stihl na força-tarefa para limpeza. Foto: Patrícia Comunello/JC 
O secretário municipal de Administração e Patrimônio, André Barbosa, explicou que a limpeza, que tinha começado na semana passada, mas acabou suspensa devido às chuvas, vai se prolongar por toda a semana. Barbosa explica que serão duas fases: a primeira com lavagem e retirada de entulhos que estão nas áreas comuns, considerada a mais pesada e que está em andamento, e a segunda, com liberação da entrada dos mercadeiros, para que eles possam remover materiais do interior das lojas. "Será o bota-fora", define ele. São 80 operações afetadas.
Mais entulhos e lixo, pois há muito material degradado por se tratar de itens perecíveis, devem ser retirados. Limpeza mais profunda e ainda higienização devem ser aplicadas após esta ação dos estabelecimentos. A expectativa, admite o secretário, é de liberar parcialmente o acesso aos operadores dos pontos em meados de junho. Barbosa lembrou que as operações do segundo piso não foram inundadas.
As demais vai depender do projeto de cada um e dos prejuízos. O sistema elétrico do empreendimento teve partes afetadas, segundo Barbosa. Os quatro elevadores estão com água no poço, mas não tiveram os motores afetados. Já a engrenagem na parte inferior da escada foi afetada, mas não sabe ainda a extensão de eventual dano ao equipamento. A dimensão do prejuízo geral do prédio e equipamentos vai ser apurada. Fachada externa terá reparo e paredes internas devem ser pintadas. Já obras que estavam sendo feitas, como no piso interno, deve ser feita avaliação para retomada.   
O presidente da Associação Comercial dos Permissionários do Mercado Público (Ascomepc), Rafael Sartori, já projetou que as perdas e com consequente demanda de investimentos pode chegar a R$ 30 milhões. Há muitas marcas que recém ingressaram no complexo, como a Zimmer, de petshop e itens veterinários, que já havia perdido tudo em incêndio em 2022 em ponto próximo ao Mercado. 
A retirada dos resíduos e lavagem das áreas internas das bancas será também com ajuda da Stihl, além de mais limpeza. "Vai ser um trabalho longo, mas queremos concluir o mais rápido possível", projeta o secretário. São mais de cem operações e mais de mil trabalhadores, diz Barbosa. O vereador  
A água chegou a 1,7 metro de altura agora, acima da cheia de 1941, que atingiu 4,76m. As paredes externas e internas ostentam as marcas marrons. Num dos principais acessos, pelo Largo Glênio Peres, está uma placa do registro de mais de oito décadas atrás.
A gestão do Mercado vai deixar parte da marcação atual para cravar ali o novo recorde, da enchente de maio de 2024. O vereador Ramiro Rosário (Novo), que foi um dos articuladores para a atuação da Stihl, comentou ainda que a ação de limpeza tem apoio também da ABF Developments, com trabalhadores e veículos, e da BR Rental Power, com geradores, já que não há energia no prédio. 

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