Antes "fornecedora", Procergs entra na estratégia digital do RS

Cerca de R$ 90 milhões programados para investir no período 2022-2023

Por Patricia Knebel

Em 2023, permanecerá o investimento de R$ 90 milhões, afirma Leal
O Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado (Procergs), companhia que durante décadas suportou as ações de tecnologia do Rio Grande do Sul chegou, finalmente, à mesa das discussões estratégicas do governo. Parecia óbvio que a instituição deveria ocupar esse espaço, especialmente em tempos de aceleração da digitalização de absolutamente tudo que envolve a vida das pessoas.
Mas, durante muito tempo não foi assim. Agora, esse novo momento tem sido decisivo para a melhora dos resultado da companhia, que esse ano seguirá investindo os cerca de R$ 90 milhões programados para o período 2022-2023. Confira mais detalhes nesta entrevista com o presidente da Procergs, José Antonio Leal.
Mercado Digital – A Procergs passou por um período difícil, e agora avança depois de bons resultados. Como foi essa virada?
José Antonio Leal – De fato, em 2019, tivemos que reposicionar a empresa para acelerar no digital. A Procergs vinha de um prejuízo acumulado e, em 2020, revertemos e começamos a ficar superavitários. Isso é resultado de uma gestão mais profissional e a participação da empresa em uma posição mais estratégica no governo do Estado. Entramos em um governo que colocou o digital como foco, e finalizamos quatro anos da gestão anterior com excelentes resultados. E o mesmo será agora, já que estamos com foco grande na desburocratização do governo e na oferta de serviços digitais aos cidadãos e às empresas.
Mercado Digital – Como acontece, na prática, essa posição mais estratégica hoje da empresa no governo?
Leal – Antes éramos fornecedores de serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) do governo do Estado. A discussões sobre os projetos aconteciam direto com cada secretaria. Hoje temos uma cadeira na mesa de discussões sobre tecnologia, que definem o posicionamento do Rio Grande do Sul no mundo digita.
Mercado Digital – Que resultados desta estratégia já podem ser contabilizados?
Leal – Em 2022, ano no qual comemoramos cinco décadas da Procergs, tivemos o melhor resultado operacional da empresa na história - R$ 490 milhões de faturamento em 2022. Tudo fruto do reposicionamento da empresa. Seguimos com a implantação dos cerca de R$ 90 milhões de investimento projetados desde o ano passado para o período 2022-2023. Passamos a criar novos produtos, criamos uma diretoria de digital que atua focada em projetos de aplicativos, blockchain, ciência de dados e Inteligência Artificial. Hoje somos o estado mais digital do País. E o mercado reconhece isso. Estamos na primeira colocação no índice de digitalização de todos os governos, e recentemente ganhamos uma premiação global da consultoria Gartner de inovação em TIC pelos governos.
Mercado Digital – Como fazer com que as ações de governo digital cheguem a todo Estado?
Leal – Essa é uma meta nossa. Tanto que passaremos a levar essa experiência da Procergs para todos os municípios por meio do RS Digital, lançado no South Summit Brazil. Pelo menos 30 cidades já aderiram. A ideia é que os serviços passem a ser consumidos através de um único marketplace.
Mercado Digital – Qual o grande desafio que precisa ser vencido para o Brasil avançar na sua estratégia de governo digital?
Leal – O grande calcanhar de aquiles é não termos uma evolução contínua entre os estados, já que existem hoje níveis muito diferentes de maturidade. Começamos a trabalhar com o Conselho das Afiliadas da Associação Brasileira de Entidades Estaduais e Públicas de Tecnologia da Informação e Comunicação (ABEP-TIC), da qual sou presidente, uma visão de conseguirmos fazer as coisas em conjunto. Ao invés de cada estado fazer os seus projetos, podemos encontrar pontos de convergência e fazermos juntos para, assim, entregar com mais rapidez e com menor curso para todos. Queremos usar soluções criadas regionalmente para melhorar todos os estados. Claro que existem questões a serem analisadas com cuidado, mas é possível avançar.
Mercado Digital – Como esse foco em dados impacta a oferta de melhores de serviços aos cidadãos?
Leal – Devemos usar cada vez mais ciência de dados e a Inteligência Artificial para fazer políticas públicas preventivas, como evitar desvios e disponibilizar data lakes, os repositórios de dados para o consumo da sociedade. Hoje temos informações dos cidadãos desde que eles nascem até quando falecem, já que cuidamos também dos pensionistas. São dados ricos que, se bem trabalhados, resultam em inteligência de mercado, como sobre onde comprar um produto com menor preço. É o caso do Menor Preço - Nota Gaúcha, aplicativo que permite pesquisar o menor preço de um produto em mais de 300 mil estabelecimentos do Rio Grande do Sul, entre lojas, farmácias, postos de combustível e supermercados.