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Patricia Knebel

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Publicada em 29 de Julho de 2024 às 17:53

Tem muita camada de ineficiência para eliminar, diz CEO da Warren

CEO da Warren diz que País vive uma melhor safra de empreendedores

CEO da Warren diz que País vive uma melhor safra de empreendedores

Warren/Divulga??o/JC
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Embora o mercado financeiro esteja passando por uma grande transformação, a exemplo do que estamos acompanhando em relação ao open banking e às inovações trazidas pelas fintechs, ainda há muitas mudanças a serem promovidas. Quem tem participado desse processo e quer avançar mais nessa agenda é Tito Gusmão, CEO e sócio-fundador gestora Warren. Primeiro entrevistado do videocast Better Future (iniciativa do Jornal do Comércio que tem como host essa colunista), ele compartilha essa visão, destaca o papel da Warren nesse contexto e aborda a importância da descentralização financeira.
Embora o mercado financeiro esteja passando por uma grande transformação, a exemplo do que estamos acompanhando em relação ao open banking e às inovações trazidas pelas fintechs, ainda há muitas mudanças a serem promovidas. Quem tem participado desse processo e quer avançar mais nessa agenda é Tito Gusmão, CEO e sócio-fundador gestora Warren. Primeiro entrevistado do videocast Better Future (iniciativa do Jornal do Comércio que tem como host essa colunista), ele compartilha essa visão, destaca o papel da Warren nesse contexto e aborda a importância da descentralização financeira.
Mercado Digital – Tivemos avanços importantes no sistema financeiro brasileiro, mas, na sua visão, qual é o grande problema que ainda precisa ser corrigido para termos um modelo mais justo?
Tito Gusmão Tem muita camada de ineficiência, na Faria Lima (rua em São Paulo, considerada o principal centro financeiro do Brasil) que dá para eliminar. Tem muito o gato gordo que não faz nada e acaba recebendo um fee, que engorda o bônus dele, mas, para o empreendedor, faria uma diferença gigante na vida. E o Banco Central está nisso, tentando descentralizar. Acho que tem muito espaço para descentralização em toda a cadeia, desde como você investe até como você toma empréstimo.
Mercado Digital – Quais as teses de mercado da Warren?
GusmãoNossa tese é que existem três problemas na indústria de investimento. O primeiro é que investir é difícil demais para o ser humano normal, que está fora da bolha da Faria Lima. Porque você entra lá numa plataforma de investimentos e é como entrar num restaurante com cardápio chinês: se tiver a foto do prato ainda dá para escolher, senão complica. Então, o que as pessoas fazem é delegar para um terceiro essa decisão de investir. E aí surge o segundo problema que é o conflito de interesses, porque o cara que indica investimentos ganha comissão sobre o produto que ele indica, então, eventualmente (ou invariavelmente) ele vai indicar aqueles que são melhores para ele. O profissional de investimentos ele é fantástico e a maioria absoluta deles faz um trabalho incrível, mas acabam pagando pelos que não fazem. E tem a questão da ineficiência do mercado.
Mercado Digital – Como vocês querem resolver esses problemas?
Gusmão – Primeiro, sobre a complexidade, a gente mudou a jornada do investidor dentro da plataforma. Ao invés de você entrar e encontrar 500 tipos de ações, 500 tipos de fundos e 300 tipos de produtos de renda fixa, a tua tomada de decisão é para que você quer investir. É muito mais fácil falar de sonhos do que falar de códigos de bolsa e pré-fixado e pós-fixado, VGBL, PGBL. Como a gente resolve o conflito de interesses? Cobramos um fee transparente na gestão do patrimônio das pessoas e, quando a gente coloca produtos na carteira dos clientes, devolvemos as comissões que recebemos. Então, a gente sempre vai botar o melhor produto para o cliente. Isso é disruptivo? Na real, não. É assim que os super ricos sempre investiram, os donos das grandes corretoras e dos grandes bancos. Nós não inventamos esse modelo, apenas democratizamos isso. E como é que a gente resolve a ineficiência do mercado? Criamos uma linha de produção, existe um time que constrói a locação melhor para os clientes e o time de relacionamento na ponta tá fazendo relacionamento com os clientes e aí a conexão dessas duas pontas é a tecnologia. Hoje, 30% a 35% da empresa é tecnologia.
Mercado Digital – O quanto a experiência na XP moldou sua visão no mercado?
TitoUma das grandes histórias de empreendedorismo no Brasil é a XP, que saiu aqui de Porto Alegre, de uma salinha, para se tornar uma empresa que vale vários bilhões de dólares. E para mim foi uma grande escola, que me ensinou a dar liberdade para as pessoas. Eu diria que foi o 2.0 da indústria financeira. E aí, onde chega a Warren, é o 3.0, a evolução; é o aluno querendo passar o professor. A Warren é também uma plataforma aberta, com acesso a tudo que existe de bom em produtos e serviços financeiros, mas num modelo 100% alinhado com o cliente – com zero conflito de interesses.
Mercado Digital – Em 2023 a Warren alcançou o breakeven. Como é que foi a sensação de alcançar o equilíbrio da operação?
Gusmão — Com o breakeven, a gente compra liberdade de não precisar depender de dinheiro de investidor para sobreviver e continuar desafiando a indústria. Mas aí eu vou dar minha dica aqui para empreendedores, e é por isso que empreender é um sofrimento incrível: você tem que estar o tempo inteiro com aquela sensação de que não está bom, e é essa a sensação que eu tenho. Isso me dá ansiedade, e eu tenho que tomar, às vezes, remédio para dormir. Então eu não consigo te dar um discurso lindo. Pô, legal, mas e agora como é que a gente gera milhões aqui no caixa para a gente crescer?
Mercado Digital - O cenário do Venture Capital está atento para negócios mais maduros. Como você analisa isso?
Gusmão — A gente vive um momento diferente de venture capital, pois os investidores estão colocando dinheiro em empresas com negócios mais sólidos. Antes, se você tinha um PPT lindo, eles colocavam dinheiro pensando no futuro. Talvez o momento de agora mate a inovação, porque muita inovação surgiu daquela forma: a gente não sabe direito o que que vai acontecer, mas toma dinheiro aí e vai construindo alguma coisa. Agora é muito mais no economics, né? O que se observa é se a parte econômica fica de pé, se consegue cobrar do cliente e ser uma empresa rentável.
Mercado Digital – Mas esse amadurecimento também será bom para o mercado, não é?
Gusmão — Sim. O que a gente vê agora é uma safra de melhores empreendedores, sejam os que passaram por toda essa turbulência sejam os novos que já chegaram com esse olhar para o economics. Mas eu não acho que é uma coisa eterna, porque se existem duas palavras que mandam no mercado financeiro são: euforia e pânico. Isso sempre foi assim. A gente pega a história, desde a bolha das Tulipas, que aconteceu antes de Revolução Industrial, na Holanda, quando uma tulipa simplesmente começou a valer mais porque uma pessoa falou que valia e aí outras começaram a comprar. E aí o preço começou a subir, entrou no movimento de euforia e o preço não parava de subir. Se não me engano, uma florzinha chegou a valer o preço de uma casa em Londres. Aí, um belo dia, alguém pensou “mas só um pouquinho, a Tulipa vale uma casa em Londres” e aí começou a vender. Saiu da euforia, lá em cima, e desabou. Nisso deu uma quebradeira geral, inclusive, atrasou a Revolução Industrial. Agora, em relação aos VCs, a gente vê que a curvinha do pânico já inflexionou para cima, que alguns deals já começaram a acontecer, tem um ou outro IPO. A indústria ainda não acelerou, mas já está começando a acontecer algumas rodadas de investimento.

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