Tailor Diniz, consagradíssimo e premiado escritor, jornalista e roteirista, lançou, há poucos dias, seu 23º. livro, o eletrizante romance policial, o thriller Jogos Imperfeitos (Casa de Astérion Contemporânea, 208 páginas). O tema não poderia ser mais atual, nacional e internacional: as bets que tanto agitam as pessoas e os esportes pelo mundo. Um jogador profissional em ascensão num importante time brasileiro é assassinado, e daí muita ação rola.
Tailor Diniz é autor, entre outros, do premiado livro de contos Transversais do Tempo (Editora Bertrand), que recebeu o Açorianos de Literatura de 2007, e do romance Novela Interior, que recebeu o Prêmio Jacarandá. Tailor teve várias obras adaptadas para o cinema, que foram premiadas em festivais, e seu romance A superfície da sombra foi publicado na Bulgária. Seu romance Os canibais da rua do Arvoredo foi finalista do Prêmio Jabuti 2024 na categoria romance de entretenimento.
Nesse envolvente policial Jogos Imperfeitos, Tiarles Viga é o jogador profissional em ascensão de um grande time, atleta que passa por dificuldades financeiras imensas, devido ao tratamento do filho, que necessita de medicamentos importados caríssimos, e do pai, que é doente de câncer terminal. Um grupo de aliciadores que manipulam jogos se envolve com Tiarles, que é convencido a cometer um pênalti a partir dos quarenta minutos do segundo tempo, num importante clássico do futebol brasileiro. Ele entra em campo decidido a cometer o delito, mas, pelas circunstâncias do jogo, não cumpre o prometido. E os criminosos não perdoam quem contraria seus interesses.
Muito embora clara e expressamente ficcional, os leitores vão perceber que a narrativa encontra "coincidências" com o que anda acontecendo pelo mundo real. Imprensa esportiva, publicidade das chamadas Bets, vício e jogatina estão em Jogos Imperfeitos e na vida brasileira e internacional.
Tailor Diniz mostra uma vez mais que é um dos grandes nomes da literatura atual e que se tornou mestre no romance policial, ambientando suas histórias em Porto Alegre, interior do Rio Grande e, agora, em cenário federal.
Profissões para mulheres (Maralto Edições, 92 páginas) traz o famoso ensaio de Virginia Woolf traduzido por Adriana Lisboa e ilustrado em cores por Marilda Castanha, em bela edição de capa dura. Virginia pergunta o que é uma mulher, no que deve trabalhar e aponta a necessidade de um quarto e uma mente para elas.
Nossos mitos (Editora Pallas, 112 páginas, R$ 66,00), do professor e escritor Yaguarê Yamã, enriquecido com ilustrações em cores de Danirampe, apresenta contos de horror de origem indígena e cabocla, ligando as entidades às suas mitologias e etnias, descrevendo habitats e características.
Comigo na livraria ( L&PM Editores, 216 páginas, R$ 43,00), da consagrada cronista, poeta e escritora Martha Medeiros, traz dezenas de textos que mostram seu amor pelos livros, desde a meninice até a idade madura. Com reflexões divertidas e bem-humoradas, Martha fala de vida, morte, sexo, conflitos geracionais e de sua atividade de escritora.
Em 2012 escrevi uma crônica intitulada Os cartões de Natal da Dometila. A Dometila era na vida real a querida e saudosa Loiva Jardim Machado, prima do meu saudoso sogro Anastácio Jardim de Oliveira. Ela nos deixou há poucos dias, em paz, aos cem anos de idade. Poucas semanas antes de falecer, ela ainda tocava piano e cantou na festa de seus 100 anos. Este ano não recebemos os cartões de Natal que Loiva enviava pelo correio, pontuais como a primavera, no início de dezembro.
Os endereçamentos nos envelopes e as simpáticas mensagens nos lindos cartões eram manuscritos com caligrafia caprichada, letras desenhadas, como convinha a uma professora jubilada. Loiva, viúva aos 53 anos, tinha filhos, netos e bisnetos, mas até os noventa e muitos era independente e morava sozinha. Andava de lotação, caminhava, fazia exercícios, ioga, tocava piano, cantava, dançava, fazia trabalho voluntário e viajava. Parecia não ter tempo para se queixar das pessoas e da vida.
Num mundo onde a pressa, a impessoalidade, a descortesia e a agressividade nos meios eletrônicos são crescentes, os cartões e os recados delicados de Loiva fazem falta, mas não serão esquecidos. Eles servem de inspiração para a gente sorrir, dar bom dia, pedir licença, oferecer desculpas, chegar na hora e dizer muito obrigado. Outras pessoas no lugar de Loiva desistiriam de mandar cartões, alegando que não têm tempo e que ninguém responde.
Loiva tinha a determinação das baixinhas, a consciência de sua missão e gostava de fazer a sua parte, se comunicar com os parentes e amigos, sem ficar esperando pelos retornos dos outros. Os cartões de Loiva eram muitíssimo mais que cartões. Eles pareciam um pouco com o recado de um náufrago, colocado na garrafa. Mas só pareciam. Loiva não era náufraga e nem pensava em naufrágios. Ela tocava seu barquinho, em meio às alegrias e mesmo contra os inevitáveis ventos e marés da vida.
Hoje em dia cartas, mensagens, cartões e outras comunicações impressas estão em desuso. Nesses tempos eletrônicos, os cartões e mensagem de Natal são enviados pelos celulares, redes sociais, e muitos são bonitos e inspiradores. O volume de mensagens e a rapidez com que são enviadas e lidas faz parte de nossas relações líquidas, como ensinou o grande pensador Zygmunt Bauman. Não custa desacelerar um pouco, ao menos, especialmente no final de ano, com muitas festas, ruídos, palavras, lembranças de vivos e falecidos, de tempos e memórias que se misturam como as cores de um velho caleidoscópio.
Os recados que nos deixou Loiva, com seus cartões, suas delicadezas, seus telefonemas amáveis e seu exemplo de vida têm tudo a ver com o melhor espírito de Natal, com as mensagens de Jesus e com a boa vontade entre as pessoas que a gente agora procura reforçar. O melhor das festas de fim de ano, especialmente a passagem do ano novo, é pensar que o último dia do ano não é o último dia do tempo e que, enquanto houver vida e memórias boas, haverá esperança e histórias para contar.
Depois de tantos séculos de ciências e inovações, depois de tantos Natais e finais de ano, os cientistas, inclusive os de Harvard, descobriram que para se viver mais e melhor é preciso, antes de tudo, cuidar da própria saúde física e mental, ter bom relacionamento com a família, com os amigos e colegas.
É isso. Desejo bons hábitos, alimentação correta, bom sono, exercícios e muito amor para meus trinta e sete leitores. Loiva, onde você estiver, obrigado pelos cartões e por tudo. Fica com Deus!
Feliz Natal!!!!!
(Jaime Cimenti)