"É uma pena. As lojas que a gente gosta ficam fechando. É uma pena.” O desabafo foi feito pela cliente Lana Rosa, que cruzou na esquina da avenida Osvaldo Aranha com rua Ramiro Barcelos, no bairro Bom Fim, e parou diante de porta e vitrines fechadas. “Fechou?”, perguntou Lana à jovem sentada atrás do vidro do acesso principal que, por mais de 50 anos, manteve-se aberto no horário comercial.
A jovem confirmou: a Von Von Modas, de roupas femininas e que completaria 52 anos em 2024, funcionou até a última quarta-feira (11), antes do feriado de 12 de outubro. A marca, onde a dona de casa que mora no bairro Petrópolis, não muito longe da esquina, encontrava vestidos e blusas, fechou por decisão familiar. "Achei péssimo", acrescentou a cliente agora órfã.
A proprietária Rosane Andrade resolveu encerrar o negócio porque não queria mais seguir com o estabelecimento fundado pelo marido Samuel Motyl, de origem judaica e que faleceu no começo de 2021, com mais de 80 anos. A família, dona do prédio onde ficava a marca, não achou sucessor para prosseguir com a gestão, apurou a coluna Minuto Varejo.
A história da Von Von foi retratada em reportagem do Jornal do Comércio dentro da série Histórias do Comércio e Serviços, publicada em 2013 no caderno Empresas & Negócios. Motyl contou à reportagem como foi manter o varejo em períodos de bonança e crises. A marca chegou a ter uma filial no Centro Histórico, além de um segmento de moda infantil, ao lado da operação principal.
Sobre a origem do curioso nome da loja, o comerciante revelou, na época, ao JC: Von Von foi uma homenagem a um amigo de infância que tinha o prefixo Von no sobrenome.
Ponto da Von Von Modas terá outro comércio em breve
Sai de cena a loja cinqüentenária e outro varejo entrará em breve no mesmo ponto. A família já alugou o espaço, com térreo e sobreloja. A previsão é de abertura do novo estabelecimento até janeiro. Mas o nome do futuro ocupante não foi revelado por questão de sigilo contratual.
Da Von Von, restam manequins, araras e alguns itens do mobiliário que ainda estão no interior da antiga loja. A entrega do ponto tem de ser feita até 30 de outubro. Os donos informam que interessados em comprar algum item podem entrar em contato pelo Instagram @vonvonmodasltda. O estoque de roupas já foi vendido. Pelo menos cinco funcionários atuavam na empresa até o encerramento.
Depois de fase de fechamentos, polo comercial vive repovoamento
A região comercial das avenidas Osvaldo Aranha e Protásio Alves tem cada vez menos nomes que por décadas estavam no caminho dos consumidores, entre residentes do bairro Bom Fim e vizinhança. Nos anos recentes, antes mesmo da pandemia de Covid-19, lojas de móveis foram paulatinamente fechando e hoje são escassas no trajeto, principalmente entre as ruas Fernandes Vieira e Barros Cassal, antigo polo do segmento na Capital. Também houve saída de marcas de confecção.
Mais para o lado da Protásio, a
rede Colombo fechou unidade em maio de 2022, alegando falta de segurança. Na pandemia, as fachadas com cortinas baixadas e placas de aluga-se se multiplicaram na região.
Desde 2022 e mais intensamente desde o primeiro semestre deste ano, os imóveis voltaram a ganhar inquilinos, entre farmácias, cafés e confeitarias, academias, lojas de colchões e algumas confecções e bijuterias, com a chegada de comerciantes chineses, muito comuns no Centro Histórico. Os asiáticos abriram a primeira unidade em frente ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde era uma filial da Panvel, que se mudou para um número quase ao lado.
Outra operação tradicional de vestuário deixou a região no ano passado. A
Habitue Modas, que ficava na esquina da rua Felipe Camarão com Osvaldo Aranha, fechou. No lugar,
abriu uma operação da franquia gaúcha The Waffle King.