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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 04 de Julho de 2024 às 19:57

Chico Buarque e a censura durante a ditadura militar

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Jaime Cimenti
Censores não entram para a história, a não ser alguns da antiga Roma, que tinham outras tarefas além de vigiar a moral e os costumes. Cercear a liberdade é algo somente menos grave do que tirar o direito à vida. Hoje, discutimos regulamentação de redes sociais, ditaduras digitais e liberdades várias, especialmente a liberdade de imprensa. Há que se ficar atento à censura e aos que pretendem manipular as informações.
Censores não entram para a história, a não ser alguns da antiga Roma, que tinham outras tarefas além de vigiar a moral e os costumes. Cercear a liberdade é algo somente menos grave do que tirar o direito à vida. Hoje, discutimos regulamentação de redes sociais, ditaduras digitais e liberdades várias, especialmente a liberdade de imprensa. Há que se ficar atento à censura e aos que pretendem manipular as informações.
O que não tem censura nem nunca terá (L&PM Editores, 224 páginas, R$ 54,90), do experiente e consagrado jornalista Márcio Pinheiro, editor do site AmaJazz e autor, entre outros, dos livros Esse tal de Borghettinho e Ratos de redação: Sig e a história do Pasquim (finalista do prêmio Jabuti) é um relato minucioso e impactante sobre as perseguições sofridas por Chico Buarque - um de nossos maiores artistas - durante o período do ditadura militar.
Em 1964, Chico tinha 20 anos e, em 1966, lançou A banda, seu primeiro grande sucesso. Nesse mesmo ano, sua composição Tamandaré foi proibida pela censura, por ofender o almirante Tamandaré, o patrono da Marinha. Foi o primeiro de muitos encontros do autor de Apesar de você com o Serviço de Censura. No ano seguinte, Roda viva, peça de sua autoria, foi proibida pela censura. Especialmente depois da edição do AI5, em 1968, vieram os "anos de chumbo". Chico e a classe artística brasileira não tiveram mais paz. Ele autoexilou-se na Itália. Lá, era correspondente informal de O Pasquim e criou músicas antológicas - muitas, censuradas, e outras que passaram inicialmente despercebidas como Apesar de você, de 1970.
Em dado momento, três de cada quatro composições de Chico eram proibidas, o que tornava impossível a montagem de um repertório mínimo para um show ou um disco. O compositor tornou-se o maior símbolo da perseguição cultural e política daqueles tempos duros, e passou boa parte dos anos 1970 proibido de criar.
O competente, bem elaborado e pungente livro de Márcio Pinheiro vem em bom momento, quando em nível mundial se discute liberdade, democracia e criação artística - e quando precisamos estar, mais do que nunca, atentos.
 

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