Crimes se dão a todo momento, em muitos lugares, premeditados ou não, por desejo de vingança, questões passionais, busca por dinheiro ou joias, motivações políticas ou futebolísticas e perrengues de mesa de bar. Crimes e criminosos são eternos como andar a pé ou como a Sé de Braga. Agatha Christie é a rainha do crime e parece que não será destronada tão cedo. Talvez nunca.
Teias mortais (HarperCollins, 240 páginas, R$ 34,00) reúne cinco contos de suspense de cinco autores importantes de nossa literatura atual, inspirados na rainha Agatha. Felipe Castilho escreveu O caso das nefastas criaturas, que fala da deficiente visual Alice, representante de uma empresa que quer comprar uma startup de tecnologia exclusiva, mas aí alguns segredos.... Luisa Geisler escreveu Todas as partes, uma história com cinco convidados para escrever um livro de mistério, numa casa isolada. No primeiro dia alguém morre e a governanta some...
Um crime para o Imperador é o conto de Samir Machado de Machado, que traz Dom Pedro II, de noite na casa de uma de suas amantes, debatendo o assassinato de um senador e resolvendo solucionar o caso. Bel Rodrigues escreveu Um olhar demorado, com um grupo de amigos num reencontro conturbado numa pousada. Beto, marido de uma das amigas, é encontrado morto. Ele era diabético, mas será que errou na dose de insulina?
O caso da manequim de luxo é o conto de Jim Anotsu que narra a história de dois irmãos, Jorge e Tomasina, que vão a um desfile de alta costura. Presenciam o misterioso assassinato de uma manequim e constatam que luxo não muda o caráter das pessoas.
Como se vê, a rainha Agatha, lá no além, com suas técnicas narrativas e mistérios, instigou e inspirou os escritores e as histórias mostram que há várias possibilidades, quem sabe mais de um suspeito e que, nas entrelinhas, os sagazes leitores poderão desvendar (ou não) os mistérios habilmente apresentados. Não é o caso daquele tradutor português que deu o seguinte título para o romance policial inglês: O caso em que o mordomo era o culpado.
Que a gente vive num mundozinho com pouquíssimas referências pessoais, religiosas, científicas, sociais, políticas, econômicas e culturais consistentes e duradouras todo mundo está careca de saber. Muitas ideias, ideologias, verdades e pessoas hoje têm prazo de validade igual ao de um palito de fósforo e, como disse o Karl Marx, "tudo o que é sólido desmancha no ar", até mesmo muitas ideias dele, que não eram lá muito sólidas.
Mas nesse cambalacheante entrevero pós-moderno que vivemos, no final de 2012, três meses antes da eleição do Papa Francisco, eu escrevi umas linhas sobre São Francisco de Assis. Os leitores da revista Time norte-americana, em 1992, o elegeram como o Homem do Segundo Milênio, à frente de Shakespeare, Einstein, Michelângelo, Lutero, Mozart, Galileu Galilei e outros gigantes. Título muito merecido ao santo mais conhecido do mundo, à pessoa mais transformadora que existiu no segundo milênio. Ele pregou o amor, a paz, o respeito à natureza e aos animais. Foi um hippie do século III, viveu entre 1182-1226. Abriu mão dos bens materiais de sua família e foi pobre a vida toda, como são sua Ordem religiosa e os frades que a compõe. Francisco resolveu viver o Evangelho de Jesus Cristo, entendera que Deus é pai e que todos éramos irmãos.
O Papa Francisco, que é jesuíta, foi o primeiro pontífice a escolher como nome papal Francisco, que foi canonizado pelo Papa Gregório IX dois anos após sua morte, ocorrida quando ele tinha 44 anos. Francisco não precisou ser gênio das ciências ou das artes para marcar a história da humanidade. Dante Alighieri, autor da Divina Comédia, escreveu que Francisco foi uma luz que brilhou sobre o mundo.
Francisco não precisou de verbas publicitárias milionárias, contratos bilionários envolvendo redes sociais e muito menos de ajudas governamentais ou privadas para propagar sua fé e viver com coerência e paixão uma vida enaltecendo os seres humanos, a lua, o sol, a natureza, os animais e o amor.
Lá onde está, oitocentos anos depois de morrer, Francisco deve estar torcendo para que um dia suas pregações sejam mais aceitas e para que as pessoas e o planeta se tornem melhores. Ao lado de pessoas como Madre Teresa, Irmã Dulce e outros benfeitores, Francisco representa o que temos de melhor e nos serve de modelo e referência especialmente nestes dias tumultuados que vivemos.
As orações e as ações de Francisco por convívio melhor entre as pessoas, contato melhor com a natureza e os animais e a prática de espiritualidade elevada permanecem válidas, e os desastres climáticos mostram justamente isso. A escolha do Papa Francisco pelo nome do santo tem uma importância imensa, depois de quase oito séculos da morte do Pobrezinho de Assis. São Francisco teve importante participação no Espiritismo, auxiliando Kardec na codificação.
Gravidade Zero (Editora Nova Fronteira, R$ 55, 208 páginas, tradução de Regina Lyra, prefácios de Rodrigo Fonseca e Daphne Merkin), do escritor, ator e diretor Woody Allen, mundialmente conhecido, traz contos e histórias com muito humor e picardia, envolvendo pessoas e cenários nova-iorquinos. Nesses tempos sombrios, um refresco para os leitores.
Os perigos de fumar na cama (Editora Intrínseca, 144 páginas, R$ 49,90), de Mariana Enriquez, jornalista, professora e escritora , que publicou no Brasil pela Intrínseca os contos de As coisas que perdemos no fogo e os romances Este é o mar e Nossa parte de noite, traz contos cheios de fantasmas, bruxas e espíritos terríveis dos dias de hoje na Argentina.
Cadernos de receitas - Memórias afetivas (Editora Unesp, R$ 114,00, 192 páginas), organizada por Rosa Belluzzo e Betty Loeb Greiber, traz textos e histórias sobre cadernos de receitas de imigrantes de várias etnias e entrevistas com pessoas das famílias que utilizavam os antigos e afetivos cadernos de receitas.
A simplicidade da Igreja Franciscana situada na esquina da rua Domingos Crescêncio com a rua São Luis, na nossa Porto Alegre, mostra bem que a fé e a espiritualidade não necessitam de muitos ornamentos, imagens e símbolos, e que São Francisco segue iluminando a todos que necessitam. Ainda são muitos os necessitados, especialmente depois das enchentes que nos assolaram. O exemplo de São Francisco, suas palavras e orações estão aí para ajudar a todos, especialmente as autoridades e os líderes que conduzem (ou deveriam conduzir) nossos destinos.
(Jaime Cimenti)