O melhor varejo do mundo nesta época do ano no Hemisfério Sul é o que rola na beira do mar. Com os pés na areia e a água geladinha batendo todo tempo, os experientes vendedores têm muito a ensinar para quem, como se diz na gíria do varejês, "tá com a barriga no balcão".
O melhor varejo do mundo nesta época do ano no Hemisfério Sul é o que rola na beira do mar. Com os pés na areia e a água geladinha batendo todo tempo, os experientes vendedores têm muito a ensinar para quem, como se diz na gíria do varejês, "tá com a barriga no balcão".
Ok, hoje a barriga é apenas metáfora, porque os dedos percorrem clientes no WhatsApp ou o vendedor se movimenta pela loja. Mas, na beira-mar, duas varáveis impulsionam os ambulantes: bom humor e tempo para faturar, que começa em dezembro e vai até março no litoral gaúcho. É maratona mesmo.
"Ganho dinheiro e ainda faço academia", diz o corretor de imóveis Claudio Cavalari, que, no verão, vende drinques na praia. "É um liquidificador sustentável", descontrai Cavalari, enquanto maneja mecanicamente o aparelho.
O corretor ganha por dia R$ 1,2 mil a R$ 1,3 mil "limpos", dinheiro usado para pagar a faculdade de Direito. A coluna quer saber o segredo para ter a receita com o carrinho Ilha dos Lobos: "O sucesso é usar os temperos invisíveis: carinho, atenção e amizade. Quanto mais eu servir melhor o próximo mais futuramente serei servido".
Cliente do corretor, a professora Maria Lúcia Seibel, de Salto do Jacuí, chancela: "A caipira dele é maravilhosa e ele é muito simpático". Mas o que decide mesmo, Maria Lúcia admite: "É o capricho e a qualidade do drinque".
Vendedoras que se deslocam nesta época do ano para as areias de Torres, a dupla Kamilla Rios, de Goiânia, e Daiane Gomes, da mineira Araçuai, driblam com bom humor uma realidade que também se verifica em lojas "em terra". "O povo está sem dinheiro. Viemos com os mesmos preços do verão passado ou até mais baixos", diz Kamilla.
As "concorrentes" trocam produtos para atender a algum pedido de clientes. "As vendas estão boas, mas foram melhores no ano passado", anota Daiane, há 10 verões descendo ao Sul para trabalhar. "Tem menos gente na praia", constata a mineira.
Cauã Gabriel Silva da Silva, de Porto Alegre, há três temporadas na areia vendendo caipirinha, reage a quem diz que as vendas não estão boas: "Quem diz é porque não sabe vender". E já engata dicas para melhorar o caixa:
"É só chamar o cliente". "Ele é simpático e atencioso", comenta a lojista em Dom Pedrito, no interior gaúcho, Salete Fontoura. Silva lista outros trunfos: "É só atender bem as pessoas e não fazer cara feia".
Se não for assim, ninguém compra". O coordenador de varejo do Sebrae-RS, Fabiano Zortéa, que veraneia em Torres, considera a praia uma "areia fértil" e mostra que "a demanda pode estar muito além do estabelecimento".
Mesmo na beira-mar, eles vão atrás do fluxo e buscam compreender as necessidades. dos consumidores. "Quem tá com o pé na areia tá sempre passando pelo guarda-sol, conhece os hábitos das pessoas e sabe até o horário de oferecer o produto. Isso é personalizar o atendimento e agregar serviços mais adequados, de acordo com cada perfil", arremata Zortéa.
Nunca Nova York, palco da NRF Retail's Big Show, um dos maiores eventos globais de inovação no varejo, esteve tão perto da praia de Torres. Na última edição da NRF, em janeiro, com cobertura da coluna Minuto Varejo, personalização, conhecer o fluxo e preferências dos consumidores e encantar/gerar experiência estiveram em alta. Na areia, os ambulantes Cavalari, a dupla Kamilla e Daiane e Cauã já aplicam as mesmas táticas.