A menina e a pipa (Editora Intrínseca, 192 páginas, R$ 59,90, tradução de Sofia Soter) é o novo romance da consagrada escritora, cineasta, roteirista e atriz francesa Laetitia Colombani, que publicou o romance best-seller A trança, sucesso editorial na França com mais de 1.4 milhões de exemplares vendidos e adaptado para o cinema. Laetitia publicou também As vitoriosas. Os dois livros foram lançados no Brasil pela Intrínseca.
A menina e a pipa apresenta uma protagonista, a professora Léna, que tenta fugir de si mesma após a morte trágica do marido. Ela se exila num pequeno vilarejo na Costa do Coromandel, no extremo oriente da Índia. Ela encontra alento no ritual de tomar banho de mar pelas manhãs, quando só os pescadores estão de pé.
Certo dia, por um descuido proposital ou mero infortúnio, a correnteza a leva para o fundo e Léna começa a se afogar. Como numa cena orquestrada pelo destino, ela é salva por uma menina que costumava ver na praia, brincando com uma pequena pipa. A menina pediu ajuda para a Brigada Vermelha, um grupo de mulheres que praticam autodefesa e treinavam ali perto. Elas faziam isso para tentar se defender da violência de gênero no país. Elas salvaram Léna.
Léna, agradecida, experiente como professora, em retribuição decide ensinar Preeti, líder da Brigada, e Lalita, a menina da pipa, a ler e escrever. Léna queria desvendar o que havia atrás do silêncio absoluto de Lalita, cujo tutor não queria deixá-la ter aulas. Ele dependia dela no restaurante da família e os costumes indianos são contra a educação feminina, especialmente das dalits, a camada social mais baixa no sistema de castas indiano.
Depois dos acontecimentos inesperados, Léna vê novos propósitos para sua vida e tem a ideia de abrir uma escola no vilarejo, com o apoio da Brigada Vermelha e de alguns moradores. Nem todos são a favor de Léna, que enfrentará grandes desafios. Como se vê, o romance é uma história inspiradora e emocionante sobre autodescoberta e a potência avassaladora da sororidade.
Otelo (Elo Editora, 130 páginas, R$ 67,00), tragédia do genial William Shakespeare, adaptada em prosa por Flávia Côrtes, escritora e roteirista , com modernas ilustrações de Rodrigo Mafra, traz o general mouro Otelo que, em Veneza, a serviço, conhece e se casa com a nobre Desdêmona. Eles vão para a Ilha de Chipre. Lá se envolverão com o alferes Iago e sua mulher Emília, por vários interesses.
Todos os pardais do mundo (Memorabilia, 134 páginas), de Márcio Grings, escritor, colunista de jornais, radialista e poeta, traz 260 Haicais. Edição bilíngue, com apresentações de Daniela Barbosa e Ronaldo Lippold. "Santa Maria, / sem praias ou monumentos / Os mais belos montes" e "Com dó do adversário, / Subo no ringue / & levo um soco no olho" estão na obra.
Epicuro - Carta sobre a felicidade e outros escritos (L&PM Pocket, 176 páginas, R$ 32,90), com tradução do grego, apresentação , comentários e notas de David Bezerra, traz um dos maiores pensadores gregos. Ele fala de controle de si, ou dos desejos, de conhecimento das regras da natureza, de amizade, justiça e simplicidade. O epicurismo segue válido até nossos dias e refere que o objetivo maior de pensar é ser feliz.
O frio, o calor, as estações, a lua e suas fases, as estrelas e as constelações, o sol e a chuva existem nos calendários de papel, na real e dentro de nós. Dentro de nós, essas coisas todas, muitas vezes, aparecem fora das épocas ou dos dias dos calendários oficiais. Nossas vidas não são tão certinhas e arrumadinhas como as notas das Quatro Estações de Vivaldi.
Esse verão, por exemplo, oficialmente começou dia 21 de dezembro de 2024 e terminou dia 21 de março no nosso Hemisfério Sul. Foi um verão caliente, acho que patrocinado pelas fabricantes de aparelhos de ar-condicionado. Como acontece há alguns anos, o ano no Brasil não começou só depois do Carnaval. As notícias preocupantes, além de algumas boas, não deram folga nem no Natal e fim de ano.
Depois das sagradas orgias natalinas, do pilequinho e das eternas promessas do Réveillon, aí é que o verão realmente começava, dentro e fora de nossas cabeças. Não valia o calendário. Nos primeiros dias de janeiro a gente vestia as fantasias brancas da imortal e profissional esperança patropi, cancelava todos os compromissos possíveis, engavetava os problemas e, se possível, tirava férias, pendurava as dívidas velhas e deixava envelhecer as novas. Entrevistas de emprego, noivado e casamento ficavam para mais adiante.
A gente respirava o ar do Ano Novo e pensava que no Brasil, graças a Deus, a coisa toda ia se resolver depois do Carnaval. Quem podia ia para o Rio de Janeiro e, naquela época dourada, ficava na casa de alguma tia em Copacabana, curtia praia, Carnaval de rua e as maravilhas daquele Rio ainda não tão dominado pela criminalidade.
Nesse verão nem nos domingos de manhã o escalafobético e estonteante noticiário político-econômico-sexual deu folga. Escândalo de hoje enrolado no jornal de hoje mesmo e bombas em cima de bombas nas redes antissociais. Velhas e terríveis novidades da política e da economia, crises e desastres não aguardaram o Carnaval e ficaram aí estragando as festas, as praias, serras, os churrascos das lajes e das mansões nos condomínios e coberturas.
Antes a gente pegava um fusquinha, umas roupinhas leves, uns mantimentos, um calção desbotado, um velho caniço e um tubo de Paraqueimol e ia para Pinhal, Cidreira, Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa e Torres para um veraneio básico: chalé, mar, sol, inofensivas tatuíras, areia, banana, puxa-puxa, cachacinha, peixe, abacaxi, segurança, calmaria, aluguel de pangarés com direito a fotos, rede e artesanato local, sonho e rapaduras em Santo Antônio da Patrulha, controle de velocidade light nas estradas, curvas, passarinhos, árvores e pão quente de Glorinha, na linda e serpenteante estrada velha.
Lua, estrelas, sol, mar, nuvens, alguma chuva, lua, estrelas... O tempo, o mar e o verão não tinham pressa. O fardo do jornal Folha da Tarde, a vespertina, era jogado nos cômoros a partir do aviãozinho teco-teco. As noticias leves de verão pousavam preguiçosas, calmas, para não atrapalhar o sossego dos veranistas, que naqueles tempos queriam apenas sossego, como na futura e gostosa canção do inesquecível Tim Maia.
Neste início de primavera 2025, diante de tudo, é bom lembrar, sem saudosismo demais, dos verões de 1950-2000 e pensar que o tempo é só um ponto de vista dos relógios, como versejou o Mario Quintana. O melhor mês nas praias segue sendo março. Praias ensolaradas desertas, casas, apartamentos e hotéis hospedando a brisa... E la nave va! Vida e estações seguem sem se preocupar com números e rótulos. Dentro de nós as quatro estações vão e vem, como ondas do mar, num eterno retorno, não se importando se é preto ou vermelho na folhinha.
(Jaime Cimenti)