"A última preocupação agora é com as lojas. Infelizmente, o que está perdido está perdido.” A frase é de Carlos Klein, dono da Via Condotti, com duas lojas inundadas em Porto Alegre e Canoas, que indica dois focos agora: as pessoas (muitos funcionários perderam tudo) e a ajuda a desabrigados.
“Depois vamos recuperar o patrimônio com muita garra, força e determinação”, projeta Klein. Para isso, o que será preciso? A crise atual é maior do que a da pandemia de Covid-19?
Dirigentes varejistas opinam e traçam as medidas que serão essenciais:
Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio-RS:
“Acolhimento aos atingidos é muito importante, mas não é suficiente para a recuperação. Se não tivermos recursos colossais a fundo perdido, o Rio Grande do Sul não se recupera rápido. Empréstimos e programas como Pronampe não são suficientes. Precisa capital de giro e R$ 100 mil a R$ 200 mil para micro e pequenas empresas remontarem os
negócios. Brasília vai ter de mostrar muita compreensão sobre isso”.
Vilson Noer, presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo:
“Os impactos são muito maiores do que na Covid-19. As pessoas ficaram em casa, mas mantiveram a renda e o emprego. Quando voltaram, encontraram lojas em condições de operar. Agora, além de fechar e perder vendas, varejos atingidos (maioria do Estado) não têm noção de como recomeçar. Prejuízos serão conhecidos após baixar a água. A colaboração é fundamental”.
Vitor Koch, presidente da Federação das CDLs-RS (FCDLs-RS):
“Haverá uma movimentação intensa no comércio, podendo acontecer o mesmo em todo Estado. São praticamente 400 cidades que precisam ser reconstruídas devido às cheias. Materiais de construção, mão de obra, móveis, tintas, materiais elétricos e sanitários serão os mais demandados na retomada. Mas tudo dependerá da capacidade de financiamento. Os governos estadual e federal precisam urgentemente criar um plano de financiamento ofertando crédito com juros zero e prazo de 24, 36 e 48 meses para pagar”.
Antonio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas):
”Os supermercados, junto com a indústria, estão fazendo de tudo para manter o abastecimento. A cada estrada desobstruída temos condição de fazer reposição de itens e dar segurança clientes de que os clientes vão encontrar produtos, mesmo que não das marcas que costumam comprar. A Agas e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) estão em um grande projeto para doar, nos próximos 60 dias, cerca de 100 mil kits para a população gaúcha mais necessitada. Vamos ajudar ainda na reconstrução de 150 lojas que foram inundadas, com apoio de fornecedores”.
Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista RS:
”A atual situação é muito pior do que na pandemia. Para voltar agora, precisa ter estrutura, que foi destruída. O custo de fornecimento de mercadorias terá muita elevação. São muitos fatores que vão afetar a reconstrução. Muitos lojistas voltam sem condição financeira, pois já haviam passado por cheias em 2023. Há temor de desemprego, que afeta a renda e a capacidade de gastar”.
Irio Piva, presidente da CDL-POA:
“A volta será gradual. Cada caso será diferente, mas temos uma cultura empreendedora e resiliente. Ainda estamos na fase de cuidar da segurança física, alimentar e psicológica das pessoas, mas, ao mesmo tempo, já estamos agindo para conseguir condições de viabilizar a retomada. Serão necessárias ações como isenção de impostos, mais prazos para pagamento e carência para novos empréstimos e para financiamentos ainda da pandemia”.
Arcione Piva, presidente do SindilojasPOA:
”A Covid-19 gerou mais perdas de vidas e prejudicou
segmentos específicos. As enchentes atingiram todo mundo, independentemente de ter mais ou menos recursos. Levantamentos prévios indicam que mais de 100 mil empresas foram parcial ou
totalmente afetadas. O prejuízo material é milhares de vezes maior. O Sebrae e as entidades estão
levantando as perdas para dimensionar as medidas”.