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Mercado Digital
Patricia Knebel

Patricia Knebel

Publicada em 11 de Abril de 2025 às 15:07

Com consistência, o capital aparece, aconselha head do Itaú BBA

Especialista ressalta que não vale insistir em ideias com baixa viabilidade

Especialista ressalta que não vale insistir em ideias com baixa viabilidade

Itaú BBA/Divulgação/JC
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Patricia Knebel
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Ela é a vice-presidente de tecnologia para o Investment Banking do Itaú BBA. Com mais de 13 anos de experiência no mercado financeiro, atua na conexão de players globais ao ecossistema de tecnologia da América Latina, Julia De Luca iniciou sua carreira na área de Relações com Investidores Globais da Gávea Investimentos e também atuou na Stone Co. É a única colaboradora de conteúdo da América Latina no site global da Nasdaq, e esteve em Porto Alegre para participar de dois painéis no South Summit Brazil, que encerrou na sexta-feira.
Ela é a vice-presidente de tecnologia para o Investment Banking do Itaú BBA. Com mais de 13 anos de experiência no mercado financeiro, atua na conexão de players globais ao ecossistema de tecnologia da América Latina, Julia De Luca iniciou sua carreira na área de Relações com Investidores Globais da Gávea Investimentos e também atuou na Stone Co. É a única colaboradora de conteúdo da América Latina no site global da Nasdaq, e esteve em Porto Alegre para participar de dois painéis no South Summit Brazil, que encerrou na sexta-feira.
Mercado Digital - Como você enxerga o momento atual para o investimento de risco no mundo e no Brasil?
Julia De Luca – O cenário global está desafiador, com juros elevados e incertezas políticas. Ainda assim, já começamos a ver sinais de reaquecimento e seguimos acreditando que boas teses continuam atraindo capital. Depois de um período marcado por valuations altos e capital abundante, especialmente entre 2020 e 2021, hoje os investidores estão mais seletivos, priorizando fundamentos sólidos e modelos de negócio sustentáveis.
Mercado Digital – Essa é a mesma realidade para o Brasil?
Julia - No Brasil, apesar da cautela, vemos uma janela de oportunidade: os fundos seguem capitalizados globalmente e buscam ativos com crescimento saudável, eficiência operacional e capacidade de geração de valor no longo prazo. Quando falamos de mercados emergentes, o Brasil se destaca frente a seus pares. Um bom exemplo disso é a transação que anunciamos recentemente, em que o Itaú BBA assessorou a Paytrack — um SaaS de Blumenau focado em gestão de despesas e viagens — na sua transação com a Riverwood, um renomado fundo americano especializado em estágios de crescimento (growth).
Do ponto de vista do Itaú Unibanco, vivemos esse momento como um banco que está constantemente se reinventando por meio da tecnologia. Estamos investindo fortemente em IA, cloud e dados para entregar soluções cada vez mais personalizadas, nos aproximando do que há de mais moderno no ecossistema tech. Já temos mais de 1.300 modelos de IA em produção e 470 cientistas de dados atuando em diferentes frentes, o que nos posiciona como um dos maiores hubs de inovação da América Latina.
Mercado Digital – Após três anos de fraca atividade de IPOs, os venture capitals estão lutando contra a falta de liquidez. O que podemos esperar desse momento?
Julia – O ambiente de liquidez restrita exige que todos os players — especialmente os empreendedores — sejam mais estratégicos e cuidadosos. A ausência de IPOs limita a reciclagem de capital nos fundos, pressionando o portfólio a buscar alternativas de saída, como fusões e aquisições ou o mercado secundário.
Esse movimento já é muito claro nos EUA, onde o mercado secundário e os fundos de private equity focados em middle market estão cada vez mais ativos, proporcionando liquidez para fundos de venture capital que investiram nos estágios iniciais. É um movimento que deveria ganhar mais tração também no Brasil e na América Latina — e, na verdade, já vimos algumas rodadas secundárias relevantes no ano passado.
Mercado Digital – Resiliência foi o tema central do South Summit Brazil neste edição, e parece ser também palavra de ordem no mundo dos investimento.
Julia – Sim. Apesar do cenário desafiador, também acredito que é justamente nesses momentos que surgem as melhores oportunidades: negócios que crescem com disciplina, propósito e foco no cliente. O empreendedor precisa manter cautela e foco na operação — com consistência, o capital aparece. Foque em entregar resultado, tenha resiliência e disciplina: dá certo. Por outro lado, é fundamental saber quando encerrar ciclos. Não vale insistir em ideias com baixa viabilidade ou que já mostraram que não vão prosperar. Às vezes, é melhor zerar a pedra do que continuar apostando no que não está dando certo.
Mercado Digital – A Inteligência Artificial generativa segue liderando os aportes. Quais as melhores oportunidades para empreendedores nessa tecnologia?
Julia – A IA generativa já é um verdadeiro divisor de águas. As principais oportunidades estão concentradas em três frentes: automação inteligente de processos, experiências hiperpersonalizadas e copilotos digitais que aumentam a produtividade humana.
No Itaú, estamos explorando profundamente essas frentes — já temos mais de 400 casos de uso em IA generativa e acabamos de lançar a Inteligência Itaú, com funcionalidades transacionais (como Pix via WhatsApp), preditivas e conversacionais, que elevam a experiência do cliente a um novo patamar.

Para os empreendedores, a dica é clara: não se trata apenas da tecnologia em si, mas da sua aplicação real — é preciso resolver problemas concretos, com contexto, segurança e responsabilidade. O mercado valoriza soluções com impacto mensurável e uso ético dos dados. Não acreditamos que um novo LLM vá surgir no Brasil para competir com players como OpenAI, Amazon ou DeepSeek. Mas temos um diferencial: o empreendedor brasileiro é criativo e resiliente — por isso, veremos casos interessantes de uso dos LLMs aplicados a dores específicas do nosso dia a dia.

Mercado Digital – O aumento do nível de exigência dos investidores está acelerando o amadurecimento dos nossos empreendedores?
Julia – Sem dúvida, o momento exige um novo perfil de empreendedor: mais orientado a dados, com foco em eficiência e clareza sobre seu produto. Essa maturidade se reflete em cinco pilares fundamentais:
1. Clareza sobre o problema que resolve e sua diferenciação;
2. Métricas de produto robustas (retention, LTV/CAC, NPS);
3. Disciplina financeira e capacidade de operar com menos recursos;
4. Governança e organização de dados desde o início;
5. Narrativa clara de futuro — saber para onde o negócio pode ir, de forma sustentável.
Mercado Digital – Qual a importância de eventos como o SSB para o ecossistema?
Julia – Eventos como o South Summit Brazil têm um papel essencial no fortalecimento do ecossistema: eles encurtam distâncias entre empreendedores, investidores e grandes empresas. Em um mercado que ainda está se reorganizando após os anos de excesso de capital, ter um espaço como o SSB — onde é possível testar narrativas, validar teses e estabelecer conexões estratégicas — é fundamental.
Para o Itaú, também é uma oportunidade de ouvir o ecossistema, identificar novas tecnologias e reforçar nosso papel como fomentadores de inovação. Nosso compromisso é ser parceiro — seja como banco, seja como plataforma de soluções tecnológicas que ajudem empresas e pessoas a prosperarem.
Mercado Digital – Quais as 5 tendências que moldarão o futuro da América Latina?
Julia  
1. Hiperpersonalização via IA e dados – As expectativas dos consumidores mudaram, e hoje a tecnologia permite experiências individualizadas em escala. Estamos investindo nisso com nosso superapp e com a Inteligência Itaú.
2. Digitalização de PMEs e inclusão financeira – O futuro da região passa, necessariamente, por apoiar pequenas empresas. A tecnologia é peça-chave nesse processo.
3. Cloud e plataformas abertas – A nuvem deixou de ser uma opção e se tornou base. Estamos migrando todos os nossos sistemas para cloud até 2028.
4. Soluções sustentáveis e ESG tech – A nova geração de consumidores valoriza propósito. Startups que integram impacto ao modelo de negócio têm vantagem competitiva.
5. Integração regional e internacionalização – O talento e a inovação da América Latina têm potencial global. Cada vez mais veremos startups regionais expandindo para fora, com apoio de fundos e grandes parceiros locais.

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