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Queremos mais doutores empreendendo, afirma presidente da Fapergs
Dellagostin destaca importância da retenção de talentos no Estado
TÂNIA MEINERZ/JC
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Patricia Knebel
O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), Odir Dellagostin, acompanha a evolução do ecossistema gaúcho de inovação há muitos anos, mais especialmente desde que assumiu o cargo em 2016, tendo sido reconduzido por duas vezes — um feito incomum para a instituição, que não registrou reconduções durante 25 anos.
O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), Odir Dellagostin, acompanha a evolução do ecossistema gaúcho de inovação há muitos anos, mais especialmente desde que assumiu o cargo em 2016, tendo sido reconduzido por duas vezes — um feito incomum para a instituição, que não registrou reconduções durante 25 anos.
Chegando ao final de seu terceiro mandato, Dellagostin tem uma visão aprofundada sobre a trajetória do Estado tanto em relação à produção do conhecimento científico quanto no avanço da inovação.
A partir desse olhar, é possível entender melhor também os nossos desafios, e um dos principais é a retenção de talentos no Estado. Uma solução, segundo ele, é incentivar o empreendedorismo entre doutores. Em entrevista ao videocast Better Future, do Jornal do Comércio, Dellagostin conta como surgiu essa ideia e como ela está fortalecendo o desenvolvimento de startups no estado.
Mercado Digital - Você foi recentemente eleito membro da Academia Mundial de Ciências. O que representa isso na sua jornada e da própria pesquisa no RS?
Odir Dellagostin — Eu me sinto muito orgulhoso e grato por essa conquista. É um reconhecimento de uma trajetória científica, como professor universitário e pesquisador, e, também, como gestor. No Brasil, foram eleitos 10 membros, sendo duas pessoas do Rio Grande do Sul: eu e a professora Célia Carlini, da UFRGS. O Rio Grande do Sul se destaca nacionalmente em vários aspectos: a nossa ciência é muito robusta, nós somos muito produtivos, temos um grande número de programas de pós-graduação, formamos aproximadamente 10% dos doutores titulados no Brasil e somos o estado mais produtivo em relação a artigos científicos publicados por 10 mil habitantes.
Mercado Digital – A que você atribui essa posição do Rio Grande do Sul na produção científica?
Dellagostin — Eu me fiz essa pergunta quando assumi a Fapergs. Nossa Fundação de Amparo à Pesquisa nunca teve um orçamento que estivesse à altura do nosso estado, como, por exemplo, tem a Fapesp, no estado de São Paulo, que há muitos anos tem um percentual da receita líquida dos impostos que é repassado regularmente à Fapesp. Como pode um estado que tem tido dificuldade em fazer investimentos robustos em ciência e tecnologia ter um ecossistema tão forte? Eu fui buscar essa resposta e constatei que nós somos muito eficientes na captação de recursos de agências federais.
Temos seis universidades federais, o que também nos fortalece bastante. Temos a UFRGS, que é em diversos rankings considerada a melhor universidade federal do país. É claro que não é só a UFRGS. Há duas décadas, a UFRGS contribuía com aproximadamente 70% da produção de conhecimento científico no RS; atualmente, ela contribui com aproximadamente 34% — pouco mais de um terço. É bastante, mas outras instituições também cresceram e hoje estão dando uma contribuição expressiva. No Brasil, a gente vê estados que não têm nenhum programa de pós-graduação considerado de excelência, com notas 6 ou 7. O Rio Grande do Sul tem 83 programas de pós-graduação de excelência, de nível internacional. Quase um terço dos nossos pós-graduandos estão vinculados a estes programas de excelência.
Mercado Digital – Isso também nos coloca como destaque no cenário global?
Dellagostin — Sim. Temos grupos de excelência reconhecidos mundialmente como sendo de referência e isso nos posiciona num patamar muito bom. Além disso, o Rio Grande do Sul tem sido um exportador de talentos. Muitos vêm para o estado, para fazer sua formação, pós-graduação e alguns retornam para os seus estados — não tem nada de errado com isso. Mas, infelizmente, também estamos perdendo pessoas nossas, que estão buscando outras oportunidades fora do estado ou até mesmo fora do país. Então, esse é um ponto de preocupação. Temos feito investimentos, nos últimos anos, para a retenção de talentos. Isso é uma ação importantíssima para que a gente mantenha aqui esses talentos muito formados e preparados, porque nessa área (inovação) o que conta realmente são as pessoas. Sem pessoas qualificadas, sem mentes brilhantes, nós vamos ter mais dificuldade para avançar.
Mercado Digital – Como a Fapergs tem atuado e procurado contribuir nessa parte específica dos talentos?
Dellagostin — A Fapergs tem investido um percentual expressivo do orçamento na formação de talentos — e daqueles mais jovens, com bolsas de iniciação científica e tecnológica, para estimular os estudantes a seguir uma carreira acadêmica ou buscar uma formação em nível de pós-graduação. Eu mesmo fui bolsista de iniciação científica da Fapergs lá no final da 1980, então, eu sei a importância que tem esse estímulo. Não temos feito investimentos expressivos em bolsas de mestrado e doutorado porque no nosso entendimento os nossos programas de pós-graduação estão sendo bem atendidos com bolsas da Capes e do CNPq. Então, não precisamos investir recursos nesse nível de formação, mas estamos investindo expressivamente num nível seguinte que é no pós-doutorado, porque estávamos perdendo muitos talentos por falta de oportunidade.
A absorção dos nossos doutores é menor do que a formação. Muitos querem ficar na academia, e tudo bem, mas nós estamos estimulando doutores a buscar outros caminhos, entre eles, o de empreender. Criamos em 2018 o programa Doutor Empreendedor, que tem como objetivo dar oportunidade a esses jovens doutores a criar empresa para levar aquele conhecimento, novo produto ou processo desenvolvido durante a formação, para levar para o mercado.
Mercado Digital - Como surgiu essa ideia?
Dellagostin — Em 2018, a gente estava com uma crise bastante severa nas agências federais e estava havendo uma diminuição no número de bolsas de pós-doutorado tanto da Capes quanto do CNPq. Ocorreu nesses últimos anos uma diminuição no número de concursos públicos para doutores nas universidades. Conversando com o então presidente do CNPq, o professor Mário Neto, eu comentei que olhando para aqueles números eu constatava que nós tínhamos no país programas para manter os doutores na academia, mas não tínhamos nenhum instrumento para apoiar doutores que quisessem empreender e que, na minha opinião, deveríamos criar uma bolsa para o doutor empreendedor. Ele, então, fez o seguinte comentário: Odir, quem sabe tu crias na Fapergs um programa com 15 ou 20 bolsas e o CNPq dobra esse número.
Mercado Digital – Dessa ideia surgiu o piloto, então?
Dellagostin — Exatamente. Gostei do desafio, voltei de Brasília e a primeira pessoa que eu procurei foi o professor Jorge Audy, que é um grande especialista nessa área e ficou entusiasmado com a ideia. Ele já me deu várias dicas e fomos conversando, evoluindo, outras pessoas também contribuíram. Percebemos a necessidade de ter o Sebrae como parceiro, porque no meio acadêmico, a gente não tem muitos programas que têm esse olhar para o empreendedorismo, que dão a formação básica para os nossos alunos. O Sebrae também gostou da ideia e ainda nos apoia no programa. Na primeira edição (2019), tivemos bolsas Fapergs e CNPq, mais consultoria do Sebrae. Na segunda edição (2022), não tivemos mais o CNPq, porque estava com dificuldades financeiras, continuamos Fapergs e Sebrae — e o Sebrae, inclusive, aportando recursos para apoiar financeiramente o projeto. E agora estamos preparando já a terceira edição, que vai sair no ano que vem e será ainda mais robusta. Queremos mais doutores empreendendo.
Mercado Digital - Quais foram os resultados já obtidos até agora?
Dellagostin — Temos resultados e empresas que estão decolando. São empresas que surgiram do programa Doutor Empreendedor ou do programa Centelha, ou de ambos. Temos, por exemplo, a startup que foi a grande vencedora do South Summit do ano passado, a Ostera, que começou com o programa Centelha, depois aprovou o projeto também no programa Doutor Empreendedor e isso que viabilizou a transformação daquele projeto de doutorado em um serviço que está sendo agora oferecido e tem perspectiva de se tornar um negócio mundial. Ela conquistou o prêmio na categoria de empresa mais escalável.