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Minuto Varejo

Minuto Varejo

- Publicada em 16 de Abril de 2023 às 14:47

Grupo Pereira abrirá 10 atacarejos no RS e vai brigar no atacado

'A gente sonha com esta loja no Rio Grande do Sul há bastante tempo', diz diretor comercial

'A gente sonha com esta loja no Rio Grande do Sul há bastante tempo', diz diretor comercial


PAULO GUIMARÃES/DIVULGAÇÃO/JC
Atualizada em 18/04/2023 - A carne é "fresca" nas lojas do atacarejo catarinense Fort Atacadista, em vez de "resfriada", segundo o "varejês" gaúcho. Mas com os planos de expansão rápida do Fort no Rio Grande do Sul, o novo termo vai acabar pegando. 
Atualizada em 18/04/2023 - A carne é "fresca" nas lojas do atacarejo catarinense Fort Atacadista, em vez de "resfriada", segundo o "varejês" gaúcho. Mas com os planos de expansão rápida do Fort no Rio Grande do Sul, o novo termo vai acabar pegando. 
O grupo Pereira, dono da bandeira e um dos dez maiores supermercadistas brasileiros, quer ter 10 lojas até 2027, revelou um dos jovens integrantes da família proprietária à coluna Minuto Varejo.    
"Serão seis até 2024 e até o ano que vem já teremos mapeado as demais", avisa o diretor comercial, Lucas Pereira. A primeira abre em 3 de maio em Canoas, quase ao lado do ParkShopping Canoas. 
"A gente sonha com esta loja no Rio Grande do Sul há bastante tempo", conta o executivo, com 33 anos.
Para acertar a mão, e até o "varejês", se for o caso, a dona do Fort buscou profissionais locais para comandar equipes. "Queremos que o cliente sinta que somos daí, que nascemos em Canoas", justifica.    
Além do atacarejo, outro braço do grupo promete imprimir uma concorrência agressiva no mercado local a partir do segundo semestre. É o Bate Fort, a frente de atacado do Pereira que usa os centros de distribuição para atender exclusivamente empresas e basicamente minimercados, adianta o diretor.  
Também no segundo semestre, abrem as lojas de Caxias do Sul e Viamão, no antigo Maxxi Atacado, comprado pelo Carrefour do ex-BIG, que havia sido vendido ao Asun.
Segundo Pereira, a unidade de Viamão não estava no plano, mas como a venda ao Asun teve revés - o dono do prédio não liberou o ativo e a rede desfez este item da aquisição de mais três lojas do grupo francês -, o grupo catarinense foi procurado e fechou a compra. O Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) aprovou a venda sem restrições.
Em 2024, a bandeira entrará em Porto Alegre, localização que a coluna já antecipou, Novo Hamburgo e Gravataí. Neste bloco de entrada, o aporte é de R$ 300 milhões, além do centro de distribuição (CD) já instalado em São Leopoldo, que somou R$ 22 milhões.
O grupo espera faturar R$ 13 bilhões em 2023, depois de chegar a R$ 11,2 bilhões no ano passado, com metade da receita obtida em Santa Catarina e a outra entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Distrito Federal. O atacarejo responde por 70% do fluxo financeiro, depois 20% varejo e 10% atacado. 
Na conversa com a coluna, Pereira explicou o modelo do negócio, disse que o consumidor final responde por 80% da venda e garantiu que rico também compra em atacarejo:
"Todo mundo gosta de comprar bem e com preço baixo". Mas deu o recado: "Preço é apenas o ingresso de entrada".
Minuto Varejo - Qual é o modelo de atacarejo do grupo?
Lucas Pereira - A gente sonha com esta loja no Rio Grande do Sul há bastante tempo. A unidade abre em 3 de maio. É uma operação que leva a compra Fort Atacadista ao Estado pela primeira vez. A "compra Fort" une dois pilares do nosso negócio: o preço baixo, que é competitividade, e qualidade muito elevada e muito superior ao que a gente vê em outros players de atacarejos. Vamos abrir uma operação mais completa, com padaria, açougue, frutas e legumes em boa qualidade, produtos importados, com sortimento de 10 mil itens, e restaurante, uma combinação que, com certeza, vai dar certo no Rio Grande do Sul.
MV - No que vocês são diferentes em relação à concorrência e quanto o modelo do Fort não carrega um custo maior?
Pereira - Este modelo vem se transformando, mas estamos trabalhando há bastante tempo com ele, desde a década de 1990. Aprendemos a operar um formato que incorpora serviços, mas não despesas. No açougue, oferecemos carne fresca (resfriada) - mais de 40 tipos de cortes entre os mais consumidos -, mas é autosserviço. Na padaria, tem pão fresquinho, com qualidade ótima e super competitivo no preço, mas é também autosserviço. Conseguimos fazer tudo isso sem trazer a despesa operacional que prejudicaria o pilar mais importante do negócio, que é o preço baixo.
MV - Vai ter cacetinho quentinho e a que preço?
Pereira - Vai ter sim e por um preço bem bacana.
MV - Como vocês conseguem fazer a logística para entregar estes dois itens "frescos"?
Pereira - Um dos pilares do nosso negócio é a regionalidade. Em cada lugar que vamos buscamos compreender os fornecedores locais e os hábitos de consumo locais. O frigorífico que vai nos atender é bem conhecido no Estado. O modelo de açougue não tem tantos profissionais no balcão e interação com cliente que gera fila. Estudamos os 40 cortes que mais saem e já preparamos na retaguarda e colocamos em bandeja para cada cliente se servir. Com menos gente e maquinário, fazemos de forma mais eficiente. Dos 405 fornecedores, 105 são regionais, da erva-mate a marcas dos frigoríficos Borrússia (salsichão) e Silva (carnes). Contratamos equipes operacionais e comerciais do Rio Grande do Sul, com pessoas que atuam no mercado há bastante tempo e passaram por dois a três players importantes. Queremos que o cliente sinta que somos daí, que nascemos em Canoas.  
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Rede tem açougue que prepara 40 cortes de carne mais procurados por clientes e vende em bandejas no autosserviço  
MV - Mas o sotaque vai continuar catarina ... 
Pereira -  Este não tem jeito, só se fizer um intercâmbio e ficar uns dois anos no Estado.  
MV - Vai ter carne com preço mais em conta e como fazer isso - no RS, é um dos itens que mais pesa na cesta básica?
Pereira - A gente vem há dois anos pesquisando semanalmente os maiores players e achamos que vamos levar preços competitivos em todos os segmentos. Temos o cartão de crédito próprio Vuon, com quase um milhão de unidades emitidas, e a fortaleza dele é associar, na compra, preços ainda menores, com mais descontos. 
MV - Qual é o perfil dos consumidores, considerando renda e tipo, que compra no Fort?
Pereira - O nosso estilo de atacarejo atende basicamente três públicos - consumidor final, dono de mercados e transformador (pizzaria, lancheria, restaurante etc). Estamos preparados para atender os três. Mas o nosso modelo atende muito mais o consumidor final, que chega a ser 80% do fluxo nas lojas, que têm pé direito alto, são bem iluminadas e abastecidas para receber bem os clientes. Estudamos bem para saber os itens de cada filial, a primarização e categorias. 
MV - Rico compra em atacarejo?
Pereira - Compra. Todo mundo gosta de comprar bem. Preço baixo é preço baixo. Nas regiões em que atendemos públicos A e B, foi onde aprendemos a trabalhar melhor com o sortimento, que foi facilitado por termos o supermercado Comper, líder no Mato Gross e Mato Grosso do Sul. Incorporamos destilados, vinhos, azeites. São quase 400 contêineres por ano de importados que trazemos. Mesmo atuando com público A e B, buscamos trazer importados com custo-benefício interessante, ou seja, com qualidade melhor do que o líder da categoria e que consigamos vender por um preço menor que a marca mais conhecida.
MV - Como o dólar afeta vocês? 
Pereira - O dólar oscila. Uma hora está a R$ 5,00, depois perto de R$ 6,00. Trazemos as mesmas marcas, viajamos muito para as regiões de origem no exterior e temos um relacionamento de longo prazo com os produtores. São sempre os mesmos parceiros, o que ajuda a nos proteger das oscilações do câmbio. Um exemplo de importado é o azeite Las Doscientas, do Chile, com 0,2% de acidez, enquanto a maioria tem 0,5%, e que vendemos 30% mais barato que as marcas líderes.
MV - O que terá de expansão no Estado depois de Canoas?
Pereira - Queremos entrar rapidamente no mercado. Canoas agora e, no segundo semestre, em Caxias do Sul e Viamão, após termos a aprovação do Cade sobre o ponto que era do Carrefour (ex-Maxxi Atacado). Em 2024, virão Porto Alegre, Novo Hamburgo e Gravataí. Na Capital, devemos começar a construir no segundo semestre deste ano, quanto antes melhor (risos). Esta etapa de expansão começa agora e vai durar mais tempo. Estamos mapeando mais cidades com potencial no Estado. Nos últimos cinco anos, dobramos de tamanho e nos consolidamos onde já estávamos. Em Santa Catarina, chegamos a todas as regiões e somos líderes no MS e MT. Em 2022, entramos com o Fort em São Paulo. Nos próximos cinco anos (2023 a 2027), vamos dobrar de novo de tamanho, consolidando ainda mais nas regiões e abrindo nos novos estados. No Rio Grande do Sul, queremos ter 10 lojas rapidamente. Serão seis até 2024 e até o ano que vem já teremos mapeado as demais. As seis lojas e o centro de distribuição (CD) de São Leopoldo vão somar 2,5 mil empregos diretos.
MV - Vai ter Fort além da Região Metropolitana e Serra?
Pereira - Montamos o CD onde era a fábrica da Hyundai (elevadores) para, neste primeiro momento, abastecer o entorno da Grande Porto Alegre e Serra. Estamos olhando outras regiões também. Ainda não posso divulgar, se não os terrenos ficam mais caros. (risos) O CD tem 7 mil metros quadrados e poderá aumentar de tamanho dar conta de mais lojas.  
MV - O CD já começa abastecendo Canoas?
Pereira - Sim e também abriga o atacado distribuidor Bate Fort, que vai estrear no segundo semestre e atende exclusivamente empresas (B to B), com venda para minimercados. Além da multirregionalidade, outro pilar do grupo é a multicanalidade. Quando entramos em um estado, levamos todas as soluções. O Pereira começou há 40 anos com atacado. Em São Paulo, ganhamos seis vezes nos últimos sete anos como melhor atacado distribuidor. 
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Atacarejo responde por 70% da receita do grupo, que tem ainda supermercado e atacado para atender empresas 
MV - Como vocês conseguem este reconhecimento na maior economia do País?
Pereira - Por alguns fatores, o nível de serviço para pequenos varejos. São três CDs distribuindo. Atendemos a zona primária em até 48 horas e as demais em até 72 horas. Outro fator é o preço supercompetitivo, por estar em um grupo com alta escala. O terceiro motivo é a equipe de vendas com 540 vendedores somente em São Paulo. No total do grupo, são 800 representantes comerciais.
MV - Qual será o investimento total no Estado com as 10 lojas? 
Pereira - Nas primeiras seis, são R$ 300 milhões. Para as demais, vai depender do valor dos terrenos e tamanho das lojas. Mas deve ser neste nível também. Temos unidades de 2 mil a 7 mil metros quadrados de área de venda. O mais importante é a localização. A maior parte dos aportes é com capital próprio, temos um baixo endividamento, mas claro que, dependendo da oportunidade, podemos buscar fontes de terceiros.
MV - Porto Alegre vai ter mais atacarejos ou a limitação do Plano Diretor pode ser um empecilhos?
Pereira - Pode ter sim. Tem muita oportunidade ainda na Capital. A limitação é uma barreira, pois poderíamos expandir mais rapidamente para o centro. Mas as bordas têm muita oportunidade e não limita o nosso crescimento. Na Grande Florianópolis, com mais de 1 milhão de habitantes, temos 10 lojas.
MV - A compra do ex-Maxxi Atacado em Viamão estava nos planos da rede?
Pereira - Não estava nos nossos planos. Tínhamos a notícia que a loja tinha sido negociada. Depois houve o movimento de volta ao portfólio de venda. Fomos procurados e conseguimos acertar o negócio. Foi uma dessas oportunidades que podem surgir e, por ser um bom ponto, não podíamos deixar passar. 
MV - O Carrefour buscou vocês ou foi o dono do imóvel?
Pereira - A ordem exata não me recordo, mas para um negócio como esse sair temos de negociar com as duas pontas: o vendedor e o dono do imóvel, com quem é feito o contrato de locação. Mesmo que alguém detenha o fundo do comércio (ponto de venda), é importante o relacionamento com os donos do prédio, que foram super receptivos e educados.
MV - O dono do imóvel não falou com o Asun, segundo a informação da coluna. A rede nunca teria tido retorno do proprietário do imóvel. Entrar no negócio depois que o grupo gaúcho não completou a negociação pode gerar algum mal-estar no mercado local?
Pereira - Acho que não, pois só entramos depois que o negócio inicial, por algum motivo, não deu certo. Realmente, foi uma oportunidade posterior. Não tem este risco. 
MV - Como foi a negociação e quando abre a loja?
Pereira - Houve negociação do fundo de comércio (Carrefour) e com o dono do prédio, isso é menos complexo do que comprar um terreno e fazer a loja. Vai ter ter um custo da reforma para ficar o máximo possível com a cara do Fort. O valor do negócio ainda não está fechado. Só depois que houver o aval do Cade poderemos ver detalhes do projeto. A implantação deve ocorrer entre 90 a 120 dias, após a liberação do órgão. Saindo em junho, por exemplo, até outubro a unidade abre. 
MV - O grupo não vai entrar no Paraná?
Pereira - Nos próximos cinco anos, não. Vamos priorizar São Paulo e Rio Grande do Sul, com o modelo de atacarejo.
MV - Vocês têm farmácias e postos de combustíveis. Vai ter alguma dessas operações nas lojas gaúchas?
Pereira - Neste primeiro momento, não terá farmácia no Estado, apenas restaurante e a logística da Perlog. Já temos dois postos de combustíveis que entram em lojas maiores em outros estados,  garantindo todo o ecossistema. O modelo segue o de redes norte-americanas como o Costco. Podemos ter postos em algumas lojas gaúchas. 
MV - Como é a operação do cartão Vuon e quanto os juros elevadosafetam o uso?
Pereira - É um cartão de crédito próprio, associado a descontos, com quase 1 milhão de unidades. As taxas afetam pouco a operação, pois o funding é nosso. A inadimplência é menor que a das instituições de mercado. Hoje o detentor do cartão paga uma taxa fixa e apenas no mês que usar de R$ 6,99. Só com os descontos da compra, ele paga a taxa.
MV - Quanto o grupo deve faturar em 2023?
Pereira - A projeção é chegar a R$ 13 bilhões, com alta de 16% em relação a 2022, quando tivemos receita de R$ 11,2 bilhões. Temos crescido dois dígitos nos três braços principais (atacado, atacarejo e supermercado). Com a expansão prevista, a meta é superar R$ 20 bilhões. Com isso, queremos nos manter entre os 10 maiores do Brasil. Metade da receita de 2022 foi obtida em Santa Catarina e a outra entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. O braço de atacarejo responde por 70% do fluxo financeiro, depois vêm 20% do supermercado e 10% do atacado. 
MV - Quanto o avanço do Carrefour, maior varejista brasileira e que comprou o ex-BIG, afeta o setor?
Pereira - Concorremos com o grupo desde sempre, principalmente no Centro Oeste e em São Paulo. Crescemos aprendendo a competir com ele e outros grupos. Isso não nos assusta. Fazemos a diferença no preço, mas é o ingresso de entrada. Acreditamos que vamos levar vantagem na compra Fort, com qualidade e preço.

QUEM É O GRUPO PEREIRA, DE SANTA CATARINA:

Empregados: 17.062
Lojas:
  • Fort Atacadista:52
  • Supermercado Comper: 30
  • Sempre Fort: 15
Centro de distribuição Bate Fort: seis
Cartão de crédito Vuon: 850 mil emitidos