Pedro Waengertner, fundador e CEO da ACE Ventures, investidora de startups early-stage, é reconhecido por sua capacidade de fomentar o empreendedorismo em larga escala. Com mais de 150 startups investidas e inúmeros cases de sucesso, que levaram a ACE Ventures a ser eleita pela Startup Awards como Melhor Venture Capital de 2023, Waengertner está lançando seu terceiro livro, Contra a Corrente – Estratégias da vida real para você tirar a sua ideia de negócio do papel e começar a empreender.
Mercado Digital — Como surgiu a ideia para esse novo livro sobre empreendendorismo?
Pedro Waengertner — Eu sempre sou convidado para participar de um evento do Sebrae em São Paulo, a Feira do Empreendedor, que é uma feira imensa. Um dos espaços é sobre startups, só que o público que mais participava não era de empreendedores de startup; eram os visitantes que estavam ali. Eu palestrava e, no final, formava-se uma fila. As pessoas me faziam as mais diferentes perguntas e eu dava vários conselhos. Pensei: poxa, esse é o empreendedor do Brasil; não é só o startupeiro. Vi que poderia ajudar empreendedores de uma maneira mais ampla. Então, decidi transformar um pouco dessas conversas que eu tive ao longo dos anos em conselhos que não estão em manuais. Na banca, o que a gente vê são títulos "como ficar rico", "mentalidade do sucesso", "caminho da vitória", "se aposente antes dos 30 anos"... é tudo voltado para o dinheiro, para o sucesso e para o que os outros pensam sobre a gente. No final do dia, a atividade do empreendedor não é para qualquer um. É preciso lidar com um monte de demônios que estão ali todos os dias. Então, eu não quis um livro de técnicas, tecnologias, metodologias. E aí veio a inspiração, o nome do livro veio do ato de empreender. Eu falo que quando você vai criar alguma coisa, ninguém vai te estender um tapete vermelho. Você vai enfrentar uma super resistência. Aí vem a coisa de ir contra a corrente.
Mercado Digital — Qual é a maior dificuldade quando alguém resolve montar um negócio?
Waengertner — Quando você trabalha numa empresa, você tem um chefe. Aí, é fácil entender se está fazendo um bom trabalho ou não. Quando você vai empreender, contrata uma posição em um coworking, chega no primeiro dia, pega o café, abre o computador, e agora? Qual é a minha meta do dia, do mês? Não tem chefe demandando. O que eu deveria estar fazendo? Esse é o maior dilema. Se você for escalar o Everest, botar a mochila nas costas e simplesmente ir, vai morrer. Tem que se preparar. Empreender é a mesma coisa. Se você está achando que vai dominar o mundo, vai se frustrar muito rápido. Então, é preciso fazer o raciocínio de trás para frente: quero dominar o mundo, mas este mês vou dominar o meu bairro. Coloca uma meta muito realista e exequível, com prazo de tempo para você mesmo. Você vira o seu chefe. Outro desafio é priorizar brutalmente as coisas que você precisa fazer, porque se não faz isso, acaba o ano e você não construiu nada. Tem que priorizar aquilo que você quer construir e dizer não para o resto.
Mercado Digital — O ecossistema empreendedor brasileiro está mais maduro?
Waengertner — Sem dúvida. A gente já está tendo empreendedores de segunda e terceira viagem, mas mesmo aqueles que estão começando tem muito recurso disponível, programa de aceleração, apoio, além de programas governamentais e privados. Tem tanta inspiração para a gente, porque o nível de qualidade está legal. O problema é que, às vezes, a qualidade dos conselhos que esses empreendedores recebem varia bastante; não é regular. Então, é muito importante separar o joio do trigo. Mas eu acho que o nível está aumentando e o legal é que o que antes era muito focado em startups, a gente está vendo todos os setores falando, por exemplo, de MVP, de validação dos negócios. Isso é muito legal. Os conceitos estão se espalhando.
Mercado Digital — Como você avalia o momento hoje do Brasil para os investimentos nas empresas que estão começando?
Waengertner — Em primeiro lugar, a grande maioria das empresas criadas não entra em uma trilha de investimento. Tem que ter uma característica muito específica para ser "investível", o que não quer dizer que você não precise financiar seu negócio. Ou seja, ir para o jogo de investimento é algo para as startups, pois essas empresas têm um tipo de empreendedor, de projeto e de regras que são muito específicos e demandam muito mais capital. Mas veja o caso de uma pessoa que está criando uma consultoria e quer captar investimento. Quantas conversas já tive com empreendedores que vão criar negócios que não são “investíveis” e querem captar investimento. Esclareço que não é esse caminho e o que poderia fazer, por exemplo, se financiar pelo próprio cliente (que é normalmente o caminho da consultoria), se beneficiar de verba pública, verba de fomento. Dependendo do modelo de negócio, pode usar dívida, tem muitos instrumentos que pode utilizar. O Venture capital é uma categoria que funciona para um tipo de empresa, que são startups. Tem que alinhar a expectativa para o tipo de negócio que se está criando.
Estratégias da vida real para você tirar a sua ideia de negócio do papel e começar a empreender
ACE/Divulgação/JC
Mercado Digital — Qual é o seu conselho para quem quer empreender?
Waengertner — O mais importante, antes de entrar nessa brincadeira, é: não entre porque o mercado está bombando de dinheiro. Entre porque você sentiu que é uma coisa que você precisa fazer. Sabe aqueles formulários em que se tem que preencher a profissão? No começo da minha carreira eu colocava publicitário (que é a minha formação). Depois de muito tempo eu botei empresário. E hoje eu sou empreendedor. Porque a minha profissão é empreender e eu vou estar empreendendo para sempre. Não sei no que exatamente, mas sempre vou estar criando algo. Eu me defini como empreendedor e eu acho que isso é o que as pessoas têm que fazer. Tem gente que pensa em criar um negócio, vender por milhões e se aposentar. Essas pessoas não vão ter o gás necessário para suportar o que vai acontecer com elas.