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Patricia Knebel

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Publicada em 12 de Junho de 2024 às 16:09

RS precisa pensar soluções não óbvias para futuro

Laura destaca importância da resiliência associada à coragem para reconstrução

Laura destaca importância da resiliência associada à coragem para reconstrução

Divulgação/JC
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Situações desafiadoras, como a que o Rio Grande do Sul está enfrentando, nos colocam diante da necessidade de repensar propósitos e ambições, no sentido do que pretendemos construir daqui para frente. Para Laura Kroeff, vice-presidente da Box1824, empresa especializada em mapear cenários para identificar movimentos, comportamentos e iniciativas que indiquem novas realidades e contextos, os gaúchos têm demonstrado a capacidade de resiliência diante das dificuldades. Combinar essa característica com a coragem para inovar e buscar possibilidades que estão em aberto neste momento é o desafio daqui para a frente. Nesta entrevista, a especialista também fala dos futuros especulativos e de como uma mudança no nosso modelo mental pode nos levar, de fato, a mudanças mais profundas.
Situações desafiadoras, como a que o Rio Grande do Sul está enfrentando, nos colocam diante da necessidade de repensar propósitos e ambições, no sentido do que pretendemos construir daqui para frente. Para Laura Kroeff, vice-presidente da Box1824, empresa especializada em mapear cenários para identificar movimentos, comportamentos e iniciativas que indiquem novas realidades e contextos, os gaúchos têm demonstrado a capacidade de resiliência diante das dificuldades. Combinar essa característica com a coragem para inovar e buscar possibilidades que estão em aberto neste momento é o desafio daqui para a frente. Nesta entrevista, a especialista também fala dos futuros especulativos e de como uma mudança no nosso modelo mental pode nos levar, de fato, a mudanças mais profundas.
Mercado Digital — Como podemos preparar a cidade e o estado para enfrentar situações futuras de forma mais resiliente?
Laura Kroeff — O Rio Grande do Sul tem uma história de resiliência que é resgatada em momentos de crise, como a enchente de 1941. Somos muito adaptativos, temos muitos recursos para lidar com situações extremas, às vezes mais do que pensamos. É algo que vimos muito na pandemia. E geralmente é assim: quando a gente passa por uma coisa muito difícil na vida é que nos damos conta de que temos recursos para experimentar aquilo, e eu sinto que essa resiliência está bem latente. Agora, como ser corajoso e conseguir fazer alguma coisa de um jeito que não fizemos antes? Esse é o ingrediente-chave para estar junto com essa resiliência. O momento é muito oportuno para isso, até para pensarmos em parcerias improváveis.
Mercado Digital — Você mencionou recentemente em uma palestra sua que um dos motivos para não termos uma economia mais regenerativa é a visão distópica do futuro. Pode explicar essa ideia?
Laura — Um autor que gosto muito, Paul Hawken, autor do livro "Regeneration: Ending the Climate Crisis in One Generation", diz que nosso cérebro não responde bem a ameaças futuras, mas reage melhor a incentivos positivos. O ponto é que a gente, hoje, caminha seguindo a direção do futuro que a gente enxerga, mas só produzimos conteúdos sobre um futuro distópico, seja no cinema ou na literatura. A gente só consome um futuro apocalíptico. Esses teóricos afirmam que não avançamos mais rápido porque nos falta história, nos falta referência do que seria a alternativa para esse futuro distópico. Precisamos construir essas alternativas, esses futuros positivos, do que imaginamos que seja esse amanhã mais sustentável, mais positivo, para o país, para o Estado, para a humanidade.
Mercado Digital — Como aplicar essa lógica no contexto de uma cidade ou estado que precisa se reconstruir?
Laura — Utilizamos duas metodologias: a construção do prisma de valor e a jornada de transformação. O prisma de valor ajuda a definir nosso "moonshot", ou seja, nossa grande ambição. Já a jornada de transformação divide o processo de como alcançamos essa ambição. O que a gente chama de prisma de valor baseia-se em três pilares: resolver um grande problema, identificar a vocação do estado ou cidade e estabelecer uma ambição de longo prazo. Cada região tem suas particularidades e vocações. Por exemplo, o Rio Grande do Sul tem vocações diferentes de São Paulo ou de Santa Catarina. É a mesma coisa que a gente faz quando pensamos isso para uma organização, seja uma ONG, seja uma empresa. Então, precisamos pensar: o que faz parte da vocação do estado (é o que temos no nosso cinturão de superpoderes) e o que nos torna diferentes (é o que sabemos fazer muito bem). E aí, quando conectamos essas duas coisas: o que a gente quer resolver com as coisas que a gente faz muito bem? Como construímos uma visão de longo prazo, que a gente chama de ambição? Chamamos de ambição porque ela é mais do que uma visão. Por exemplo, no caso de uma organização, a ambição é conectar um objetivo de negócio com um objetivo de impacto socioambiental positivo também.
Mercado Digital — Você acredita que precisamos começar a pensar mais nas melhorias disruptivas?
Laura — Eu gosto muito dessa ideia [que combina vocação com ambição]. Qual é o nosso moonshot? No que o Rio Grande do Sul dez vezes melhor? Qual é a vocação que a gente está focando e o que a gente quer fazer diferente? Que tipo de coisas que a gente quer resolver aqui no estado? Para fazer isso, podemos falar de futuros especulativos também. O design especulativo vai falar exatamente disso, de como você consegue abrir a cabeça e fazer não só o óbvio, que está ali entre o utópico e o distópico, mas enxergar que outras possibilidades que existem. Acho que já é um caminho importante, porque leva o nosso pensamento para lugares que não são óbvios, que não é só o caminho inercial. Ao invés de pensarmos apenas nas pequenas melhorias que precisam ser feitas, vamos pensar um Rio Grande do Sul que não tem mais nenhum problema de enchente, que não tem mais esse problema econômico, que vai ser o estado mais rico da América Latina. Pode parecer impossível, mas se não nos permitirmos pensar nesses futuros impossíveis, fica muito difícil sair desse cenário de só pensarmos nas melhorias apenas incrementais. Se mirarmos apenas nos 10% de ajustes que precisam ser feitos, não conseguiremos atingir nem esses 10%.

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