Muito embora especialmente depois do término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a cultura e o poder dos Estados Unidos da América tenham aumentado sua influência e se espalhado por muitas partes do mundo, o certo é que a língua, a civilização e a cultura francesas seguem importantíssimas, ao lado da economia e da política.
Dicionário da Memória Afetiva - Minha França (Editora Sulina, 440 páginas, R$ 90,90), do experiente e consagrado jornalista, escritor, tradutor e professor universitário Juremir Machado da Silva, apresenta um delicioso e apaixonado conjunto de verbetes sobre sua paixão pela França, sua cultura, seus personagens e locais. Amigos, atletas, atores, atrizes, aulas, avenidas, bares, batalhas, bebidas, belezas, bibliotecas, bistrôs, cafés, champanhas, campos, casas, castelos, cidades, cinemas, diários, diretores de filmes, divas, professores e muito mais estão nas páginas da obra que tem, como o próprio título indica, o afeto como fio condutor.
Juremir fez doutorado e pós-doutorado na França e foi professor visitante na Universidade Paris IV e na Universidade Paul Valéry- Montpellier3, da qual é Doutor Honoris Causa. Juremir escreveu dezenas de livros, entre os quais o romance histórico Getúlio (2004) e História regional da infâmia: o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras, ou como se produzem os imaginários (2010). Com intensa atividade na imprensa escrita, no rádio e na televisão, Juremir atualmente escreve no jornal eletrônico Matinal e segue proporcionando visões independentes, inovadoras e questionadoras sobre pessoas, acontecimentos e mundo atuais.
Nesse alentado Dicionário da Memória Afetiva, Juremir fala de seus mestres Edgar Morin, Jean Baudrillard e Michel Maffesoli, dos quais foi aluno e de grandes escritores como Michel Houllebecq, Pierre Minchon, Luc Ferry e Maurice Dantec. Ao contrário do que muitos dizem, a literatura francesa atual não é chata e não está morta, ensina Juremir, profundo conhecedor da matéria. Juremir tem três livros publicados na França.
Os verbetes de Juremir abarcam elegância, entrevistas, esperanças, esportistas, festas, festivais de cinema, filmes, gestos, histórias, homens, ídolos, jogadores de futebol, museus, sonhos, romances, universidades, vilarejos, vinhos, confit de pato e muita coisa mais de quem, durante 30 anos, foi duas vezes por ano à Cidade Luz e a outros locais da França. Paris é a capital da França, mas Paris não é a França, como dizem os franceses, sempre opiniáticos e bem informados. Há quem diga que o francês é um italiano mal humorado... Que são parecidos, isto são.
Juremir fala com entusiasmo do Le Marais , para ele o bairro mais bonito do mundo, especialmente em junho. Place des Vosges, Rue des Rosiers, falafel, por aí, d'accord Juremir. Quase tão bonito quanto o Bom Fim e a Redenção.
O volume tem prefácio de Gilles Lipovetsky e posfácio de Philippe Joron.
Enfim, se você quer conhecer Paris e a França não sendo um mero turista (nada contra turistas) e curtir uma de flâneur sem carteirinha, aproveite o simpático dicionário afetivo do Juremir. Andar por aí, sem destino, encontrar desconhecidos íntimos, aguçar os cinco sentidos e a mente e descobrir novas nuances dentro e fora de si, é disso que trata a obra. Ah, não perca a sala dos Van Gogh no Museu D' Orsay. Sente-se por uns minutos, ao menos, e contemple a arte pura. Não passe rápido só fotografando. Se o fizer, não conte para mim nem para o Juremir. Boa leitura e boa viagem!