"Não queremos ser apenas um mercado”, avisa Arthur Bolacell, um dos sócios-fundadores do Mercado Brasco, que fica em Porto Alegre. “Queremos ser a sala de estar do bairro onde estamos”, completa Bolacell, agregando um propósito que ganha cada dia mais sentido na operação, que estreou em 2012 no bairro Moinhos de Vento, como um mercadinho despretensioso.
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Mesmo assim, a marca já foi destaque do ranking da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) dois anos seguidos pelo maior crescimento (37% em 2021) em redes com receita de até R$ 50 milhões. Em 2022, dados obtidos pela coluna Minuto Varejo com a Agas, a marca faturou R$ 15 milhões, com avanço de 39% em reação a 2021.
Hoje são quatro unidades - dois Mercado Brasco (rua Florêncio Ygartua, 151, e no Viva Open Mall, perto do Shopping Iguatemi), Espaço Brasco (rua Vasco da Gama com Fernandes Vieira, bairro Bom Fim) e Café Brasco (Instituto Caldeira), que somaram aporte de R$ 4 milhões. Cerca de 80 pessoas estão envolvidas com a rede.
Espaço Brasco, aberto em 2020, virou modelo da operação unindo ambiente e atração de público. Fotos: Isabelle Rieger/JC
O varejo já mudou bastante e tem como modelo mais recente a loja no coração do Bom Fim. Quem passa pelo Espaço Brasco, onde por décadas foi a locadora Espaço Vídeo, é atraído pelo movimento intenso. Na festa de 10 anos da marca, em 2022, a região chegou a atrair 8 mil pessoas.
A loja é resultado do que Bolacell viu em 2020, em Nova York, em visitas técnicas da comitiva gaúcha durante a NRF Retail’s Big Show. Lá, ele conheceu o modelo de foodhall. No mesmo ano, nasceria a unidade no Bom Fim.
O Espaço Brasco abriu unindo ambiente (com gôndola de mercadinho, padaria, cafés, balcões com opções de comidinhas e chope) e experiência.
"Nossa briga não é com grandes redes e em preço, mas com marca própria, com produtos que desenvolvemos como curadores junto a marcas em café, doce de leite, cerveja, entre outros", lista o sócio-fundador. A loja inovou ao abrir espaço para produtos inclusivos, como a paçoquinha com descrição em Braille da marca Guimarães.
“Nosso sonho é implantar o modelo da Vasco, que é uma esquina icônica, em outros pontos", diz Bolacell, como plano dele e do sócio Gabriel Drumond.
Falando em inspirações, os dois sócios vão este mês aos Estados Unidos, para acompanhar a NRA, um dos maiores eventos de gastronomia focado em restaurantes do mundo, em Chicago, e dar uma passada para ver novidades em Nova York.
O Espaço Brasco une mercado, café, comidinhas, sofás e mesinhas (tudo que tem a ver com a sala de estar) e coworking. O fluxo é permanente de manhã, tarde e noite.
“Queremos fazer com que o bairro abrace a nossa loja e precisamos estar onde tem fluxo”, comenta o sócio-fundador.
Vizinhança frequenta a esquina, onde foi a Espaço Vídeo, em diversos momentos do dia e da noite
Para este ano, está definida a abertura da quinta loja da rede. O destino do novo ponto não foi escolhido, mas deve ser Auxiliadora, Bela Vista, Moinhos de Vento ou Petrópolis, regiões que concentram grandes empreendimentos que vão gerar o que o Brasco mais busca: fluxo.
O quinto ponto deve abrir caminho para outra novidade: a adoção de Brasco como marca, unificando bandeiras. Hoje são três tipos - os dois mercados, o Espaço e o Café Brasco. Bolacell comenta que a virada da chave ainda está sendo pensada por ele e o sócio. Não vai ser só nova identificação na fachada. O conceito, mix e ambiente consagrados na operação do Bom Fim devem ser incorporados pelos demais.
Como o Mercado Brasco começou
O Mercado Brasco abre em 2012 em meio a atividades da faculdade de Administração na ESPM dos fundadores.
"Viemos, eu e meu sócio, do interior para fazer faculdade na Capital, onde conheci o Gabriel. Os estágios não nos agradavam. Tínhamos 19 a 20 anos e decidimos, então, abrir um negócio", recorda Arthur Bolacell.
"Se errarmos, está tudo bem. Abrimos no meio do graduação. Ficamos dois anos abrindo e fechando loja, indo na Ceasa (comprar hortigranjeiros), fatiando frios e fazendo pão. Aprendemos exatamente o que os empreendedores sofrem na operação", valoriza o sócio-fundador. "Pegamos esta bagagem."
Outro detalhe na decisão da dupla, que chegou a ter mais dois sócios na largada.
Ex-colegas de faculdade, Drumond (esquerda) e Bolacell se dividem na gestão, atuando frentes diferentes. Foto: Luiza Prado/Arquivo/JC
"Abrimos o Brasco para ser uma rede. Abrir, contratar pessoas e crescer. Em 10 anos, aprendemos muito sobre varejo, conceitos e processos. Contratamos boas pessoas", enumera.
Para tocar a rede, os sócios se dividem para atuar de acordo com o perfil de cada um. Gabriel Drumond fica mais com a formação de lideranças (equipe) e planejamento, e Bolacell se dedica a ações de comercial e marketing.
"Nos completamos e somamos bastante. Sou mais de curto prazo, mais radical, e Gabriel mais de estratégia", resume.