A notícia de que nesta segunda-feira (27) deve começar a contratação de crédito dentro do "Pronampe das cheias" por micro e pequenas empresas atingidas e arrasadas pelas inundações históricas no Rio Grande do Sul não causou alívio, mas uma onda de frustração. No Quarto Distrito, Zona Norte de Porto Alegre, e com parte da área (e empresas) ainda sob a água, empreendedores estão revoltados e marcaram protesto para esta segunda-feira (27).
A manifestação começa às 13h de segunda-feira, no encontro das avenidas Farrapos e São Pedro, em frente às agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, dois bancos escolhidos pelo governo federal para fazer os repasses de recursos.
Romeiro reforça ainda que há urgência dos recursos:
"Serão usados para a reconstrução, para colocar as empresas de pé, para comprar balcão, cadeira e computador e pagar salários. É para reabrir a empresa", reforça, lembrando que as linhas estão demorando. O fechamento e a inundação na Capital se intensificaram depois de 3 de maio. "Mais de 20 dias, tá tudo atrasado", critica o empresário.
"Tínhamos informações de que as condições de liberação (recursos) seriam mais vantajosas. O que está sendo apresentado, com previsão de contratação a partir desta segunda-feira, é completamente diferente", lamenta Romeiro.
Milhares de livros na calçada em avenida do Quarto Distrito mostram impacto da cheia em negócios. Foto: Livraria Santos/Divulgação
"O que eu vou fazer com R$ 150 mil? Com este dinheiro, não faço nem os meus móveis", revolta-se Jonatas Santos, dono da Livraria Santos, atingida pelas cheias no Quarto Distrito:
"Era uma coisa e o que está vindo é outra. O recurso tem de ser compatível com a realidade do que vamos precisar. O governo federal tem dinheiro para muitas coisas e agora que o Rio Grande do Sul está precisando oferecem esta palhaçada". Santos perdeu 80 mil livros e calcula prejuízo de R$ 1,3 milhão.
O presidente da entidade, criada há 15 dias para mobilizar os segmentos afetados pelos estragos e pela paralisação das atividades devido às cheias, diz que a linha prevê limite de crédito de até 60% do faturamento anual, mas com recursos limitados a até R$ 150 mil, aplicado a negócios com receita anual de até R$ 360 mil (microempresa) ou R$ 4,8 milhões (pequena empresa).
Já operações que faturam acima disso ainda não têm nada especificado e poderiam buscar linhas disponíveis com juros "exorbitantes nas atuais circunstâncias", diz o presidente da associação. "Não tem condições".
O dirigente, dono de uma empresa que vende uniformes e material promocional e que está ainda com o imóvel inundado, diz que, diante da notícia dos limites, muitos empreendedores estão avisando a associação que vão fechar na região.
"O volume de pequenos negócios que dizem que vão fechar as portas é assustador", avisa.
"Só na manhã deste sábado ouvi isso de 15 a 20 empresas em um trecho da avenida São Pedro, desde óticas, salões de beleza a bares. Só pequenos negócios que é a maioria de quem está no Quarto Distrito", alarma-se Romeiro, alertando ainda para os empregos que as empresas têm.
Outra dificuldade que já se antevê no acesso aos recursos é a condição das empresas de terem cadastro aprovado. "A maioria tem contabilidade fragilizada, está no SPC. Não vai nem conseguir chegar à porta do banco, quanto mais acessar o recurso", alerta Romeiro.
O segmento esperava outra conduta e mais limites de repasse dentro do Pronampe. Segundo Romeiro, a análise de crédito teria de ser flexibilizada (para dar conta de restrições como cadastro negativo e débitos de quem deve tributos), para dar acesso a todo que foam atingidos, liberação de valores "bem diferente" do que estaria agora disponível.
"Ouvimos que pode ter flexibilidade, mas isso tem de estar escrito, tem de estar claro". O presidente da associação diz que, sem as condições adequadas, muitas não vão buscar o crédito. A entidade está tentando levantar dados de prejuízos das empresas.
Ao comparar com o Pronampe da pandemia, Romeiro lembra há uma diferença crucial entre as duas crises:
"Durante a pandemia, os negócios ficaram fechados, mas não foram destruídos. O capital de giro era para abrir a porta e voltar a funcionar. Hoje não. A gente precisa reconstruir, manter postos de trabalho e repor estoques. E os valores são basicamente os mesmos".
VÍDEO: Primeira mobilização de empresários e comunidade do Quarto Distrito