“Seremos oficialmente o primeiro hub global que nasceu em uma pandemia e sobreviveu à enchente”.
As palavras do diretor executivo do Instituto Caldeira, Pedro Valério, são de esperança e de convicção na retomada, mesmo em meio à dor das perdas causadas pelas chuvas que destruíram parte do Rio Grande do Sul e atingiram o hub de inovação gaúcho em cheio.
Localizada no Quarto Distrito, uma área que no passado já havia vivido um êxodo de pessoas e que agora celebrava, justamente, a sua revitalização, a sede ficou debaixo d’água.
O primeiro andar foi duramente atingido pelas águas. Da tradicional caldeira, onde aconteciam muitos dos eventos, a arquibancada, o estúdio, o Startup Village (que abrigava as startups), o Brasco, áreas de trabalho compartilhadas, tudo foi impactado. No total, 69 empresas ocupavam a área. Ainda é difícil prever os prejuízos e o que pode ou não ser recuperado, pois ainda há muita água no local.
“Estamos com uma estrutura de segurança 24x7 há uma semana e com o time de operações atuando na sede de forma bem pontual em iniciativas de recuperação, drenagem e planejamento de limpeza do hub para podermos avaliar os impactos gerados”, conta Valério. Alguns pontos chegaram a registrar mais de 2 metros de água.
“Talvez tenham coisas que possamos reutilizar, mas a verdade e que tivemos uma perda incalculável em toda estrutura elétrica, hidráulica, paredes de gesso e piso, sem contar as áreas das empresas”, lamenta.
O próprio escritório do hub foi inundado. Uma parceira foi criada com arrozeiros gaúchos e o Dmae para reconectar as bombas 3 e 4 e retomada a 5 para tentar reduzir o nível de água do local até o fim dessa semana.
Desde que tudo aconteceu, tanto o time do Caldeira como muitas das empresas da comunidade estão atuando no Tecnopuc.
O Caldeira, claro, já pensa no retorno das operações. “Nosso plano de ação é uma rápida retomada do hub pelo segundo e terceiro andares, que ficaram intactos, além das estruturas que serão criadas para atender as empresas e startups que ficavam no térreo” relata.
Até um bunker será criado, em parceria com um player de tecnologia, para proteger servidores das empresas que habitam o Caldeira e evitar que cenários como esse interrompam novamente as operações no futuro.
E se o receio de alguns era das empresas abandonarem o projeto, o que se tem visto é o contrário.
“Sempre falamos que o Instituto Caldeira não é um prédio, é uma comunidade, e é exatamente isso que estamos presenciando. Tem empresas nos procurando agora para se tornarem membros e outras que anteciparam a renovação dos contratos”, relata.
Pedro Valério diz que o Caldeira não pretende sair do Quarto Distrito, mas defende que esse seja um momento de inflexão para toda cidade e Estado.
Para ele, a grande questão é em qual a cidade que queremos viver?
“O problema do Caldeira é, na verdade, o mesmo de todo Rio Grande do Sul. Essa é uma circunstância única para decidirmos qual o tamanho da nossa ambição. Como desenhar as cidades daqui para a frente de forma a manter protegidos os negócios e a vida das pessoas?”, questiona.
Hub prepara projeto de refundação para buscar recursos
Uma reunião do Conselho de Administração do Instituto Caldeira na próxima semana deverá dar início a um movimento de refundação do hub de inovação gaúcho. Há três anos, o projeto foi colocado de pé a partir da aposta e do investimento de cerca de 40 grandes empresas, como Lojas Renner, Vulcabrás, Gerdau, Agibank e Banrisul.
Agora, com a sede afetada pela força das águas, a meta é buscar apoio para a retomada. “Ainda estamos desenhando a estratégia, mas a perspectiva é abrir para refundadores beneméritos, buscando empresas interessadas, inclusive de fora do Brasil e de outros estados, que foram menos impactados”, revela Marciano Testa, fundador do Agibank, presidente do conselho e um dos idealizadores do Caldeira.
O empresário faz questão de assegurar dois pontos importantes sobre o futuro do Instituto. O primeiro deles é a crença no Quarto Distrito. “Apesar do impacto, continuamos acreditando na região”, diz.
O outro ponto é a manutenção dos planos de expansão da área, para o prédio na frente do atual. A meta, anunciada recentemente, é passar a ocupar a estrutura dos antigos prédios da fábrica Tecidos Guahyba, um espaço com cerca de 33 mil m², sendo 21 mil m² de área construída; ampliando a área total do Caldeira para 55 mil m². O investimento projetado pelo hub na nova área é de cerca de R$ 120 milhões, valor que virá de empresas e instituições vinculadas à própria comunidade Caldeira.
Porém, Marciano Testa destaca a importância do Caldeira seguir sendo percebido como um projeto estratégico para o Rio Grande do Sul.
Para isso, o empresário traz dados importantes. As companhias que fazem parte do Instituto hoje representam 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul. Os empregos diretos gerados por estes players somam mais de 10 mil.
“O Instituto Caldeira tem um impacto considerável em termos de economia, geração de emprego, educação de jovens da periferia e renda para o Estado. Vamos precisar de investimento e cuidado”, cita.
Testa também faz um clamor para o poder público. “Como cidadão e como empresário que investe no RS, tanto através do Agibank como do Caldeira, tenho a expectativa de que possamos canalizar boa parte dos investimentos que serão feitos no Estado em infraestrutura que garanta que empresas e pessoas não tenham mais esse impacto severo como tivemos nessa última enchente. Precisamos dar uma resposta”, alerta.