Mesmo em cenário de contenção dos investimentos, decorrente de fatores como a alta dos juros, a interação entre empresas tradicionais e startups mantém-se cada vez mais relevante. Para o presidente da Randoncorp, Daniel Randon, essa conexão permite que as organizações tenham contato não apenas com a inovação, mas participem do desenvolvimento dos novos negócios e da formação de talentos. No final de 2023, a Randoncorp foi reconhecida entre as principais companhias brasileiras que se conectam com iniciativas de inovação aberta pelo Ranking 100 Open Startups 2023.
Mercado Digital – Como você analisa o cenário atual para investimentos em startups?
Daniel Randon – Macroeconomicamente, os últimos anos acabaram sendo de elevação dos juros no mundo. O próprio Brasil chegou a juros perto de 3%, período em que tínhamos uma facilidade de obtenção de capitais, o que levou a um boom de investimentos em startups. Nos últimos anos, para conter a inflação, acabamos vendo um aumento dos juros. Agora é um momento em que se começa a ter uma visão dos juros em queda. Passando essa fase difícil dos últimos dois anos, sem dúvida, isso reforça a possibilidade de uma retomada de investimentos maiores em startups, até porque startup é um projeto: espera-se um retorno no médio ou longo prazo.
Mercado Digital – Mesmo com juros altos, a expectativa é positiva para essas conexões?
Daniel Randon – As expectativas são boas porque, quando a gente olha o mundo das startups, cada vez mais as empresas, as organizações e os próprios setores público e privado têm buscado alternativas de colaboração para resolver projetos ou melhorar processos. No caso da Randoncorp, estamos com uma história de 75 anos de empresa e desde 2017 iniciamos essa caminhada de contatar startups até hoje. Nos últimos três a quatro anos, temos feito investimentos em startups tanto diretamente, via nosso fundo, a Randon Ventures, como através de outros fundos parceiros.
Mercado Digital – Você percebe um nível maior de maturidade das empresas que vocês estão buscando investimento?
Daniel Randon – A questão do dinheiro mais escasso faz com que as escolhas se voltem para projetos em que acreditamos ter um retorno maior. Ao mesmo tempo, retomam-se alguns projetos que foram deixados de lado pelas próprias empresas ou startups. Então, por isso, eu acho que existe esse momento que as pessoas começam a estar um pouco mais otimistas, mas é sempre um desafio, porque os juros ainda estão altos. Quando o custo do capital começa a reduzir, outros projetos que não estavam viáveis começam a se tornar viáveis.
Mercado Digital – O que a companhia busca ao se conectar com as startups?
Daniel Randon – No caso da Randoncorp, o investimento é mais baseado em negócios que agreguem valor para a companhia, olhando não somente como um investidor que busca o retorno. Então, a gente avalia o projeto, se está dentro do nosso conceito de soluções para o transporte, se nós podemos incrementar negócios via Randoncorp ou dos seus canais ou dos seus parceiros. Se o projeto é viável, está dentro dos nossos valores e pode contribuir ou no incremento de negócios, melhorar um serviço ou a competitividade junto ao nosso cliente, aí é uma tese de investimento que é aprovada. Mas nós temos um funil grande. De três mil startups que olhamos, chegamos a umas 80 em todo processo de governança e due diligence até chegar ao investimento. Hoje investimos em sete startups, como minoritários.
Mercado Digital – Para este ano tem alguma perspectiva em termos de números de aportes?
Daniel Randon – A gente tem circulado um pipeline em algumas startups. Vamos avaliando e seguindo o processo até chegar ao comitê executivo e aprovar, se estiver dentro dos limites dados pelo conselho. Agora, se for um valor acima aí tem que subir para o conselho e seguir todo o trâmite de governança que a empresa tem. A gente fica muito feliz por ver cada vez mais uma gama de oportunidades de negócio.
Mercado Digital – Estamos em um momento em que os CVCs (Corporate Venture Capital) estão crescendo muito. Você, como um gestor de uma grande empresa tradicional que está se transformando, como avalia a importância desse movimento para essas empresas que não são da nova economia?
Daniel Randon – Acho que o mais importante para nós é olhar o ecossistema. Temos o exemplo do Instituto Caldeira, que é um grande movimento, onde tem várias empresas conectadas acompanhando as tendências e oportunidades de negócios. O CVC contribui dentro dos ecossistemas. Para as empresas, principalmente tradicionais, é uma oportunidade ímpar de estarmos aqui investindo. Precisamos respirar esse ecossistema, acelerando projetos e fomentando algo que a gente sempre fala: as pessoas. O foco é atrair, cada vez mais, esse capital, que são as pessoas, e isso só se faz com ecossistemas de inovação. Porto Alegre tem sido um exemplo com o próprio Instituto Caldeira, South Summit Brazil e o Gramado Summit. Na região da Serra, temos o Instituto Hélice, em Caxias do Sul, e o Instituto Aliança, no Norte do Estado, além de outros ecossistemas, junto com universidades, com o setor público e o setor privado.
Mercado Digital – A Randoncorp está com um espaço no Caldeira, qual a expectativa de vocês?
Daniel Randon – Estamos muito felizes com a Rands, que é uma das nossas verticais da Randoncorp. Essa área de serviços, para nós, tem sido muito importante, mas, principalmente, fazer parte disso. Estamos há muitos anos falando com o próprio José Galló, o Marciano Testa e com o Pedro Valério, do Caldeira, e agora viemos para cá. Estamos muito felizes em poder participar deste ecossistema. Para a Randoncorp é importante. Estamos com 30 unidades industriais e nossos produtos chegam a mais de 120 países; não tem como não estar aqui dentro do Caldeira nesse ecossistema de inovação que representa uma das grandes oportunidades de crescimento sustentável no nosso Estado. É um orgulho poder estar aqui. O nosso propósito é conectar pessoas e riquezas, gerando prosperidade.