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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 14 de Junho de 2024 às 00:40

Os faraós dos bitcoins

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Jaime Cimenti
Queda livre (História Real- Editora Intrínseca, 208 páginas, R$ 69,90), dos consagrados Isabela Palmeira, jornalista e roteirista, editora da Globonews e repórter de O Globo, e Chico Otavio, repórter, escritor e professor de jornalismo da PUC, jornalista de O Globo por 26 anos e ganhador de seis prêmios Esso, contam, com detalhes precisos e narrativa envolvente a mirabolante história de Glaidson e Mirelis, que ficaram conhecidos como os Farós dos Bitcoins e responsáveis por uma dos maiores esquemas de pirâmide financeira da história do Brasil.
Queda livre (História Real- Editora Intrínseca, 208 páginas, R$ 69,90), dos consagrados Isabela Palmeira, jornalista e roteirista, editora da Globonews e repórter de O Globo, e Chico Otavio, repórter, escritor e professor de jornalismo da PUC, jornalista de O Globo por 26 anos e ganhador de seis prêmios Esso, contam, com detalhes precisos e narrativa envolvente a mirabolante história de Glaidson e Mirelis, que ficaram conhecidos como os Farós dos Bitcoins e responsáveis por uma dos maiores esquemas de pirâmide financeira da história do Brasil.
O livro tomou três anos de investigações e mostra como o casal, atualmente preso, conseguiu ir da pobreza à riqueza e mostra a ostentação e as acusações de crimes contra o sistema financeiro, organização criminosa, lavagem de dinheiro e homicídio.
Além de apresentarem os bastidores do golpe gigante, no livro os autores revelam a mistura de fé, ambição e ganância que foi capaz de destruir milhares de famílias pobres e dezenas de celebridades ricas, atraídas pela milenar tentação do lucro fácil. A sagaz venezuelana iniciada no mundo dos bitcoins e o messiânico, habilidoso, flanelinha, garçom, pastor e faraó Glaidson, oriundo da Cidade de Deus, favela do Rio de Janeiro, se juntaram e uma química poderosa surgiu. Ele nas Igrejas levava a boa nova, a "teologia da prosperidade" e vinculava a bênção divina ao sucesso material.
Templo é dinheiro, a gente sabe. Os fiéis clientes disseram amém, investiram tudo e Mirelis Yoseline Doas Zerpa e Glaidson Acácio dos Santos movimentaram R$ 38 bilhões, entre 2015 e 2021 e ludibriaram ao menos 89 mil pessoas. A promessa era de juros mensais de 10%, e aí os irmãos de fé da Universal pararam de pagar o dízimo e passaram a investir no mega negócio do Faraó. As operações começaram na Região dos Lagos fluminense e depois se espraiaram por todo o País.
Messias de lucro fácil sempre existiram. Na esteira da revolução digital, a bola da vez foi a criptomoeda. Sonho do ganho fácil, ganância, demolição moral, tudo mais velho que andar pé e a Sé de Braga.
 

lançamentos

O jardim de algodão (Pallas Editora, 40 páginas, R$ 68,00), do premiado jornalista e escritor cearense Tino Freitas, com belas ilustrações em cores de Ionit Zilberman, livro infantil que trata de amor e acolhimento, relações de família, macarronada do avô e vestido florido da vovó, mostra que o amor em família é o melhor presente.
Alavancagem (DVS Editora, 272 páginas, R$ 73,00), de Paulo de Vilhena, autor best-seller, traz a chave do crescimento empresarial. Mostra que a alavancagem fornece a possibilidade de impulsionar negócios de maneira contrária à lógica com a qual nos acostumamos. Alavancar negócios pode trazer crescimento inversamente proporcional ao esforço aplicado.
100 vistas de Tóquio (Editora Estação Liberdade, 128 páginas, R$ 43,00), de Shinji Tsuchimochi, é inspirado no clássico 100 vistas de Edo do mestre Hiroshige Utagawa. O ilustrador Shingi criou sua obra com 100 lugares icônicos de Tóquio, carregados de histórias e lembranças.

O GuaÍba pede uma D.R.

Com licença, e desculpem, amigos porto-alegrenses, gaúchos, brasileiros e estrangeiros. Sei que o momento de enchentes talvez não seja o mais adequado, mas preciso urgente discutir o relacionamento com vocês. Sou o antigo Guahyba, em tupi-guarani o "encontro das águas", nome dado pelos primeiros habitantes indígenas há muitos séculos.
Depois foram me chamando de Guaíba e, devido à minha estrutura única, de ter uma hibridez rara em corpos hídricos e ao fato de ter características de lago e de rio, minha denominação toponímica é difícil e aí me chamam de rio, ria, estuário, lago e corpo hídrico raso e aberto. Há quem diga que estuário não sou porque não desaguo no mar. Não ligo muito para nomes, quero apenas ser bem tratado. "Se a rosa tivesse outro nome, teria perfume diferente?", disse Shakespeare.
Podem me chamar só de Guaíba, mas óbvio que a definição quanto à minha verdadeira natureza tem aspectos importantes para minha preservação, projetos e consequências enormes em termos imobiliários. Espero que os doutores, os administradores e legisladores e a população decidam que nome realmente devo usar, mas minha preocupação maior vai muito além disso.
Nessa Porto Alegre onde vivo há milênios, já tivemos oito enchentes nos séculos mais recentes. Ocupo 376 quilômetros quadrados e sinto que a relação dos porto-alegrenses comigo é ambivalente. Ora dizem que me adoram, que me amam e que meu pôr do sol é o melhor do mundo e que gostariam de tomar banho novamente nas praias mais próximas do centro, onde meu porto minguou e onde aguardo por uma revitalização que espero que não vá para as calendas.
De outro lado, especialmente a contar do final dos anos 1950, me poluíram uma barbaridade e estou aí, aguardando por uma limpeza. Sim, eu sei que levaram décadas para despoluir o Tâmisa, mas não tenho pressa e espero. Desculpem o tema meio chato, mas preciso falar que me aterraram e aterraram e aí, sem todos os devidos cuidados, vão acontecendo coisas que eu preferia não ter visto. Quem não gosta da nossa nova orla? Mas será que era prioritária? Será que foram tomadas todas as providências devidas? Será que era preciso aterrar tanto, mais uma vez? Será que não é melhor a população, os ativistas da ecologia, as autoridades, o Ministério Público e o Judiciário pensarem mais sobre dragagens? Não precisam me responder agora. Estudem um pouco, ao menos, as causas da enchente de 1941, quando choveu mais do que agora e não se falava em desastres climáticos.
Nessa hora triste não estou buscando culpados e nem respostas apressadas e espero que o tempo, os estudos e a busca de informações façam o seu imprescindível papel. O momento é de ajudar os necessitados e partir para a reconstrução. A população no futuro próximo, tenho certeza, vai ter um relacionamento diferente comigo, que sofro com mudanças de clima no mundo, chuvas, ventos e águas que vêm dos rios.

a propósito

Não utilizem a tragédia de modo ruim. O desastre deve trazer união, ações e reconstrução. Sou um velho rio/lago sonhador. Me acusam de invadir os espaços que me tomaram. Faz parte. Somos todos responsáveis pela construção e desconstrução da cidade. Logo volto ao meu 'normal'. Espero não chova tanto, que os rios derramem menos águas, que os equipamentos ajudem. Não me aterrem mais sem cuidado, e que todos auxiliem e façam sua parte para um planeta sustentável. Ficarei feliz quando minhas águas limpas abraçarem a todos, especialmente as gaúchas e as crianças. Não quero tomar espaços e causar prejuízos. Vamos salvar nossa relação. (Jaime Cimenti)

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