Porto Alegre, qua, 26/03/25

Anuncie no JC
Assine agora
Livros
Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 23 de Janeiro de 2025 às 19:28

A Fábrica, um absurdo e falta de sentido da vida moderna

a fábrica

a fábrica

/TODAVIA/DIVULGAÇÃO/JC
Compartilhe:
Jaime Cimenti
A Fábrica (Todavia, 144 páginas, R$ 71,90, tradução de Jefferson José Teixeira), romance de Hiroko Oyamada, uma das jovens escritoras japonesas mais talentosas da atualidade, é uma história baseada em experiências profissionais da autora, que trocou de emprego três vezes em cinco anos, trabalhando para grandes empresas.
A Fábrica (Todavia, 144 páginas, R$ 71,90, tradução de Jefferson José Teixeira), romance de Hiroko Oyamada, uma das jovens escritoras japonesas mais talentosas da atualidade, é uma história baseada em experiências profissionais da autora, que trocou de emprego três vezes em cinco anos, trabalhando para grandes empresas.
Hiroko publicou os volumes de narrativas Kojo e Ana e já recebeu os importantes prêmios Shincho, Oda Sakunosuke e Akutagawa por sua prosa bem estruturada, calcada na realidade, mas com enormes cargas de fantasia. A escrita de Hiroko revela influências de Kafka, Haruki Murakami e Mario Vargas Llosa e mereceu comentários elogiosos, entre outros, do Publishers Weekly e London Magazine.
A Fábrica é enorme, um cinza que se estende a perder de vista. Parece uma cidade. Tem supermercados, agências de viagens, postos de combustível, conjuntos habitacionais e até mesmo pontes. Veículos com a logomarca da Fábrica estão sempre circulando e há sempre algum morador da região que trabalhou ali. Preocupados com a educação dos filhos, os pais procuram convencer os jovens a ingressar na Fábrica, para um ter um futuro brilhante.
A jovem Yoshico, recém-saída da universidade, acha que trabalhar lá é realizar um sonho, não importando o tipo de trabalho. Para ela não importa se o contrato é por hora, por tempo determinado e que tenha que ficar operando uma trituradora de documentos todo o tempo. Ela atua com os jovens Yoshio, ex-pesquisador de musgos na universidade, e Ushiyama, engenheiro de sistemas que passa a ser revisor e lidar com folhas de papel, canetas e lápis.
Os três jovens se dedicam a uma liturgia industrial, ao trabalho fabril, que, como um culto a um deus desconhecido e impiedoso, rege o tempo de cada um deles. A narrativa surreal e perturbadora de Hiroko é um retrato ácido do absurdo e da falta de sentido da vida moderna.
 

Lançamentos

o que resta de nós

o que resta de nós

/GUTENBERG/DIVULGAÇÃO/JC
Terapeuta de bolso (Editora Intrínseca, 320 páginas, R$ 69,90), da psicoterapeuta, escritora e pesquisadora Annie Zimmerman, com base em anos de prática clínica, apresenta exercícios e orientações para que os leitores se libertem de velhos padrões e transformem seus relacionamentos, hábitos e vida em geral. Ansiedade, solidão, depressão e relacionamentos estão na obra.
Me chamo milagre (Planeta, 272 páginas, R$ 48,00), do consagradíssimo médico, escritor e psicoterapeuta Augusto Cury, o psiquiatra mais lido do mundo e o autor brasileiro mais lido das últimas décadas, traz a fascinante história de uma menina superinteligente educada por um psicótico superdivertido, que superou pobreza, abandono, bullying, ansiedade e psicose.
O que resta de nós (Gutenberg, 272 páginas, R$ 44,90), da escritora francesa Virginie Grimaldi, autora de ficção mais vendida na França, é romance comovente sobre o acaso envolvendo 3 vidas e 3 histórias. Iris, 33 anos, carrega sua vida numa mala. Théo, 18, tem poucos sonhos e não concretizados. Jeanne,74, só vê a vida pelo retrovisor. No mesmo teto, os três vão aprender a conviver.
 

Sonhos de umas noites de verão

Não se assustem que não vou falar sobre a famosa peça teatral de Shakespeare, a comédia Sonho de uma Noite de Verão. O papo aqui é outro e está mais drama do que para a comédia. Calderón de La Barca disse que toda a vida é sonho e que os sonhos, sonhos são. Mario Quintana, sempre e eternamente ele, disse que sonhar é acordar-se para dentro. Já o gigante argentino Jorge Luis Borges disse, como última mensagem para Lygia Fagundes Telles, que nunca esquecesse dos sonhos. Há quem goste de pensar em sonhos 'lúcidos', quando a pessoa está consciente de que está sonhando e pode controlar o enredo.
Hoje em dia está ainda mais perigoso dar opiniões, mesmo com data e especialmente sobre certos assuntos momentosos. O bicho está pegando. É como o velho dito de décadas atrás: não acho nada sobre tudo o que está aí, porque tinha um amigo que achava e agora não acho o meu amigo... Como eu quero continuar a ser um achado, fico quieto e ganho as discussões não começando-as. Hoje está perigoso até pensar, ou planejar alguma coisa que seja, sobre certas ações que de repente nem ocorrerão.
Bem, mas tanto quanto eu saiba, o vasto e nebuloso território dos sonhos ainda é livre. O choro, de preferência escondido, também é livre. Certos sonhos melhor não contá-los. Mas eu andei tendo um sonhos que não são comprometedores e assim posso expressar livremente seus 'conteúdos oníricos', como diria algum terapeuta palavroso.
Sonhei que era muito jovem e que vivia em um país imaginário, distante, perto do Japão, onde havia muitas urnas eleitorais com impressoras para os votos. Os nativos estranharam quando souberam que em alguns locais do planeta não havia impressoras nas urnas e aí o sonho seguiu.
Aí num outro país vizinho e imaginário me levaram até o prédio modesto onde trabalhavam os Notáveis, pessoas graduadas, probas e experientes que opinavam, voluntária e gratuitamente, sobre os destinos da pátria.
Nesse país me mostraram como funcionava o sistema parlamentarista, com primeiro-ministro sangue bom, de fino trato e congresso ficha limpa, para qualquer necessidade.
Na continuação da viagem onírica aos países orientais imaginários , soube que na República dos Dragões Milenares as reeleições para cargos executivos estavam suspensas por tempo indeterminado, pois os contribuintes tinham chegado à conclusão que segundos mandatos não estavam rolando muito bem.
Nos sonhos, nos países visitados, os cidadãos , os líderes públicos e privados e as autoridades em geral estavam focados nos interesses públicos legítimos e reinava a pluralidade democrática pacífica e um controle severo sobre as contas públicas.
No final dos sonhos das noites de verão, surgia sempre em campo um time de futebol com camiseta vermelha e que ganhava todos os campeonatos há seculos, derrotando sempre nas finais o time de camisas azuis, que lutava bravamente e valorizava as vitórias do time rubro.

A propósito...

Quando acordei, anotei num caderno espiral tudo o que lembrei e algumas coisas que acho que inventei, não sei bem e nem quero saber. No sonho, nos pensamentos e na memória a invenção pode e deve correr solta. Na real é bom escolher a melhor versão da verdade. O direito ao sonho livre é mais velho do que a Arca de Noé e nenhum ser humano digno desse nome pode ser privado dele. Podem dizer que sou apenas um sonhador, mas, como diz o John Lennon, não sou o único. E ainda bem que sonhar não dá cana. (Jaime Cimenti)
 

Notícias relacionadas

Comentários

0 comentários