A escalada do número de moradores com dívidas em atraso está assustando os varejistas. O tom da divulgação dos novos dados do Indicador de Inadimplência CDL Porto Alegre, liberados nesta segunda-feira (8) ficou claro: "nunca tantos gaúchos, foram 54 mil ao todo, entraram para o grupo de inadimplentes em um só mês", frisou a entidade na nota sobre os indicador de abril.
Chamou a atenção - e por isso o tom de alerta da CDL-POA, que gera o indicador com base em dados do sistema de análise de crédito da Boa Vista SCPC -, que o salto da taxa foi maior, frente aos primeiros meses do ano que vinham até mesmo com certa estabilidade.
No Estado, a taxa passou de 30,2% em março para 30,8% no mês passado, elevação de 0,6 ponto. Na Capital, os débitos passaram de 33% da população para 33,7% entre os dois meses passados, mais 0,7 ponto. É a maior elevação desde que a série passou a ser feita em fevereiro do ano passado.
Em abril de 2022, a taxa era de 29,2% no Estado, ou seja, agora se tem alta de 1,6 ponto percentual ou 5,5%. Na Capital, o indicador estava em 31,3%, com elevação de 2,4 pontos percentuais ou 7,7% na taxa.
Foram mais 54,6 mil gaúchos que passaram a ter algum tipo de limitação de crédito, cheque ou protesto, informa a CDL-POA. São mais 8,4 mil porto-alegrenses entrando na restrição que impede novas compras a prazo, por exemplo, o que impacto o comércio. A estimativa é que 2,7 milhões de adultos estejam negativados no Rio Grande do Sul e outros 392,7 mil em Porto Alegre, diz a entidade.
As razões para o quadro se mantêm no que tem sido uma constante desde o segundo semestre de 2022 e estão ligadas a juros básicos que continuam elevados. "Além de não haver projeção de cortes da taxa Selic no curto prazo, quaisquer efeitos de mudanças na política monetária, como o início de um ciclo de redução dos juros básicos, demoram de dois a três trimestres para se materializar efetivamente na economia real", pondera o economista-chefe da CDL-POA, Oscar Frank, na nota da entidade.
Até mesmo uma deflação de preços em alguns segmentos ou menor elevação, Frank reforça que esse movimento "deve ocorrer de maneira lenta e gradual". O economista-chefe acredita que o IPCA, índice oficial de inflação e usado pelo governo para definir a política econômica incluindo rumos do juro, pode fique acima de 2022. Um dos motivos é que, ano passado, houve a redução dos tributos sobre combustíveis, que voltou ao patamar anterior.
Frank elenca mais ingredientes para segurar consumo e também gerar mais dificuldades para pagar contas ou honrar outros compromissos. "Os desdobramentos da estiagem sobre a safra de grãos em nível regional, a queda da demanda reprimida pelos segmentos que mais sofreram com a imposição do distanciamento social e a diminuição da poupança acumulada desde o começo da pandemia", lista o economista da CDL-POA.
Para os próximos meses, Frank vê como positivas, para amenizar parte do problema, mas não resolver, a concessão de incentivos do governo federal para classes de baixa renda entre elas o aumento do salário-mínimo, e a correção da faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), que já afeta quem recolhe na fonte, ou seja, no contra-cheque. O mercado de trabalho desponta como um dos poucos itens positivos, sinaliza o assessor da CDL, mas isso não deve mudar o rumo do cenário de restrições:
"Os vetores de baixa são mais numerosos e representativos em comparação com os de alta, o que nos faz crer na dificuldade de gerarmos uma reversão consistente da trajetória ascendente nas próximas leituras”, arremata Frank, ao analisar os novos números do indicador.