Um ícone na gestão do varejo brasileiro anunciou a aposentadoria, pelo menos do mundo de lojas e fluxo de vendas. O gaúcho José Galló, acionista da maior varejista de moda do País, a também gaúcha Lojas Renner, comunicou que vai deixar as atividades que ainda mantém como presidente do Conselho de Administração da companhia em abril, após 32 anos na rotina com a marca.
Do período total, 27 anos foram como diretor-presidente da companhia. A decisão foi comunicada na convocação da Assembleia Geral Ordinária (AGO) que será em 18 de abril e que define ocupantes de vagas do órgãos de decisão da companhia.
"A Renner é uma empresa admirável e tenho certeza que os próximos anos vão ser promissores", escreveu Galló, em sua carta de despedida, mesmo tendo pela frente um mês ainda de atuação.
O empresário, que foi decisivo nos momentos mais cruciais nas três décadas recentes da corporação - de venda de capital para grupos internacionais, como a varejista norte-americana JC Penney, abertura de capital e colocação da marca como a líder do setor de varejo de moda -, está há cinco anos no conselho.
O atual CEO da Renner, Fabio Faccio, comentou a saída do ex-presidente da companhia durante a teleconferência de resultados do quarto trimestre de 2023, na manhã desta sexta-feira (15).
"Ele fez uma transição planejada. Foram 32 anos de contribuições inúmeras e extremamente relevantes", destacou Faccio.
"Galló, tenha certeza de que o legado fica aqui e vamos ainda mais. Temos um time bastante consistente e de muita história. Temos certeza que vamos fazer com que a Renner atinja seu potencial máximo e vamos ter isso em breve", registrou o executivo, que sucedeu o atual presidente do conselho no comando executivo da companhia.
A Renner chegou à receita líquida de vendas de R$ 11,7 bilhões em 2023. O valor de mercado alcançou R$ 16,8 bilhões em 31 de dezembro do ano passado, segundo dados do balanço.
A companhia, dona das marcas Renner (mais veterana), Youcom, Ashua e Camicado, no front físico, e
Repassa, maior brechó digital do País, vem enfrentando desafios, como a concorrência das plataformas de e-commerce asiáticas, quase sem tributação, e peço de ser gigante, o que impôs ajustes em 2023, com fechamento de lojas, redução de preços e restrição em operações com cartão próprio.
Sobre o pós-Renner, Galló fez a justificativa no comunicado apresentado na convocação: "Tomei a decisão pessoal e planejada de não apresentar meu nome para um novo mandato. Chegou o momento em que desejo uma agenda com mais espaço para me dedicar a interesses pessoais e acompanhar projetos empresariais e sociais da minha família".
O ex-diretor-presidente da varejista pontuou o que considera mais marcante em sua trajetória no negócio. "Ao longo dessas três décadas, dediquei-me integralmente e com paixão a conduzir a transformação da Renner, de uma rede com oito lojas no Rio Grande do Sul, para um ecossistema de moda e lifestyle, com mais de 650 lojas no Brasil, Argentina e Uruguai". O mercado uruguaio teve a primeira unidade em 2017, e o
argentino, em 2019.
Galló lembrou dos 24 mil colaboradores diretos, "com impacto indireto em mais de 100 mil pessoas", do quadro. Ele dirigiu um agradecimento "especial" às pessoas que fazem da Renner uma empresa que orgulha a todos nós”, ao reconhecer a qualidade do capital humano da gigante.
Outro conselheiro, Thomas Herrmann, também deixará a vaga de conselheiro, que ocupou por sete anos.