Grupo Pereira abrirá 10 atacarejos no RS e vai brigar no atacado

Bandeira estreia em Canoas e terá seis pontos até 2024, em aporte de R$ 300 milhões

Por Patrícia Comunello

'Sonhamos com esta loja há bastante tempo', diz diretor comercial
Atualizada em 18/04/2023 - A carne é "fresca" nas lojas do atacarejo catarinense Fort Atacadista, em vez de "resfriada", segundo o "varejês" gaúcho. Mas com os planos de expansão rápida do Fort no Rio Grande do Sul, o novo termo vai acabar pegando. 
O grupo Pereira, dono da bandeira e um dos dez maiores supermercadistas brasileiros, quer ter 10 lojas até 2027, revelou um dos jovens integrantes da família proprietária à coluna Minuto Varejo.    
"Serão seis até 2024 e até o ano que vem já teremos mapeado as demais", avisa o diretor comercial, Lucas Pereira. A primeira abre em 3 de maio em Canoas, quase ao lado do ParkShopping Canoas. 
"A gente sonha com esta loja no Rio Grande do Sul há bastante tempo", conta o executivo, com 33 anos.
Para acertar a mão, e até o "varejês", se for o caso, a dona do Fort buscou profissionais locais para comandar equipes. "Queremos que o cliente sinta que somos daí, que nascemos em Canoas", justifica.    
Além do atacarejo, outro braço do grupo promete imprimir uma concorrência agressiva no mercado local a partir do segundo semestre. É o Bate Fort, a frente de atacado do Pereira que usa os centros de distribuição para atender exclusivamente empresas e basicamente minimercados, adianta o diretor.  
Também no segundo semestre, abrem as lojas de Caxias do Sul e Viamão, no antigo Maxxi Atacado, comprado pelo Carrefour do ex-BIG, que havia sido vendido ao Asun.
Segundo Pereira, a unidade de Viamão não estava no plano, mas como a venda ao Asun teve revés - o dono do prédio não liberou o ativo e a rede desfez este item da aquisição de mais três lojas do grupo francês -, o grupo catarinense foi procurado e fechou a compra. O Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) aprovou a venda sem restrições.
Em 2024, a bandeira entrará em Porto Alegre, localização que a coluna já antecipou, Novo Hamburgo e Gravataí. Neste bloco de entrada, o aporte é de R$ 300 milhões, além do centro de distribuição (CD) já instalado em São Leopoldo, que somou R$ 22 milhões.
O grupo espera faturar R$ 13 bilhões em 2023, depois de chegar a R$ 11,2 bilhões no ano passado, com metade da receita obtida em Santa Catarina e a outra entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Distrito Federal. O atacarejo responde por 70% do fluxo financeiro, depois 20% varejo e 10% atacado. 
Na conversa com a coluna, Pereira explicou o modelo do negócio, disse que o consumidor final responde por 80% da venda e garantiu que rico também compra em atacarejo:
"Todo mundo gosta de comprar bem e com preço baixo". Mas deu o recado: "Preço é apenas o ingresso de entrada".
Minuto Varejo - Qual é o modelo de atacarejo do grupo?
Lucas Pereira - A gente sonha com esta loja no Rio Grande do Sul há bastante tempo. A unidade abre em 3 de maio. É uma operação que leva a compra Fort Atacadista ao Estado pela primeira vez. A "compra Fort" une dois pilares do nosso negócio: o preço baixo, que é competitividade, e qualidade muito elevada e muito superior ao que a gente vê em outros players de atacarejos. Vamos abrir uma operação mais completa, com padaria, açougue, frutas e legumes em boa qualidade, produtos importados, com sortimento de 10 mil itens, e restaurante, uma combinação que, com certeza, vai dar certo no Rio Grande do Sul.
MV - No que vocês são diferentes em relação à concorrência e quanto o modelo do Fort não carrega um custo maior?
Pereira - Este modelo vem se transformando, mas estamos trabalhando há bastante tempo com ele, desde a década de 1990. Aprendemos a operar um formato que incorpora serviços, mas não despesas. No açougue, oferecemos carne fresca (resfriada) - mais de 40 tipos de cortes entre os mais consumidos -, mas é autosserviço. Na padaria, tem pão fresquinho, com qualidade ótima e super competitivo no preço, mas é também autosserviço. Conseguimos fazer tudo isso sem trazer a despesa operacional que prejudicaria o pilar mais importante do negócio, que é o preço baixo.
MV - Vai ter cacetinho quentinho e a que preço?
Pereira - Vai ter sim e por um preço bem bacana.
MV - Como vocês conseguem fazer a logística para entregar estes dois itens "frescos"?
Pereira - Um dos pilares do nosso negócio é a regionalidade. Em cada lugar que vamos buscamos compreender os fornecedores locais e os hábitos de consumo locais. O frigorífico que vai nos atender é bem conhecido no Estado. O modelo de açougue não tem tantos profissionais no balcão e interação com cliente que gera fila. Estudamos os 40 cortes que mais saem e já preparamos na retaguarda e colocamos em bandeja para cada cliente se servir. Com menos gente e maquinário, fazemos de forma mais eficiente. Dos 405 fornecedores, 105 são regionais, da erva-mate a marcas dos frigoríficos Borrússia (salsichão) e Silva (carnes). Contratamos equipes operacionais e comerciais do Rio Grande do Sul, com pessoas que atuam no mercado há bastante tempo e passaram por dois a três players importantes. Queremos que o cliente sinta que somos daí, que nascemos em Canoas.  
Atacarejo responde por 70% da receita do grupo, que tem ainda supermercado e atacado para atender empresas 
MV - Como vocês conseguem este reconhecimento na maior economia do País?
Pereira - Por alguns fatores, o nível de serviço para pequenos varejos. São três CDs distribuindo. Atendemos a zona primária em até 48 horas e as demais em até 72 horas. Outro fator é o preço supercompetitivo, por estar em um grupo com alta escala. O terceiro motivo é a equipe de vendas com 540 vendedores somente em São Paulo. No total do grupo, são 800 representantes comerciais.
MV - Qual será o investimento total no Estado com as 10 lojas? 
Pereira - Nas primeiras seis, são R$ 300 milhões. Para as demais, vai depender do valor dos terrenos e tamanho das lojas. Mas deve ser neste nível também. Temos unidades de 2 mil a 7 mil metros quadrados de área de venda. O mais importante é a localização. A maior parte dos aportes é com capital próprio, temos um baixo endividamento, mas claro que, dependendo da oportunidade, podemos buscar fontes de terceiros.
MV - Porto Alegre vai ter mais atacarejos ou a limitação do Plano Diretor pode ser um empecilhos?
Pereira - Pode ter sim. Tem muita oportunidade ainda na Capital. A limitação é uma barreira, pois poderíamos expandir mais rapidamente para o centro. Mas as bordas têm muita oportunidade e não limita o nosso crescimento. Na Grande Florianópolis, com mais de 1 milhão de habitantes, temos 10 lojas.
MV - A compra do ex-Maxxi Atacado em Viamão estava nos planos da rede?
Pereira - Não estava nos nossos planos. Tínhamos a notícia que a loja tinha sido negociada. Depois houve o movimento de volta ao portfólio de venda. Fomos procurados e conseguimos acertar o negócio. Foi uma dessas oportunidades que podem surgir e, por ser um bom ponto, não podíamos deixar passar. 
MV - O Carrefour buscou vocês ou foi o dono do imóvel?
Pereira - A ordem exata não me recordo, mas para um negócio como esse sair temos de negociar com as duas pontas: o vendedor e o dono do imóvel, com quem é feito o contrato de locação. Mesmo que alguém detenha o fundo do comércio (ponto de venda), é importante o relacionamento com os donos do prédio, que foram super receptivos e educados.
MV - O dono do imóvel não falou com o Asun, segundo a informação da coluna. A rede nunca teria tido retorno do proprietário do imóvel. Entrar no negócio depois que o grupo gaúcho não completou a negociação pode gerar algum mal-estar no mercado local?
Pereira - Acho que não, pois só entramos depois que o negócio inicial, por algum motivo, não deu certo. Realmente, foi uma oportunidade posterior. Não tem este risco. 
MV - Como foi a negociação e quando abre a loja?
Pereira - Houve negociação do fundo de comércio (Carrefour) e com o dono do prédio, isso é menos complexo do que comprar um terreno e fazer a loja. Vai ter ter um custo da reforma para ficar o máximo possível com a cara do Fort. O valor do negócio ainda não está fechado. Só depois que houver o aval do Cade poderemos ver detalhes do projeto. A implantação deve ocorrer entre 90 a 120 dias, após a liberação do órgão. Saindo em junho, por exemplo, até outubro a unidade abre. 
MV - O grupo não vai entrar no Paraná?
Pereira - Nos próximos cinco anos, não. Vamos priorizar São Paulo e Rio Grande do Sul, com o modelo de atacarejo.
MV - Vocês têm farmácias e postos de combustíveis. Vai ter alguma dessas operações nas lojas gaúchas?
Pereira - Neste primeiro momento, não terá farmácia no Estado, apenas restaurante e a logística da Perlog. Já temos dois postos de combustíveis que entram em lojas maiores em outros estados,  garantindo todo o ecossistema. O modelo segue o de redes norte-americanas como o Costco. Podemos ter postos em algumas lojas gaúchas. 
MV - Como é a operação do cartão Vuon e quanto os juros elevadosafetam o uso?
Pereira - É um cartão de crédito próprio, associado a descontos, com quase 1 milhão de unidades. As taxas afetam pouco a operação, pois o funding é nosso. A inadimplência é menor que a das instituições de mercado. Hoje o detentor do cartão paga uma taxa fixa e apenas no mês que usar de R$ 6,99. Só com os descontos da compra, ele paga a taxa.
MV - Quanto o grupo deve faturar em 2023?
Pereira - A projeção é chegar a R$ 13 bilhões, com alta de 16% em relação a 2022, quando tivemos receita de R$ 11,2 bilhões. Temos crescido dois dígitos nos três braços principais (atacado, atacarejo e supermercado). Com a expansão prevista, a meta é superar R$ 20 bilhões. Com isso, queremos nos manter entre os 10 maiores do Brasil. Metade da receita de 2022 foi obtida em Santa Catarina e a outra entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. O braço de atacarejo responde por 70% do fluxo financeiro, depois vêm 20% do supermercado e 10% do atacado. 
MV - Quanto o avanço do Carrefour, maior varejista brasileira e que comprou o ex-BIG, afeta o setor?
Pereira - Concorremos com o grupo desde sempre, principalmente no Centro Oeste e em São Paulo. Crescemos aprendendo a competir com ele e outros grupos. Isso não nos assusta. Fazemos a diferença no preço, mas é o ingresso de entrada. Acreditamos que vamos levar vantagem na compra Fort, com qualidade e preço.

QUEM É O GRUPO PEREIRA, DE SANTA CATARINA:

Empregados: 17.062
Lojas:
  • Fort Atacadista:52
  • Supermercado Comper: 30
  • Sempre Fort: 15
Centro de distribuição Bate Fort: seis
Cartão de crédito Vuon: 850 mil emitidos