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Minuto Varejo

- Publicada em 03 de Agosto de 2023 às 16:46

Redução da Selic beneficia setores do varejo que dependem de crédito

Corte do juro não é transferido imediatamente a consumidores com contas ou que vão gastar

Corte do juro não é transferido imediatamente a consumidores com contas ou que vão gastar


PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Patrícia Comunello e Pedro Carrizo
Patrícia Comunello e Pedro Carrizo
O corte no juro básico da economia brasileira deve beneficiar segmentos do varejo que dependem mais de crédito, e de preferência mais barato, além de gerar um alívio futuro na inadimplência, pela custo menor de taxas. Os dois aspectos foram citados pelo economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, ao analisar a redução em 0,5 ponto percentual na Selic, definida pelo Banco Central.

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Mas Frank faz a ressalva rotineira sobre a decisão dessa quarta-feira (2) que alterou a taxa: o impacto na economia real, leia-se na vida das empresas e das pessoas, ainda vai demorar.
"Estudos mostram que o impacto cheio de política monetária leva de dois a três semestres para se materializar na economia real. Ajuda no curto prazo, mas os efeitos serão observados em meados de 2024", explica o economista.
Não há, atenta Frank, um repasse imediato da influência da mudança de patamar - a Selic passou de 13,75% ao ano para 13,25% ao ano -, nos contratos de empresas e consumidores que têm previsão de juros.
Os setores que mais aguardam condição de taxas para financiamento são os de venda de veículos, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos. Estabelecimentos desses produtos vêm tendo queda, na média, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) para o Rio Grande do Sul nos meses recentes.  
"A redução (da Selic) é bem-vinda para setores mais sensíveis ao comportamento de crédito, ao contrário daqueles mais afetados pela variação da renda", contrasta Frank. Na frente da renda, estão setpres como de alimentação e itens de consumo mais imediato. 
O efeito da nova taxa básica para a porção da população que não consegue pagar as contas ainda demora, mas, no médio prazo, vai mexer em correções, reduzindo estoque de passivos. "Reduz o que está em patamar elevado", associa o economista-chefe, citando que a decisão de corte da Selic, combinada ao programa Desenrola, lançado pelo governo federal para repactuar débitos, gera ambiente que pode mexer na fatia de quem não está conseguindo honrar compromissos.
A CDL divulgou nesta quinta-feira (3) o Indicador de Inadimplência de julho, com dados da Boa Vista SCPC, mostrando queda na fatia com atrasos. Em junho, a taxa havia batido recorde desde fevereiro de 2023, quando a serie começou a ser apurada. No mês passado, o indicador ficou, no Brasil, em 30,6%, 0,15 ponto abaixo de junho, e, no Rio Grande do Sul, em 30,8%, 0,09 ponto menor, mas Porto Alegre teve alta leve de 0,02 ponto percentual, chegando a 34%.   
Frank observa apenas que o Desenrola pode criar, no médio e longo prazo, "comportamento inadequado das pessoas que passam a esperar ações de parcelamento e acabam tomando riscos desnecessários no mercado de crédito". 
"O programa não ataca os desequilíbrios macro e microeconômicos que explicam os juros altos e não afeta a educação financeira", completa Frank, que considera frágil o funcionamento do Desenrola nesta questão de gestão dos gastos, pois não vincula o acesso a linhas a um controle mais rigoroso das contas das famílias. 

Lojistas estavam ansiosos pela redução

O presidente do Sindilojas Porto Alegre, Arcione Piva, lembrou que o varejo aguardava "ansiosamente pela redução", mesmo que os juros ainda estejam muito altos, completou.
"As taxas são elevadas principalmente para o pequeno comércio, que tinha taxas de 2% ao ano no Pronampe, contratado na pandemia, e agora passou a mais de 13%", compara Piva. "É positivo o corte, pois é uma sinalização de redução. Anima o setor para começar a fazer investimentos e tem efeito para o consumo", vincula o dirigente.
Piva também é realista, pois não espera taxas próximas a 2% reais (descontada a inflação) ao ano, "mas abaixo de 10% já seria bom", diz.
"Mas não esperamos que isso ocorra em 2023. Em 2024, apostamos que a economia volte a crescer e tenha mais consumo. O comércio será um dos primeiros a se beneficiar", projeta Piva.