Os efeitos da crise da Americanas se ampliam no Rio Grande do Sul. Além de passivos da varejista com fornecedores gaúchos e redução do quadro de pessoal, agora é o segmento logístico que é afetado. A operação que a companhia, em Recuperação Judicial (RJ) desde janeiro passado após vir à tona um rombo bilionário no caixa, tinha dentro de um dos parques na Região Metropolitana foi revisada, com devolução de parte da área ocupada.
Segundo dados de uma empresa que faz locação de estruturas logística no Brasil e monitora a disponibilidade de galpões, a varejista entregou metade da área já em 2022, indicando que já estaria fazendo ajuste no uso de áreas.
A SDS Properties divulgou que a Americanas entregou 20 mil metros quadrados do espaço dentro do condomínio logístico Modular 118, às margens da RS-118, em Gravataí, que pertence à Montabil, grupo familiar que tem entre acionistas ex-integrantes do grupo Metabil.
No local, a gigante varejista estruturou desde fim de 2020 seu centro de distribuição (CD) para dar conta de entregas e abastecimento de lojas no Estado. Em meados de 2021, a
companhia anunciou que dobraria o tamanho da área usada, passando a quase 40 mil metros quadrados. A expansão fazia parte da estratégia de acelerar o tempo de entrega para pedidos no Sul do País.
A varejista não detalha onde e quanto está reduzindo em áreas logísticas de suas operações e nem indica que a de Gravataí está na lista. Por nota, a Americanas informa que está revisando o planejamento logístico para 2023, "considerando a nova realidade financeira da companhia". A marca diz que não teria ainda a definição de como ficará a atual ocupação.
A coluna Minuto Varejo fez contato com o responsável pela Montabil na quarta-feira (22), mas ele não quis dar mais informações alegando que estaria entrando em uma reunião. Depois disso, não respondeu a contatos por WhatsApp e e-mail com pedido de maiores esclarecimentos.
Uma das perguntas é sobre o pagamento dos aluguéis. Na lista de débitos da varejista, estão contratos de lojas físicas, por exemplo. A gigante já comunicou shopping centers que não pagaria aluguel anteriores ao pedido de RJ.
O prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, comenta que o impacto da redução ou até desativação da operação é sentido em empregos e geração de receitas em serviços no curto prazo. Para a arrecadação, Zaffalon indica que a perda em arrecadação é mais no médio e longo prazo, pois o fluxo de saída de produtos é mais escalonado, devido ao grande estoque de itens que era projetado para o galpão da Modular.
"A operação em Gravataí foi focada na retaguarda de logística para sua rede física e em e-commerce, com grande estoque. Com isso, o retorno de ICMS se dá ao longo do tempo. O encerramento da atividade não provoca grande perda de arrecadação neste momento", projeta Zaffalon.
A Americanas chegou a ocupar em 2022 em torno de 830 mil metros quadrados em parques logísticos pelo Brasil, diz a SDS, ocupando a quarta posição entre os maiores ocupantes de galpões, atrás apenas do Mercado Livre, da Amazon e da Magazine Luiza.
A CEO da SDS, Simone Santos, destaca que a conduta da varejista deve ampliar a taxa de vacância dos parques logísticos gaúchos que estava em 16,7% até o fim do ano passado.
"O estoque total do Rio Grande do Sul de condomínios logísticos é de 550 mil metros quadrados. Com a vacância, são 91,8 mil metros quadrados disponíveis no mercado", calcula Simone. No País, o estoque total de condomínios logísticos é de 24 milhões de metros quadrados.
"O e-commerce potencializou o desempenho do mercado, que fechou 2021 com os melhores índices da série histórica monitorada. A previsão era que 2022 fosse um ano bom, mas não excelente como foi 2021, considerando acomodações naturais do mercado", comenta a CEO da empresa de locação, em nota.
Além da Americanas, outras gigantes do varejo também enfrentam dificuldades para pagar aluguéis e já tiveram ameaça de despejo de áreas, entre elas Marisa e TokStok.