Em um país com as dimensões e a riqueza cultural do Brasil, as oportunidades para empreender deveriam ser amplificadas, para todos os cantos do país. É com essa visão que a empresária, investidora e jurada do Shark Tank Brasil, Monique Evelle, assumiu o desafio de ajudar a escalar as iniciativas do Hub Salvador, na capital da Bahia, junto com a Inventivos - plataforma de formação, conexão e investimentos em empreendedores - que fundou com Lucas Santana.
Aliás, Salvador é a quinta idade brasileira com maior potencial de consumo, representando R$ 100 bilhões segundo dados do IPC Maps 2024. Nos último cinco anos, a economia das atividades criativas e culturais na Bahia gerou quase R$ 8 bilhões no total da economia baiana.
Monique participa ativamente desta evolução, inclusive ajudando a criar conexões para que atrair investimentos internacionais – marcas comandadas por Beyonce, Viola Davis e Rihana escolheram Salvador para lançamentos recentes de novos projetos. Nesta entrevista, ela destaca como cidades fora do eixo Rio-São Paulo, como Salvador, Porto Alegre e Novo Hamburgo, estão se tornando polos de inovação e empreendedorismo.
Mercado Digital - O que podemos esperar da sua parceira com o Hub Salvador?
Monique Evelle – Tenho reforçado a importância de Salvador para ter um plano robusto, e parte desse plano é justamente um ecossistema que promova oportunidades para negócios crescerem de forma sólida e sustentável. Estamos falando de um contexto que não apenas estimula a inovação, mas que também confirma as particularidades de ser uma cidade fora do eixo Rio-São Paulo. A minha parceria com o Hub Salvador marca um novo momento, focado em gerar impacto coletivo e potencial de retorno econômico e social para a cidade. Já podemos ver sinais disso: empresas internacionais já escolheram Salvador e o Hub como sede no Brasil, o que demonstra a potencialidade da nossa cidade. Isso é apenas o começo das novidades. Nosso foco agora é atrair mais oportunidades externas para a capital baiana, ao mesmo tempo que reverberamos esses resultados internamente, gerando impacto social e econômico.
Mercado Digital – Como podemos descentralizar as oportunidades para que elas cheguem a todos empreendedores de todo o Brasil?
Monique – Quando se pensa em negócios bem-sucedidos no Brasil, é comum que São Paulo e Rio de Janeiro sejam os primeiros nomes citados, pois historicamente essas cidades concentram as maiores oportunidades e investimentos. Essa imagem é reforçada internamente nesses centros, fazendo com que empreendedores de todo o Brasil acreditem que é ali onde as melhores oportunidades estão. O que precisamos fazer é quebrar essa percepção centralizadora e mostrar que há muito mais acontecendo além do eixo Sudeste.
A descentralização é crucial para criar novas oportunidades em todo o Brasil, especialmente para a nova geração de empreendedores. Salvador, Porto Alegre, Novo Hamburgo são exemplos de cidades que estão começando a se destacar nesse cenário. De acordo com uma pesquisa recente do Sebrae Startups Report Brasil 2022-2023, houve um aumento na criação de startups em regiões fora do eixo Rio-São Paulo - inclusive, o Rio Grande do Sul aparece como o terceiro maior estado atendido pelo Sebrae Startups. Esses dados revelam que o movimento de descentralização está ganhando força e é capaz de gerar impacto nacionalmente.
Mercado Digital – Quais iniciativas, nesse sentido, têm chamado a sua atenção?
Monique – Nas minhas viagens, palestras e negócios, faço questão de apresentar essas oportunidades e dados de Salvador, porque, se por acaso o mercado não as reconhece ou ignora, precisamos tornar esses potenciais visíveis. Por exemplo, o Hub Salvador, que é uma estrutura robusta para fomentar o empreendedorismo local, além de instituições como o Senai Cimatec, que impulsionam a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico na região e com reflexos nacionais. Negócios de impacto como a AfroSaúde e Solos, que têm foco em ESG, são exemplos de como Salvador está propondo soluções inovadoras e sustentáveis. Acredito que, ao tornar esses exemplos mais visíveis, podemos estimular outras cidades a seguir esse caminho e criar ecossistemas igualmente potentes para os novos empreendedores.
Mercado Digital – Você é otimista quando pensa no que podemos ter de futuro se mais cidades tiverem essa visão?
Monique – O relatório “Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental 2023", que aponta que 41% dos negócios de impacto no Brasil estão fora do eixo Sudeste, com um crescimento expressivo no Sul e Nordeste. Isso demonstra um esforço contínuo para expandir o ecossistema de negócios de impacto e democratizar o acesso ao financiamento, incluindo o Rio Grande do Sul. Se mais cidades adotarem essa visão de fomentar o empreendedorismo, poderemos ver uma descentralização ainda maior dos ecossistemas de inovação.
Acredito que o Rio Grande do Sul, com seu forte potencial cultural e educacional, pode seguir esse caminho e criar um ambiente de negócios que não só atraia, mas também retenha talentos, impulsionando o empreendedorismo ainda mais.