O Rio Grande do Sul pode ter tido quebra de safra de grãos por dois anos consecutivos, mas tem um tipo de negócio que não teve frustração na colheita e não para de se multiplicar: o de atacarejos.
Pelo acompanhamento da coluna Minuto Varejo, que vem noticiando novos empreendimentos, são pelo menos 26 novas lojas entre construção e instalação em fase final para 2023 e plano ou projeto de erguer unidades de grupos supermercadistas gaúchos e catarinenses.
Oito grifes do setor, seis delas gaúchas entre as 10 maiores pelo ranking da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), têm portfólio firme de expansão, com localidades mapeadas e parte em construção ou prestes a abrir, casos da terceira loja da bandeira Ecomix, da rede Peruzzo, de Bagé, que estreia até o fim de agosto em Rio Grande.
Até dezembro, serão inauguradas filiais do Desco, do Imec, do Fort Atacadista, do catarinense Pereira, do Macromix, do Unidasul, do Stok Center, da Comercial Zaffari, e do Vantajão, da rede Andreazza, a maior da Serra e que está entrando em Porto Alegre. A lista de redes que agregaram o formato em suas operações tem ainda Companhia Zaffari, a maior do setor no Estado, e grupo Passarela, de Santa Catarina.
"O atacarejo é um modelo autenticamente brasileiro, não tem em outro lugar do mundo, tem alguma proximidade com redes norte-americanas", diz o professor de marketing e coordenador das áreas de Gestão e Negócios da Fadergs, Diogo Simões Pires.
O trunfo é combinar preço mais baixos e volume de atacado, atendendo tanto consumidor final quanto os chamados transformadores (lancherias, pequenos restaurantes e outros tipos de negócios mais familiares) e mercadinhos de bairro.
"Com um detalhe: o dono do estabelecimento compra itens para o negócio e para a família", cita Pires.
A conjuntura, com inflação e juros mais altos, ajudou a turbinar também a opção na jornada de compras das famílias.
"Caiu no gosto e no bolso do consumidor pelo custo-benefício", resume o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo.
"É o varejo de pobre", citou o gaúcho José Roberto Müssnich, um dos precursores do modelo, que implantou mais de 300 lojas em 15 anos da bandeira Atacadão, ao alertar, em evento na Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA), sobre a margem do negócio ante a agregação de mais serviços, como padaria com pão feito no local e açougue, com cortes na hora.
"Quando tem sofisticação, deixa de ser raiz e passa a ser modelo híbrido", ponderou Müssnich, citando que a margem deve ficar acima de 16%, para compensar e tornar o atacarejo melhor negócio que hipermercado.
Com tanta expansão de unidades de um formato que se disseminou antes em outras regiões do País do que no Estado, o professor da Fadergs coloca em questão a capacidade de absorção do mercado consumidor.
Será que já não começa a ter ou vai ter muita loja em algumas regiões ou zonas das cidades?
Exemplo: Stok Center e Fort terão lojas quase vizinhas na Zona Norte de Porto Alegre. Na mesma região, mas em outro ponto, o Passarela vai erguer loja nas proximidades onde tem Stok Center e Atacadão, além de hipermercados Carrefour e Bourbon (Zaffari).
"O mercado está aquecido e vai ficar muito inflacionado. Vai ter muito atacarejo e não sei se todos vão se sustentar, sendo que alguns já começam a invadir o mercado de supermercado de bairro", observa o professor Fadergs.
"Nosso modelo de atacarejo não é o mais simples, tem atendimento no balcão e padaria. Nosso pão é o melhor", define o vice-presidente da rede Peruzzo, Lindonor Peruzzo Junior, garantindo que a margem segue atrativa, acima de 16%. "Segue o mercado."
Peruzzo Junior admite que serviços que as áreas demandam mais atendimento, leia-se mão de obra no balcão, encarecendo o formato. Mas o vice-presidente da rede de Bagé diz que é o nível de serviço que os gaúchos buscam. "A verdade é que fidelizamos o cliente com pão fresco e qualidade da carne basicamente de origem gaúcha", aposta.
A terceira loja da bandeira abre onde era um Maxxi Atacado, que fechou após o Carrefour assumir, pois o grupo francês entendeu que não seria adequado manter, ante outras operações próprias na cidade. O Ecomix tem 2,2 mil metros quadrados de área de venda, seguindo um padrão "mais compacto", conceitua Peruzzo Junior.
"É um duplo foco, para abastecer pequenos negócios e a vizinhança que quer resolver a compra para casa e não vai querer jornada de mais tempo dentro na loja", resume o supermercadista.
Safra de novas lojas
Grupos e bandeiras com unidades em construção ou planejadas:
Andreazza (de Caxias do Sul, RS): Vantajão
Cidades: Porto Alegre e São Leopoldo (em construção)
Companhia Zaffari (de Porto Alegre, RS): Cestto
Cidades: Porto Alegre (dois - um em construção, na zona Sul) e Canoas, Novo Hamburgo e São Paulo (plano)
Comercial Zaffari (de Passo Fundo, RS): Stok Center
Cidades: Alvorada, Esteio, Porto Alegre e Soledade (construção) e Cachoeirinha, Lajeado, Santana do Livramento e Venâncio Aires (plano/projeto)
Imec (de Lajeado, RS): Desco
Cidades: Campo Bom e Sapiranga (em construção)
Passarela (de Concórdia, SC):
Via Atacadista
Cidades: Lajeado e Porto Alegre (plano/projeto)
Pereira (de Itajaí, SC):
Fort Atacadista
Cidades: Caxias do Sul e Viamão (construção e implantação) e Porto Alegre, Gravataí e Novo Hamburgo (plano/projeto)
Peruzzo (de Bagé, RS): Ecomix
Cidades: Rio Grande (implantação)
Unidasul (de Esteio, RS): Macromix
Cidades: Imbé e Taquara (em construção)