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Patricia Knebel

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Publicada em 08 de Janeiro de 2025 às 15:57

O que vem aí é perigoso, alerta especialista em ética, sobre Meta

Zuckerberg acusou países latino-americanos de terem tribunais secretos de censura

Zuckerberg acusou países latino-americanos de terem tribunais secretos de censura

SAUL LOEB/AFP/JC
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“O que vem por aí é muito perigoso”. O alerta é do especialista em ética no uso das tecnologias emergentes, Edson Prestes, sobre a decisão anunciada essa semana pelo presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, de acabar com o uso de checagem independente de informações publicadas no Facebook e no Instagram.
O que vem por aí é muito perigoso”. O alerta é do especialista em ética no uso das tecnologias emergentes, Edson Prestes, sobre a decisão anunciada essa semana pelo presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, de acabar com o uso de checagem independente de informações publicadas no Facebook e no Instagram.
“A decisão é chocante. Eles estão abrindo as fronteiras, e isso não é sobre liberdade de expressão, sobre impedir as pessoas de falarem, mas sobre essas ferramentas serem usadas para disseminar conteúdos ofensivos (racistas, xenofóbicos ou homofóbicos). É sobre manipulação de pessoas em grande escala, sem qualquer tipo de filtro”, alerta.
Prestes é professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado em Robótica, e um estudioso desde 2015 dos impactos éticos do uso das novas tecnologias. Ele faz parte de diversas iniciativas voltadas a esse tema e da regulamentação em organizações internacionais e multilaterais, como Fórum Econômico Mundial e ONU.
Recentemente, coordenou na Unesco a criação de um relatório que avalia o grau de maturidade do Brasil em IA ,que será lançado no dia 11 de fevereiro, em Paris.
A Meta tinha introduzido o programa de verificação de fatos em 2016 como medida para conter a desinformação. Desde aquela época, o papel do Facebook já vinha sendo muito criticado na divulgação de falsas notícias durante as eleições presidenciais nos EUA.
Nesta terça-feira, Zuckerberg disse que a checagem independente será substituída por notas de comunidade, ou seja, a precisão dos fatos é definida pelos próprios usuários. Medida similar já é adotada pelo X, ex-Twitter.
O executivo alegou que as checagens têm levado a decisões erradas tomadas contra “pessoas inocentes”. Vale destacar que diversos influenciadores têm reclamado de punições recebidas pelo Instagram nos últimos meses, como a proibição de fazer lives ou por terem posts retirados do ar por não cumprirem as políticas das redes sociais.
Já no início do seu anúncio, Zuckerberg comentou que criou o Facebook para dar voz às pessoas, e se refere à necessidade de uma volta à livre expressão nas redes sociais. Segundo ele, governos e a mídia têm atuando como censores, com objetivos políticos.
Ele foi além, afirmando, sem apresentar provas, que “os países latino americanos têm tribunais secretos de censura”. Ele citou Donald Trump no seu discurso e disse que irá trabalhar para proteger os direitos das empresas americanas, numa clara aproximação com o presidente eleito dos EUA. Essa semana, o executivo da Meta apresentou os novos membros do seu conselho de administração - um deles é o presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC), Dana White, aliado de Trump.
Edson Prestes afirma que as pessoas ainda não têm e exata noção dos riscos destas novas tecnologias e plataformas e vê, inclusive, riscos à própria democracia. “Os indivíduos acham que tudo que aparece nas redes sociais é a verdade absoluta. Vivemos cada vez mais em bolhas, com uma visão parcial do mundo”, destaca.
O especialista defende a tomada de ações para coibir isso. “Precisamos de mecanismos fortes regulatórios. Se a ideia deles é abrir as fronteiras e acabar com os filtros, que arquem com as consequências. Não podemos ter evasão de responsabilidade”, aponta.
Com o olhar de quem há anos acompanha esse mercado, Prestes acredita que o que está sendo feito, na verdade, é a criação, aos poucos, de mecanismos de autoproteção para o que ainda virá lá na frente.
“A IA generativa está avançando rápido, bem como a possibilidade de um uso também negativo da tecnologia, como para o desenvolvimento de armas químicas e a manipulação de vídeos de atrocidades. É quase como se parte do mercado estivesse de preparando para, quando algo acontecer, se isentarem de toda responsabilidade da divulgação disso”, projeta.

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