O que determina a instalação de novos varejos? Além de acertar a localização e ter as condições conjunturais — leia-se, recursos, custo mais baixo de capital e maior disponibilidade de renda e emprego para mover o consumo —, empresas e profissionais que estão na ponta de estudos e desenvolvimento de projetos e futuros empreendimentos comerciais indicam que conveniência, estar no caminho e na jornada dos clientes e ainda interagir com outras operações de vizinhança, como residencial, pesam cada vez mais nas decisões.
Gabriel Bachilli, um dos sócios do escritório de arquitetura e design Evo2B, destaca que o segmento de alimentação está sempre em alta e em busca de áreas externas, como open malls. "Mas mais importante que isso é o olhar estratégico da criação de empreendimentos acolhedores, convidativos, diferenciados. O investimento em experiência é visto como essencial para o sucesso do projeto. Vai muito além do olhar de construir para alugar", lista Bachilli. Foco em custo-benefício está atrelado também à alta nos custos da construção que disparou nos últimos três anos. "A decisão tem de combinar melhor resultado e mais eficiência", traduz o sócio da Evo2B.
Marcelo Gruner, sócio-diretor da construtora Pertho, diz que a demanda por projetos cresceu nos últimos meses no varejo. "Redes contratam consultoria para estruturar o negócio e conseguir funding, usando o modelo 'built to suit'", explica o sócio-diretor da Pertho. Um dos desafios é buscar pontos que deem mais segurança e conveniência aos empreendimentos. "A ideia é conceber projetos multiuso, como as fachadas ativas", diz Gruner, sobre parte de área residencial para lojas.
João Lopes de Almeida, diretor da PLDA, empresa que rastreia e assessora contratação de pontos comerciais para diversas marcas e segmentos, acredita que o ambiente está favorável para mais operações e cita que, na largada do ano, crises de grandes redes varejistas, como Americanas e Tok Stok, geraram incertezas. "Mas os empreendedores já se organizaram e quem mais sustentou o varejo até agora em 2023 não foram as megalojas, mas as unidades satélites", observa Almeida. Satélites são unidades de menor porte e muitas com característica regional. O executivo cita que, mesmo com instabilidades internas e externas (de pandemia a guerras), o varejo no Brasil cresce 6% até setembro em mesmas lojas. "Tiraram leite de pedra", valoriza Almeida, sobre as empresas, ressaltando que há segmentos com dificuldades, como vestuário e eletromóveis. Outro detalhe: as pessoas buscam mais promoções e estão gastando mais com lazer.
Olhar estes indicadores e desempenhos setoriais é decisivo para lojistas entenderem as dinâmicas de comportamento para modelar novos negócios, atenta o diretor da PLDA. "As lojas físicas precisam estar no ponto certo, de acordo com a jornada do consumidor. É preciso colocar o cliente no centro", alerta o executivo. "Uma loja precisa oferecer economia de tempo, integração com digital e conveniência", resume Almeida. "Por que tem tanta farmácia? O crescimento não é de farmácia, mas pela conveniniência, e o setor de farma se ligou nisso", associa o diretor da PLDA. "O que faz a expansão é a conveniência. É o 'one stop shop' (uma parada de compra). O consumidor resolve a vida dele no mesmo local antes de voltar para casa", resume Almeida citando projetos como o Germânia Mall, na zona Norte, e Pátio Guadix, no Sul da Capital, que foram concebidos para entregar conveniência.
Comércio lidera licenças de novos empreendimentos em Porto Alegre
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Imóveis são construídos em áreas com grande fluxo, como na avenida Wenceslau Escobar, Sul
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Projetos de novos empreendimentos comerciais em diversas frentes lideram os licenciamentos em Porto Alegre. De janeiro a agosto de 2023, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade (Smamus) registrou 264 projetos ligados a comércio e serviços. São mais de 400 mil metros quadrados para serem implantados ou estão em imóves prontos com reforma e ampliação. Somente projetos atacadistas e varejistas são 69, com mais de 40 mil metros quadrados. Medidas adotadas desde o começo do ano, com simplificação de exigências em projetos de baixo e médio impacto, agilizaram a tramitação e liberação pelas áreas técnicas da pasta. Por isso, observa-se que pontos com farmácias, por exemplo, despontam rapidamente. Também estão ligadas à conveniência que ganha força nos varejos.
No total, são 345 empreendimentos não residenciais, somando 472.251,55 m² e previsão de R$ 3,1 bilhões em aportes. Segundo a Smamus, 227 representam novas construções, enquanto 118 correspondem a reformas, aumento e diminuição de áreas. Um aspecto mapeado é da localização dos empreendimentos por bairros. O Partenon lidera, com 35 deferimentos, seguido por Sarandi (24), Floresta (11), Passo D'Areia (11), Menino Deus (10), Moinhos de Vento (10) e Navegantes (10). No ranking por área construída, o Partenon também lidera as aprovações, com 117.728,73 m², seguido de Floresta (56.477,95 m²), Independência (52.585,86 m²), Anchieta (45.119,29 m²), Boa Vista (34.787,70 m²), Sarandi (19.486,53 m²) e Passo das Pedras (17.247,80 m²).