Nexus - Uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à inteligência artificial (Companhia das Letras, 504 páginas, R$ 89,90) é o livro mais recente de Yuval Noah Harari, consagradíssimo professor, filósofo, historiador e autor dos best-sellers internacionais Sapiens, Homo Deus, 21 Lições para o século XXI e da série de livros infantis Implacáveis 10. Harari é PhD por Oxford e professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, além de pesquisador da Universidade de Cambridge.
Harari acha que não merecemos o título de sapiens. Ele entende que em 100 mil anos acumulamos poder, descobertas, invenções e conquistas, mas que a humanidade se arrastou para uma crise existencial. Catástrofe ambiental causada por nós, tensões internacionais tornando difícil a cooperação global e inteligência artificial que pode fugir ao controle e nos escravizar ou aniquilar são tópicos da obra. Poder não é sabedoria, diz Harari.
A primeira parte do livro fala da história das redes de informação e dilemas de pessoas em todas as épocas sobre a questão, com construção de sociedades humanas contrastantes. Mitologia, burocracia e conflitos ideológicos e políticos são analisados. A inteligência artificial foi a maior revolução da informação, mas só a entenderemos comparando com as outras.
A segunda parte fala de informação em sistemas democráticos e autoritários, de liberdade e de concentração de informações. Estados Unidos e União Soviética são analisados e as escolhas de fluxos de informação trazem vantagens e desvantagens.
A terceira e última parte da obra fala sobre como diversos tipos de sociedades podem lidar com as ameaças e promessas da rede de informação inorgânica e como as democracias podem lidar com ela. Como a nova rede de informação pode influir no equilíbrio de poder entre sociedades democráticas e totalitárias no plano mundial? A inteligência artificial pode desiquilibrar para um dos lados? Podemos nos unir em torno de interesses comuns? São questões que estão na obra.
Está tudo bem! (Editora Bestiário, 106 páginas, R$ 50,00), de Vera Ione Molina, consagrada professora e escritora, graduada e pós-graduada em Letras pela Pucrs, tem textos sensíveis e muito bem elaborados sobre pessoas, família, vida, amor, cotidiano, o ato de escrever, tempo, natureza, Uruguaiana, tristeza, esperança e muito mais.
A filosofia no Rio Grande do Sul 1800-2000 - Uma cronologia (Entrementes , 262 páginas), do emérito professor Luiz Osvaldo Leite, um de nossos maiores mestres, é fruto de pesquina minuciosa e traz 200 anos de reflexão e produção filosófica. "Houve, sim, uma filosofia gaúcha", ensina o mestre. Este livro não é uma capelinha, é catedral das melhores.
Cada vez mais forte - Como encontrar sucesso, felicidade e propósito na segunda metade da vida (Intrínseca , 256 páginas, R$ 55,00), de Arthur C. Brooks, tem respostas para perguntas sobre amadurecimento, velhice, progresso e sucesso. Brooks propõe repensa o que é sucesso e diz que se transformar e crescer espiritualmente é um processo revolucionário.
No belíssimo Eclesiastes, um dos melhores textos do Antigo Testamento, contendo lições de sabedoria atribuídas ao Rei Salomão, está escrito que tudo neste mundo tem seu tempo. Já não era sem tempo ver o grande escritor e tradutor Sergio Faraco ser o patrono da 70ª Feira do Livro e nos apresentar as memórias de chumbo de um ano sombrio para ele, para o Brasil e para todos nós.
A Feira do Livro há muito merecia o Faraco, que desde 1970 publica contos, crônicas, textos de não-ficção e traduz e organiza volumes de poesia. Faraco, ademais, é um jogador de sinuca quase ao nível de Perus, Malagueta e Bacanaço, personagens do imortal João Antônio. Faraco livrou o escritor uruguaio Mario Arregui dos perigos de um misterioso desconhecido, em 1982, nos tempos das ditaduras. O misterioso reapareceu junto a Faraco e ao jornalista Ruy Carlos Ostermann na Feira do Livro de 1999, aí...
Faraco viveu no Alegrete e narrou muitas aventuras no Alegrete e na volta dele, que vem a ser o mundo. Um dos maiores contistas brasileiros de todos os tempos, modéstia à parte nascido na cidade do Mario Quintana, em Digno é o cordeiro: memória de um ano sombrio (L&PM, 120 páginas, R$ 5,90), lançado há poucos dias, traz memórias de vivências de 1965. A obra vem em sequência ao livro Lágrimas na chuva, de 2002, que retrata duras experiências na Rússia, onde Faraco foi estudar entre 1963-1965.
Muitas vezes premiado, Sergio Faraco publicou dezenas de obras de ficção,crônicas e não-ficção, como A dama do Bar Nevada; Contos completos; Dançar tango em Porto Alegre; Rondas de escárnio e loucura e Lua com sede. Seus contos foram publicados na Alemanha, Argentina, Bulgária, Chile, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Uruguai, Portugal, Paraguai e Venezuela.
Os contos Dançar tango em Porto Alegre, A dama do Bar Nevada e Travessia foram levados às telas por produções regionais.
A ágil, fluente e precisa narrativa de Faraco destas memórias lembra alguns absurdos das histórias de Kafka, a prosa enxuta de Hemingway, escritor amado por Faraco, e, acima de tudo, mostram o homem e o escritor em paz com as duras lembranças que agora generosamente oferece para seus muitos leitores. Faraco, mestre que a gente lê há cinquenta e quatro anos, equilibra como poucos forma e conteúdo e trata de personagens e cenários interioranos e urbanos com os substantivos e adjetivos essenciais.
Relatando as não poucas perseguições e violências que sofreu durante os anos do período militar, Faraco trata em Digno é o cordeiro de temas espinhosos com serenidade, economia verbal, o humor possível e uma ideia de que não vale a pena carregar rancores e esqueletos vida afora: é melhor deixar sentimentos vingativos de lado e seguir adiante em paz.
Agora é esperar por novas memórias, inventadas ou não, do Faraco, que é como todos nós carinhosamente o chamamos.
Digno é o cordeiro, além da narrativa bem construída, traz temas e personagens que nos remetem aos regimes de exceção, ditadores e desaparecidos do Chile, da Argentina e do Brasil, entre outros países nas Américas e em nações do Oriente como a Rússia e a China. O livro de Faraco nos faz pensar em liberdade, democracia e direitos e garantias individuais que devem ser protegidos e mantidos, antes de sucumbirem na mão de tiranos de várias espécies animais e matizes. "Um relato magistralmente escrito, profundamente humano, universal, atual e necessário" escreveram os editores sobre a obra.
(Jaime Cimenti)