Muito se tem falado e escrito sobre o racismo estrutural que existe no Brasil, suas várias implicações e atitudes variadas de pessoas, empresas, entidades e órgãos públicos envolvendo o tema dos mais candentes da atualidade. O tema passou a estar presente em vários trabalhos de ficção entre nós.
Marrom e Amarelo (Alfaguara, 160 páginas, R$ 69,90), do premiado escritor e professor universitário Paulo Scott, romance finalista do International Book Prize 2022 e vencedor do prêmio Jabuti 2023 - livro brasileiro publicado no exterior, nesta edição com o novo conto O Livro de Roberta, trata de projetos antirracistas e suas dificuldades e de questões de raça, privilégio e culpa que atingem dois irmãos negros.
Paulo Scott nasceu em Porto Alegre em 1966, publicou doze livros, sendo cinco romances, um de contos e seis de poesia. Recebeu os prêmios Machado de Assis da Biblioteca Nacional, APCA e Açoriaos de Literatura, entre outros. Foi finalista dos prêmios Jabuti, São Paulo de Literatura e prêmio Casa da América Latina.
Marrom e Amarelo traz os irmãos Federico e Lourenço. Federico é um ano mais velho, grande, calado e carrega uma raiva latente. Lourenço é bonito, joga basquete e é "muito do gente boa". Federico é pardo claro, cabelo lambido e Lourenço é negro retinto. Lourenço tenta enfrentar o preconceito com naturalidade, e Federico é ativista. Federico, narrador da história, foi criado na violência dos subúrbios de Porto Alegre e carrega dores de amor e dificuldades de relacionamento. Aos 49 anos ele é chamado para uma Comissão em Brasília, do novo governo, para discutir a questão das cotas raciais nas universidades. Em meio a debates tensos e burocracias absurdas, ele relembra traumas da infância e da juventude.
O romance questiona o que significa ser uma pessoa negra, ou ser considerada uma pessoa negra, pelos outros ou por si própria, numa sociedade marcada pela desigualdade nas instituições e na lei, no amor e no núcleo familiar. Coisas nada fáceis, como sabemos, colocadas com personagens muito bem caracterizados.
Erico Verissimo, ao intitular sua imortal trilogia O tempo e o vento, e Tolstói, ao dar o título de Guerra e Paz ao seu genial romanção, mostram que devem ter lido o Eclesiastes, belíssimo livro que consta do Antigo Testamento, logo depois do livro dos Provérbios e antes do lendário Cântico dos Canticos. O Eclesiastes fala de céu e de sol, de terra, de vaidades, de trabalho e de Deus, entre outros temas universais. Parecendo um "café filosófico", a obra traz mais grandes perguntas do que grandes respostas e, acima de tudo, revela as limitações dos humanos para compreender o mundo e as pessoas e como podem ser inúteis muitos esforços e realizações humanas. Deus está no controle e nossa mente humana é pequena para compreender seus desígnios.
A obra foi escrita provavelmente em 931 a. C. pelo Rei Salomão, terceiro Rei de Israel, pouco antes de seu falecimento. Salomão reinou por 40 anos, teve 700 esposas oficiais e 300 concubinas, em 59 anos de vida. Teve gado e ovelhas como nenhum outro, teve muitos escravos, construiu casas, açudes, plantou parreirais, jardins e pomares, construiu casas e experimentou os prazeres da vida. Na velhice, muito rico materialmente e sábio espiritualmente, compreendeu que tudo era vaidade, ilusão, que viver é correr atrás do vento. Refletiu sobre o conhecimento e a sabedoria, a tolice e a falta de juízo. Pensou que não havia novidades sob a luz do sol.
É uma ilusão, um sonho, mas gostaria que os poderosos deste País, dos poderes públicos e privados, dedicassem uma hora ou duas para ler o Eclesiastes e lembrar que depois do jogo de xadrez, ou até de uma temporada no xadrez da Papuda, rei, rainha, bispos, cavalos, torres e peões vão para a mesma caixa. Vão para a mesma caixa e, depois que ninguém mais lembrá-los, serão definitvamente cancelados. Dinheiro, glória, vaidade, trabalho, poder, ilusões e tudo mais cairão no esquecimento, como efêmeros fogos de artifício.
Salomão refletiu que onde deveria estar a justiça e o direito estava a maldade e que autoridades protegem autoridades enquanto muitos aguardam dias melhores. Depois de muito trabalhar, viver e aproveitar prazeres, o velho Rei Salomão resolveu encontrar a sabedoria e deixar seu legado para a posteridade. Todos nós, e autoridades em especial, podemos aproveitar das sábias palavras do soberano que sentiu-se feliz em se deparar com a felicidade e a serenidade no entardecer da vida.
O Rei Salomão aconselha a empregar o dinheiro em vários lugares e negócios, pois ninguém sabe o que acontecerá no mundo.
No meio do nada (Casa Verde, 88 páginas), de Roberto Schmitt-Prym, escritor, fotógrafo, tradutor, editor e administrador cultural, traz dezenas de minicontos sobre pessoas e situações urbanas estranhas e angustiantes, narrados com bem elaborada e estruturada linguagem enxuta e poética. Prefácio de Eduardo Jablonski.
A Vaca Nua - Crônicas de Ipanema (AGE , 120 páginas, R$ 49,90), de Eduardo Battaglia Krause, segunda edição revista e ampliada, Prêmio Açorianos 2000 - Autor Revelação, traz personagens, situações e cenários pitorescos narrados com graça e coloquialidade envolvendo Ipanema, um país encantador situado na zona sul de Porto Alegre.
A terra dos meninos pelados (Global Editora, 96 páginas, R$ 52,00), do genial Graciliano Ramos, com ilustrações de Ilustralu, narra a trajetória de Raimundo, que queria apenas ser criança como as outras. Ele tem um olho preto, outro azul e não tem cabelos, o que provoca estranhamentos. Ele busca um mundo só seu e se dá conta que não está sozinho.
Salomão recomenda que ninguém viva sozinho, sem amigos e irmãos, e diz que não vale a pena ficar só trabalhando, acumulando e deixando de viver, enquanto não consegue dormir e está sempre insatisfeito com o que tem e com o que não tem. Na sua sabedoria de final de vida, o Rei Salomão, que deveria inspirar nossos líderes e a nós todos, ensina aos jovens que aproveitem para ser felizes antes mesmo das dores da velhice. Temer a Deus e obedecer aos seus mandamentos é a mensagem última do Rei Sábio. Tomara que os poderosos o sigam. (Jaime Cimenti)