Em um vídeo publicado nesta terça-feira (7), o presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou que a empresa vai acabar com o uso de checagem independente de informações publicadas no Facebook e no Instagram. A medida começará a ser adotada pelos Estados Unidos.
A checagem independente será substituída por notas de comunidade, ou seja, a precisão dos fatos é definida pelos próprios usuários. Medida similar já é adotada pelo X, ex-Twitter.
O executivo alegou que as checagens têm levado a decisões erradas tomadas contra “pessoas inocentes”. Vale destacar que diversos influenciadores têm reclamado de punições recebidas pelo Instagram nos últimos meses, como a proibição de fazer lives ou por terem posts retirados do ar por não cumprirem as políticas das redes sociais.
Já no início do seu anúncio, Zuckerberg comentou que criou o Facebook para dar voz às pessoas, e se refere à necessidade de uma volta à livre expressão nas redes sociais. Segundo ele, governos e a mídia têm atuando como censores, com objetivos políticos.
Ele foi além, afirmando, sem apresentar provas, que “os países latino americanos têm tribunais secretos de censura”. Ele citou Donald Trump no seu discurso e disse que irá trabalhar para proteger os direitos das empresas americanas, numa clara aproximação com o presidente eleito dos EUA. Essa semana, o executivo da Meta apresentou os novos membros do seu conselho de administração - um deles é o presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC), Dana White, aliado de Trump.
No Brasil, o Instituto de Defesa do Consumidor (IDC) manifestou preocupação com as mudanças anunciadas por Zuckerberg na moderação de conteúdo do Facebook, Instagram e Threads. Segundo a entidade, a substituição de verificadores de fatos por notas comunitárias e a redução de filtros de moderação podem aumentar a circulação de desinformação, discurso de ódio e conteúdos nocivos nas plataformas.
“Essas alterações afrontam iniciativas regulatórias legítimas e impactam diretamente o dia a dia dos usuários, expondo-os a fraudes, abusos e informações enganosas que podem prejudicar ações cotidianas, como compras online e busca de informações sobre saúde. Além de também ser potencialmente perigosa em períodos eleitorais, o enfraquecimento das regras de moderação diminui a segurança das plataformas, especialmente para grupos mais vulneráveis, como idosos, pessoas negras, crianças e adolescentes”, disse a nota.
Em entrevista para a Agência Brasil, a especialista em direito digital da Coalizão Direitos na Rede, Bruna Santos, disse que a iniciativa é “lamentável” e mostra um alinhamento da gigante da tecnologia com o novo governo de extrema-direita dos EUA.
“Essa decisão da Meta cria uma falsa dicotomia entre a liberdade de expressão dos EUA versus o redor do mundo, inclusive quando cita as cortes secretas. Ele deixa claro que os EUA voltam a ser o centro único de poder, demonstrando muito bem como que vai ser o jogo de poder daqui para frente”, destacou Santos.