Onde há inovação pujante no mundo, há sempre um grande evento atuando como catalisador. E no Rio Grande do Sul, o mais emblemático desses encontros inicia nessa quarta-feira (9). O South Summit Brazil coloca o Rio Grande do Sul no centro das atenções do ecossistema global da inovação até o final da semana. Estão programados palestras, painéis e debates, além da presença de 1 mil investidores e 150 fundos de investimento.
O evento ocupará os quatro armazéns do Cais Mauá e contará com sete palcos de atrações, totalizando 38 mil m². Aliás, considerando o local onde o evento acontece, o tema da edição não poderia ter sido mais apropriado: Beyond Resilience.
As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado também afetaram fortemente a estrutura onde acontece o evento, próximo ao Guaíba. Mais recentemente, no dia 31 de março, as fortes chuvas e os ventos na capital gaúcha causaram danos na estrutura já montada para o encontro e, claro, um alto prejuízo. Desde aquele dia, foi grande a mobilização para a limpeza e a recuperação do espaço.
Agora, o foco está nos debates sobre novas tecnologias e modelos de negócios, no conteúdo e nas conexões de negócios que o South Summit trará. "O nível de engajamento do nosso ecossistema é surreal. As pessoas se sentem parte dessa construção, e isso que dá esse tom tão especial para o South Summit Brazil. Estamos empolgados para mais essa edição”, afirma José Renato Hopf, presidente do South Summit Brazil e do Grupo Four e sócio diretor Raiô Benefícios.
Mercado Digital — Qual o sentimento para mais essa edição do South Summit Brazil?
José Renato Hopf – Estamos empolgados. Por tudo que o Rio Grande do Sul enfrentou com as enchentes, o tema que nos inspira este ano é a resiliência. E não só no sentido climático. Estamos falando da resiliência do empreendedor, das empresas, das instituições. O lineup desse ano está incrível. E mais do que isso, o South Summit continua sendo um evento construído a muitas mãos.
Sempre tivemos essa mentalidade de “um só time”. O nível de engajamento do nosso ecossistema é surreal. Estamos sentindo essa vibe do fortalecimento, de união. O South Summit Brazil, que sempre teve esse drive de ser uma plataforma de negócios, mas muito pautado pelo impacto que deve gerar. Essa colaboração com todo ecossistema é uma característica muito forte desse evento que, no final das contas, é feito por tanta gente. Dá trabalho, mas é uma satisfação muito grande.
Mercado Digital – Não deve ser sido fácil ver a destruição causada pela enchente, e até mesmo gerenciar as dúvidas sobre como seguir em frente.
Hopf — Com certeza. Quando me lembro da época das enchentes, das fotos do Cais Mauá alagado, tudo tomado pela água. Foi um golpe duro. Parte importante do que já havia sido reformado precisou ser refeito, como as questões elétricas e hidráulicas, as paredes, os portões. Mas, tanto o governador Eduardo Leite quanto o prefeito Sebastião Melo falaram na época: temos que dobrar a aposta. Vamos fazer no Cais. A gente precisava demonstrar nossa resiliência e nosso compromisso com essa reconstrução, e foi isso que fizemos.
Resiliência gera esperança e a esperança, por sua vez, gera otimismo. A gente precisa fortalecer nossas bases para termos esperança e construir um futuro melhor. Mesmo depois de tudo o que passamos, dá para sentir um otimismo diferente nas pessoas. Mas temos que lembrar: tem muita gente que ainda não se reergueu. Muitos perderam tudo. Por isso, vamos dedicar parte da programação do evento para dar visibilidade a esses empreendedores que ainda estão em reconstrução.
Mercado Digital – O South Summit se consolida, de fato, como um evento global?
Hopf – Sim, o mais bacana é que o nosso evento é internacional de verdade. Não é só um evento brasileiro com nome em inglês. É um encontro global, realizado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil. Grande parte da programação é em inglês. Temos tradução simultânea, claro. E brincamos que falamos muitas línguas: português, espanhol, inglês — e às vezes tudo misturado. Com a equipe do South Summit Madrid é engraçado: eles falam espanhol, a gente responde em português, e tem gente que só se comunica em inglês. É uma verdadeira torre de Babel, e isso cria uma conexão multilíngue divertida e rica.
Mercado Digital – Como foi o início do seu envolvimento com o South Summit Brazil, quando ainda estávamos na fase de negociações para trazer o encontro para o RS?
Hopf — Onde há inovação pujante no mundo, há sempre um grande evento atuando como catalisador. É o que aconteceu com o SXSW, em Austin, com o Web Summit, em Lisboa, com o Mobile World Congress, em Barcelona, e com o próprio South Summit, em Madrid. Esses eventos atuam como pontos de articulação. Um ecossistema de inovação precisa de startups, universidades, capital humano, governos com políticas de apoio — mas também precisa de conexão global e acesso a capital. Grandes eventos ajudam a articular esses pilares, atraem investimentos e criam uma vitrine internacional.
O South Summit foi uma iniciativa que o Grupo Four apoiou desde o primeiro momento. Era um grande sonho do Pacto Alegre e da Aliança pela Inovação de Porto Alegre, e o governador Leite teve a coragem de puxar para si. Nós nos juntamos à iniciativa dele e trabalhamos em conjunto desde o início. Conversamos com muitas pessoas que se integraram ao processo: a Maria Benjumea, a fundadora do South Summit, que é encantadora, também teve um papel fundamental.
Na época, montamos um grupo de pesquisa que contou com muita gente nesse processo, como o Jorge Audy, Claudio Gastal, Eduardo Lorea, e muitas outras pessoas. Criamos um grupo de trabalho e analisamos grandes eventos internacionais. Quando compartilhamos nossa ideia com a Maria e sua equipe, foi um verdadeiro match de propósito. O South Summit foi criado na Espanha com a lógica de como gerar impacto econômico e social por meio da inovação, especialmente num momento crítico como a crise de 2008/2009, em que 40% dos jovens espanhóis estavam desempregados. A proposta do evento nasceu como uma resposta à crise — e deu certo.
A sociedade civil, universidades, ecossistemas e todos os agentes se envolveram. E esse talvez seja o grande segredo do nosso evento: ele foi construído de forma genuína.