Rio Sangue (Alfaguara, 320 páginas, R$ 89.90, E-book 44,90), novo e impactante romance do premiado médico e escritor Ronaldo Correia de Brito, traz uma densa saga familiar, envolvendo os irmãos José e João, entremeada por embates de poder, paixões, histórias e lendas de um Brasil mitológico.
Ronaldo nasceu no Saboeiro, Ceará, em 1951 e vive no Recife. Publicou o consagrado Baile do Menino Deus, o infanto-juvenil O pavião misterioso, peças de teatro e o volume de crônicas A arte de torrar café. Publicou os livros de contos Faca, Livro dos homens, Retratos imorais e O amor das sombras. Ronaldo escreveu os romances Galiléia (Prêmio São Paulo de Literatura) e Estive lá fora e Dora sem véu.
José e João eram crianças ao desembarcar no Recife. Vieram com a família, do norte de Portugal, que deixou tudo para ganhar dinheiro no colônia. José, o mais velho, torna-se padre contra a vontade, vacila na fé e é silencioso e contido. João é atrevido e violento. A narrativa clássica, intensa e épica tem o sol forte do sertão e vai apresentando gerações, etnias, histórias e lendas marcadas pela oralidade e pelo imaginário, como se fosse afluentes de um rio.
José , padre em conflito com sua fé religiosa, se vê obrigado pelos pais a administrar uma propriedade no interior cearense. Solitário e frágil, mas firme em seus desejos incontidos, apaixona-se por uma jovem indígena que lhe foi entregue ainda criança, aprisionada por vaqueiros e batizada com o nome de Páscoa. Em torno dela gira a trama fascinante.
João, o irmão mais novo, tem gênio oposto ao do irmão. É arrebatado e casado por conveniência com Catarina. Ele apaixona-se por Brites Manoela, uma mulher independente e aí vai romper com a razão e com as leis para satisfazer suas vontades.
Na oposição e no embate entre os dois irmãos reside o tom desse romance que reinventa o sertão e sua geografia, imprimindo-lhe tons épícos, com divindades e assombrações.
Os Tribunais de Stalin (Avis Rara - Faro, 224 páginas, R$ 59,90), do historiador francês Nicolas Werth, autor do best-seller O Livro Negro do Comunismo, mostra como funcionavam os tribunais de execução dos opositores de Stalin, de seu partido ou não. O autor mostra como um milhão de pessoas foi deportada e 750.000 foram executadas.
A álgebra da riqueza - Uma fórmula simples para o sucesso (Editora Intrínseca, 352 páginas, R$ 47,00), de Scott Galloway, consagrado empreendedor e professor da NYU Stern School of Business, é guia para riqueza e sucesso e boas escolhas, fala de buscar talento, ser estoico, cuidar do foco, do tempo e diversificar investimentos.
S. Bernardo (Global Editora, 248 páginas, R$ 38,00), clássico do grande Graciliano Ramos, narrado em primeira pessoa, traz os infortúnios da vida de Paulo Honório, homem humilde que se torna poderoso fazendeiro. Ele menospreza os que estão em seu caminho e sua alma se exaspera por causa do passado e do futuro que pode escapar ao seu controle.
Esse negócio de esquerda, centro, direita, centro-esquerda, centro-direita, liberal de esquerda, liberal de centro, liberal de direita e radical de centro não está fácil. Na real, nunca foi muito fácil, desde os tempos da pracinha da Grécia, onde, dizem, começou nossa democracia. No tempo da Revolução Francesa, na Assembleia Nacional, a coisa era um pouco mais clara. O cara sentava do lado esquerdo ou direito e estava pelada a coruja.
Agora o negócio complicou de vez. Parece futebol e conversa de técnico: não há mais ponteiros avançados, os caras do centro andam para a frente, para trás, para a esquerda e para a direita, os jogadores dos setores de esquerda e direita por vezes circulam pelo centro ou pelas áreas opostas do gramado e por aí vai.
Como diz o outro, o time tem um projeto, está em processo de progresso permanente em direção à meta a ser oportunamente atingida e não está preocupado com as derrotas recentes. O time jogou bem, mas o adversário jogou melhor, e perder e ganhar faz parte e é preciso saber dar a cara a bater para a torcida e a imprensa.
Voltando para a vaca fria da velha política, tem uma mensagem na internet que diz que pessoas de direita são mais pragmáticas, não querem tantas mudanças, resolvem por si os problemas e que as pessoas de esquerda gostam mais de mudanças e de se meter em tudo, ou quase tudo, até e principalmente na vida dos outros.
Políticos de hoje, espertos como sempre, fogem de definições e rótulos mais precisos e uns dizem que preferem andar para a frente do que ser de direita ou de esquerda. Eles preferem mesmo é poder e grana, de preferência a grana do contribuinte. Os governos ou diminuem despesas ou aumentam impostos. A gente sabe o que tem acontecido.
Nesse mundinho pós-moderno, como diz o título do famoso livro do filósofo Marshall Berman, Tudo o que é sólido desmancha no ar, frase tirada do Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels. Temos poucas certezas, poucas referências que durem mais do que um palito de fósforo e, ao fim e ao cabo, o dinheiro e o poder é que imperam, nas redes sociais manipuladoras. Para não ficar digitalmente intoxicado e confundido por tantas mensagens, imagens, sons e fake news, o negócio é ir morar no interior da Nova Zelândia, sem traquitanas eletrônicas.
Uma boa parte do planeta está pensando e agindo em volta de ideias mais "conservadoras" e outra parte está às voltas com os valores "revolucionários". Quem quiser saber onde as coisas estão melhores, é só dar uma olhada no mapa mundial. Países nórdicos, Japão, Nova Zelândia, Canadá, Polônia e Austrália são alguns exemplos para ver e pensar. Interessante que, em pleno século XXI, países com monarquias estão bem.
Para quem gosta de estudar o assunto esquerda e direita a fundo e de modo científico, a leitura do livro do saudoso Norberto Bobbio intitulado Esquerda e Direita - Razões e Significados de uma distinção política, é altamente recomendável.
Na real e do jeito que o planeta está, extremismos de "direita" ou de "esquerda" não deram e não dão em boa coisa. É só examinar um pouco, ao menos, a história, os fatos e os números. Depois que saiu da presidência do Uruguai, Mujica disse que era preciso pensar em algo diferente. É preciso pensar em democracia, liberdade, pluralidade e igualdade ao invés de usar maniqueísmos ideológicos e velhos conceitos para enrolar eleitorado e cobrar sempre mais dos contribuintes. Vida, liberdade, paz e respeito aos valores humanos universais e consagrados é o que interessa mais. (Jaime Cimenti)