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Atacarejo mudou, mas preço é decisivo, alertam varejistas
Modelo de loja vive expansão, após cair no gosto dos consumidores gaúchos
O atacarejo mudou muito, mas o preço, trunfo do modelo baseado em custo mais baixo da operação, ainda é decisivo para vender mais. O recado foi dado por três especialistas em varejo de supermercados durante nova sessão do MenuPOA, promovida pela Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA), nesta terça-feira (11) na sede da entidade na Capital.
A coluna Minuto Varejo mediou o painel, ao lado da presidente da ACPA, Suzana Vellinho, que buscou respostas à proliferação de atacarejos no Rio Grande do Sul.
Redes gaúchas como Comercial Zaffari (Stok Center), Unidasul (Macromix) e Imec (Desco) mantêm a abertura de unidades. O líder do setor, a Companhia Zaffari, estreou no setor este ano, com a bandeira Cestto. A rede Asun reforçou o segmento, comprando unidades da ex-bandeira Maxxi Atacado. Dados indicam que mais de 50% da comercialização supermercadista é registrada em atacarejos. Players de Santa Catarina, como grupo Pereira (Fort Atacadista) e Passarela (Via Atacadista) também brigam no mercado gaúcho.
"Caiu no gosto do consumidor e no gosto do bolso, custo-benefício é tudo", resume o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antonio Cesa Longo, que atribui a rápida adesão das redes ao tipo de loja a um processo de renovação do setor, que busca menos custos para ser mais competitivo.
O dirigente e dono da rede Apolo, de Bento Gonçalves, observa que o modelo vive forte expansão nos últimos dois anos, mas que o ritmo das vendas não segue o mesmo nível este ano. Mesmo assim, o ex-presidente do Atacadão, do grupo Carrefour, e hoje consultor do setor, o gaúcho José Roberto Müssnich, cita que o faturamento das lojas este ano está em 16% a 17%.
Müssnich, que saiu em 2021 da linha de frente do Atacadão após liderar por 15 anos uma forte expansão da bandeira pelo País até chegar a mais de 300 unidades, falou em transmissão em vídeo direto de Lisboa, onde reside.
"Mas não basta só colocar o nome de atacarejo, pois o consumidor está atento aos preços", avisa o ex-CEO do Atacadão. Entre serviços e até mix que acabam flexibilizando o modelo, tornando os custos mais altos e comprometendo a fama de "varejo de pobre", estão áreas de perecíveis, bebidas, padaria e açougue. "Quando tem sofisticação, deixa de ser raiz e a ser modelo híbrido", contrasta.
Em média, o valor dos itens nas unidades que unem volume de atacado e serviço de loja de supermercado ao consumidor é 15% mais baixo frente a lojas de vizinhança ou hipermercado, que têm mais serviço. Mas já foi entre 20% a 25%, comenta o diretor-presidente do grupo Imec, Eneo Karkuchinski. A rede deve ganhar mais duas filiais este ano, desta vez no Vale do Sinos.
Karkuchinski citou pesquisas de mercado que indicam que de cada nove visitas a supermercados, três são em atacarejos. "O atacarejo caiu no gosto porque tem custo menor. O giro financeiro é muito bom para gera eficiência. É um modelo justo", opina o diretor-presidente do Imec, com sede em Lajeado.
Na competição com cada vez mais redes que se rendem ao tipo de loja, o executivo aposta em diferenciais nas lojas, que focam em preço, mas em atendimento. Ele cita que a rede trabalha com média de 6,5 mil itens à venda. "A proposta de valor é trabalhar com simplicidade e economia", resume Karkuchinski, citando que a rede teve alta de 135% na receita nos últimos quatro anos, desempenho puxado pelo elenco do Desco. "Hoje 70% da receita do nosso negócio vem dos atacarejos", contabiliza o diretor-presidente.
Uma das razões dessa redução da diferença é a sofisticação que o modelo vem ganhando, muito para atrair mais segmentos de consumidores. Cerca de 70% da clientela das lojas é de consumidor final, Müssnich. "O modelo precisa dos dois clientes: do final e dos comerciantes", avisa o consultor.
"Hoje o atacarejo assumiu o papel que o hipermercado tinha anos atrás, só que com mix mais reduzido", comparou Müssnich, lembrando que o modelo surge e se firma no Brasil. "Era o varejo de pobre", lembra o consultor, sobre como as lojas eram chamadas. Isso foi há mais de 20 anos. O ex-CEO do Atacadão citou que o segmento segue com taxas altas de crescimento em vendas, de 16% em 2023.