Pelo segundo mês consecutivo, as vendas do comércio em geral caíram no Rio Grande do Sul. Segundo a nova rodada da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) calculada pelo IBGE, o volume vendido recuou 0,9% em outubro frente a setembro deste ano, que também havia sido negativo,
com queda de 1,2%.
O Brasil teve média positiva, com avanço acanhado de 0,4% na série com ajuste sazonal. O Rio Grande do Sul ostentou a terceira maior queda entre os estados. Santa Catarina e Tocantins tiveram o mesmo nível de queda. Paraíba teve o maior tombo, de 6,8%.
Já no varejo ampliado, que mede venda de veículos e de materiais de construção, o quadro também segue no negativo, com redução de 0,7% no volume comercializado. No País, os dois setores apresentaram elevação de 0,4% no fluxo vendido.
No confronto com outubro de 2021, o desempenho sai do negativo para o positivo, com aumento de 5,7%. No ampliado, a alta é menor, de 3,7%. O confronto mostra o cenário deste ano ante um ambiente ainda de pandemia e restrições no segundo semestre do ano passado, quando a vacinação contra a Covid-19 ganhava maior força e cobertura, com mais doses dos imunizantes.
No ano, o comércio geral, que reúne de combustíveis, supermercados, móveis, eletros, confecções, calçados, saúde e estética, livrarias e materiais para casa e escritório, acumula alta de 7,7%. Em 12 meses, a taxa é de 6,9%. De janeiro a outubro, o varejo ampliado apresenta 3,8% de avanço nas vendas, e de 3,2% em 12 meses.
Os dados setoriais trazem a comparação com o mesmo mês de 2021 e dão pistas de diferentes influências nos indicadores. Combustíveis, que tiveram cortes de tributos, mantêm o ritmo forte na demanda, com alta de 61%. Logo depois, vêm livros, jornais, revistas e papelaria com 26,1% de aumento.
Hipermercados e supermercados tiveram aumento de 1,4%, enquanto setores como calçados e vestuário e eletromóveis têm quedas, de 1,8% e 9,6%, respectivamente.
Vendas de combustíveis no Estado subiram 61% em outubro frente ao mesmo mês de 2021. Foto: Luiza Prado/JC
O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, observa que as variações recentes negativas - apenas agosto teve leve alta de 0,4% nas vendas do varejo geral, enquanto julho recuou 2,2% e junho, 2,6% -, ocorrem sobre uma base mais elevada anterior. Por exemplo, março avançou 10,3%.
"O desempenho a partir de junho decorre sobre uma base extraordinariamente elevada, algo que é natural (nível de queda), opina Frank.
O economista faz ressalva sobre o patamar de elevação da venda de combustíveis, com alta de 29% de janeiro a outubro no Estado.
O especialista cita que a variação (chega a 61% em outubro deste ano sobre o mesmo mês de 2021) não teria muito fundamento, pois a demanda pelo produto sofre menor impacto de preços por ser um item essencial. Frank cita os dados da venda de gasolina e óleo apurada pela Fazenda Estadual, com aumento de 4,9% na comparação com os meses de cada ano.
"As evidências sugerem que não há fundamentação econômica para o referido resultado, o que acaba por contaminar a avaliação do setor varejista como um todo", adverte o economista-chefe da CDL-POA.
A mesma reação sobre os dados de combustíveis é da economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo. "O resultado tão diferente de combustíveis afeta o todo, pois tem um peso importante no conjunto de setores", reforça Patrícia. "Não é o que se vê na rua", diz ela, contrapondo a alta de venda.
No varejo ampliado, materiais de construção seguem em baixa, com 11,9% de recuo. Já são 22 meses de queda seguida mensal do segmento, segundo a PMC. A última elevação nos negócios foi em dezembro de 2020.
Veículos tiveram alta de 4,8%, seguindo no positivo frente a 2021, quando a oferta de unidades estava mais restrita, represando vendas. A condição de produção do setor vem crescendo e equilibrando a oferta e demanda. Dados da Anfavea mostram
aumento de quase 7% na produção de janeiro a novembro.
Os segmentos com quedas que vêm se repetindo como eletromóveis e materiais de construção sofrem mais com o custo do crédito, que é decisivo para as compras.
"Ainda estamos sentindo os efeitos das elevações (juros) que ocorreram tempos atrás", assinala Frank. "O efeito pleno ocorre de dois a três trimestres depois da mudança por parte do Copom", associa o economista, citando o Comitê de Política Monetária, que decide sobre o rumo da taxa básica (Selic).
"A queda em móveis e eletro não surpreende. Na pandemia, as pessoas compraram mobiliário, mas isso não ocorre todos os anos. Esses setores vivem uma ressaca. Materiais de construção também passou por um boom", amplia Patrícia. Já vestuário e calçados, que tiveram correção de preços depois de dois anos de pandemia, encontraram consumidores com orçamento mais apertado, o que afeta as vendas.