O varejo gaúcho se saiu bem melhor que o nacional na largada de 2023. A mais recente Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), com desempenho de janeiro e divulgada apenas nesta quarta-feira (12) pelo IBGE, mostrou alta de 5,8% no volume de vendas do chamado varejo restrito em relação a dezembro, no confronto mensal. Dezembro teve queda, completando sequência de quatro recuos.
O Brasil teve crescimento no indicador, mas bem menos, de 3,8% no varejo restrito.
Para o recorte mais amplo, com materiais de construção e veículos, o Estado teve elevação de 1,6% no primeiro mês do ano. No País, a alta foi quase imperceptível, 0,2%.
Na comparação anual, com janeiro de 2022, o setor gaúcho avançou 8,5% e no segmento ampliado, 9,2%. Na média nacional, o varejo restrito, que tem de supermercados e posto de combustíveis a papelaria e farmácias, teve aumento de 2,6%, e no ampliado, 0,6%.
O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, destaca que o crescimento do varejo restrito sobre dezembro chamou muito a atenção, mas mesmo assim não recupera as perdas verificadas na retração de de setembro até o último mês de 2022. "No último quadrimestre, as perdas acumuladas foram de 6,8%", assinala Frank. "Ou seja, mesmo com a alta de janeiro, não conseguimos devolver tudo."
Os dados vieram mais uma vez com uma alta turbinada na venda de combustíveis que vem sendo alertada por Frank e pela área de Economia da Fecomércio-RS, que a coluna Minuto Varejo vem citando em conteúdos sobre a PMC.
No mais recente levantamento, a venda desses produtos teve alta de 65,7%, variação que é mais que o dobro da média do País, que assinalou avanço de 26,7%. O dado de desempenho por setores é obtido apenas na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Não é feito o confronto com o mês anterior.
"Insisto na nossa reticência sobre combustíveis e lubrificantes. Não entendo que essa alta reflita a realidade", adverte o especialista ligado à CDL-POA.
"Primeiro, porque estamos comparando com um período em que já não tínhamos mais grandes restrições à mobilidade devido à pandemia, apesar do pico da variante ômicron", ressalta Frank.
"Em segundo lugar, porque a demanda pelo setor (combustíveis) é inelástica. Ou seja, não tende a ter grandes flutuações, mesmo com alterações de preços. Combustíveis são essenciais para muitas pessoas, então elas muitas vezes acabam tendo de arcar com valores mais altos quando o preço na bomba é maior", explica. Resumindo: se o consumidor precisa da gasolina para trabalhar, por exemplo, acaba tendo de pagar o valor.
O economista-chefe da CDL-POA lembra ainda que dados da Receita Estadual gaúcha não mostram a elevação do volume de vendas no nível que a PMC vem apontando mês a mês. Este descompasso e percentual elevado vem sendo verificado desde meados de 2022. Uma suspeita é que a amostra usada pelo IBGE possa ter maior influência de algumas empresas que têm maior fatia do mercado, impactando mais a variação na venda geral.
Supermercados têm queda, e papelarias disparam com demanda escolar
Nos demais segmentos, supermercados e hipermercados vieram com queda de 2,1% em relação a janeiro de 2022.
"A base de comparação é bem alta, pois janeiro de 2022 teve incremento de 4,7% sobre o mesmo período de 2021", lembra Frank. "Mesmo com a queda (janeiro passado), tivemos o segundo maior nível para janeiro de toda a série histórica", pondera o economista.
Já tecidos, vestuário e calçados conseguiram ter um respiro com alta de 11,1%, deis de meses seguidos no vermelho, com quedas sucessivas. "Mas ainda permanece bem abaixo de janeiro de 2020, queda de 13,1%", compara Frank. Janeiro de 2020 foi pré-pandemia, que estourou no Brasil em março daquele ano. "Estes setores estão em um processo de recomposição, depois de tudo o que aconteceu em função da pandemia", completa.
Mas móveis e eletrodomésticos e até farmácias venderam menos. O fluxo foi 5,7% e 3,4% abaixo, respectivamente que janeiro do ano passado.
Já papelarias, livrarias e jornais tiveram a maior alta, depois de combustíveis, é claro, de 51%. O desempenho está ligado à busca de itens do material escolar, que se concentra na largada do ano.
No varejo ampliado, veículos tiveram elevação de 27,2% nas vendas, mas sobre uma base de 2022 muito baixa. O setor é um dos mais afetados pela crise sanitária, devido a paradas da produção e, mesmo agora, ainda enfrentam problemas de baixo estoque e alta de custos. Materiais de construção venderam 10,4% mais, também com retrospectos de quedas sucessivas no ano passado, após o boom no período mais agudo da pandemia.
O economista avalia que, olhando período maior, "é possível notar uma diferença relativamente acentuada entre o varejo mais dependente de renda (que performa melhor) e aquele que depende de renda e crédito (performando pior)", resume, citando a alta de juros, que se mantém e que afeta o comércio de veículos, materiais de construção, informática, móveis e eletrodomésticos.
Confecções puxam alta no Brasil, materiais de construção ficam no positivo
Em janeiro de 2023, sete das oito atividades do comércio varejista tiveram taxas positivas no Brasil. Tecidos, vestuário e calçados (27,9%), Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (7,4%), Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,3%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,0%), Combustíveis e lubrificantes (1,5%), Móveis e eletrodomésticos (1,3%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (0,6%).
A única atividade em queda foi Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -1,2%.
Já as duas atividades adicionais, que compõem o varejo ampliado, tiveram trajetórias opostas: Veículos, motos, partes e peças variou -0,2% e Material de Construção cresceu 2,9%.