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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 09 de Maio de 2024 às 20:01

Complexidades de um casamento inter-racial no Marrocos de 1940

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Jaime Cimenti
O país dos outros (Editora Intrínseca, 320 páginas, R$ 69,90, tradução de Dorothée de Bruchard), da franco-marroquina Leïla Slimani, narrativa sobre as complexidades de um casamento inter-racial no Marrocos de 1940, é seu terceiro romance. Ela escreveu No jardim do ogro e Canção de ninar, vencedor do importantíssimo prêmio Goncourt de 2016.
O país dos outros (Editora Intrínseca, 320 páginas, R$ 69,90, tradução de Dorothée de Bruchard), da franco-marroquina Leïla Slimani, narrativa sobre as complexidades de um casamento inter-racial no Marrocos de 1940, é seu terceiro romance. Ela escreveu No jardim do ogro e Canção de ninar, vencedor do importantíssimo prêmio Goncourt de 2016.
Leila é das intelectuais mais ativas e combativas da França na atualidade, abordando temas essenciais e urgentes como colonização, racismo, diversidade religiosa e dificuldades enfrentadas pelas mulheres. Inspirada na avó e na história da própria família, Leila construiu habilmente a narrativa que é a primeira de uma trilogia sintonizada com nosso momento e que trata de embates culturais e consequências do colonialismo e do machismo.
Em meio à Segunda Guerra Mundial, Mathilde, uma jovem alsaciana espirituosa, se apaixona por Amine, um belo soldado marroquino do exército francês. Depois da guerra, o casal se fixa no Marrocos, em Meknés, uma cidade militarizada e com forte presença de colonos franceses. Amine se decida à lavoura e trabalha nas terras rochosas e ingratas que herdou do pai. Mathilde sente-se sufocada pelo clima e cultura tão diferentes da sua.
Sozinha na fazenda, com dois filhos do casal, ela sofre por ser estrangeira e por falta de dinheiro suficiente. Vida difícil, tensões sociais e religiosas e pouco lazer tornam sua vida penosa, mesmo em família. Ela resolve tentar encontrar novos meios de se inserir na comunidade. A narrativa se desenvolve nos dez anos turbulentos que antecederam a independência do Marrocos, em 1956.
Naqueles momentos fervilhantes , repletos de conflitos violentos, homens, mulheres, franceses, marroquinos, soldados, camponeses e exilados se encontravam "no país dos outros", especialmente as mulheres, que vivem na terra dos homens e lutam por emancipação.
A saga familiar traz bem o passado e a autora ficcionaliza com precisão e acuidade a lógica da dominação.
 

Lançamentos

Pólvora (Libretos, R$ 45,00, 128 páginas), do jornalista e escritor Rafael Marantes, é a empolgante narrativa da investigação de um crime nas Indústrias Guahyba, fábrica de ciborgues em Porto Alegre, em 2254, envolvendo pesquisa ilegal. Num mundo dominado pela inteligência artificial, quem seria ameaçado por uma arma letal banida há anos?
O último segredo de Anne Frank (Crítica-Editora Planeta, 320 páginas, R$ 80,00), de Joop van Wijk-Voskuijl, produtor de vídeo, e Jeroen De Bruyn, jornalista, apresenta a história não contada de Anne Frank, de sua protetora e confidente silenciosa, de uma traição em família e um dos maiores segredos da Segunda Guerra Mundial.
Hotel Iris (Estação Liberdade, 192 páginas, R$ 59,00), polêmico romance de Yoko Ogawa, teve tradução direta do japonês e publicação pela primeira vez no Brasil. Mari, 17 anos, trabalha num hotel de uma familia, num região litorânea. Um homem misterioso, sessentão, e uma prostituta brigam num quarto. Mari acaba se envolvendo com o idoso e a coisa vai longe.
 

Qué pasa, Argentina?

Qué pasa, Argentina? (Globo Livros, 192 páginas, R$ 30,00), da experiente jornalista carioca Janaína Figueiredo, nascida em 1975, é seu primeiro livro. A obra traz sua vivência de mais de 25 anos na Argentina e a colaboração de muitos especialistas no tema. Trata de história, política, manias e paixões dos nossos queridos vizinhos e hermanos argentinos. Uma tradicional amizade nos une, mesmo que alguns deles digam que Maradona era melhor do que Pelé.
Janaína formou-se em comunicação social pela Universidade Nacional de Buenos Aires, trabalhou nos jornais argentinos El Cronista e Perfil e colaborou com La Nación, rádios BandNews e CBN e canal GloboNews. Desde 1999 Janaína escreve para O Globo, casou com um argentino e tem dois filhos argentinos. Janaína é apaixonada por jornalismo e pela Argentina, país onde foi com a mãe, em 1985, aos nove anos. Brasileiras sempre gostaram de argentinos, é tradição antiga.
No prefácio, Marcos Azambuja, o competente embaixador do Brasil na Argentina entre 1992 e 1997, escreveu: "Em seu livro, Janaína organiza os fatos respeitando, como se deve, sua sequência cronológica e vai construindo uma narrativa fácil de acompanhar. " O embaixador costuma dizer, ilustrando a especificidade dos hermanos, que existem países desenvolvidos, subdesenvolvidos e a Argentina.
O livro é dividido em nove partes. Na primeira, intitulada O que deu errado?, a autora lembra que, entre 1895 e 1896, a Argentina foi o país mais rico do mundo em renda per capita e, em 1913, foi a sétima maior economia do mundo. O analfabetismo era 20%. A Argentina ganhou cinco prêmios Nobel, o maior número entre países latino-americanos. Janaína fala das sete décadas de desastres políticos e econômicos e da chegada de Javier Milei.
Um pouco de história, segunda parte, trata de história, desde a Independência em 1816 até a chegada de Néstor Kirchner ao poder, entre 2003-2007. A terceira parte trata de peronismo, crise e extrema-direita. O peronismo é dominante na política argentina desde 1940 e Perón foi presidente três vezes, 1946-1955 e 1973-1974, em meio a golpes, votações e posições políticas que variaram de acordo com as circunstâncias enfrentadas. Perón e Getúlio Vargas tinham intenso relacionamento.
A quarta parte, Perrengues diários numa realidade surreal, trata do fato de, nos últimos 48 anos, a Argentina ter lidado com uma taxa de inflação de dois dígitos e fala de governantes do período até o presidente Alberto Fernández, que culpava o ex-presidente Mauricio Macri pelos velhos problemas econômicos.
A quinta parte, A paixão nacional pelo divã, traz o interesse dos argentinos pela psicanálise. Ao menos da camada que pode pagar. Os pobres dependem do colapsado setor público de saúde. A experiente psicanalista argentina Adriana Guraieb diz que argentinos gostam de falar de si, de dramatizar e aponta a dificuldade de ser argentino em meio a tantas crises políticas, econômicas, sociais e financeiras que assolam os hermanos. Paranoia do dólar, violência da ditadura, tensões políticas e inflação inquietam os hermanos.
 

A propósito

A sexta parte do livro traz o ótimo cinema argentino, com Ricardo Darín e a sétima fala de Maradona, Messi e o futebol-religião argentino e a rivalidade que os hermanos têm com o Brasil, que ganhou mais Copas. A oitava parte fala do sufoco de ser argentino e do luxo que pode ser para estrangeiros. A parte final do livro é dedicada a imigrantes e emigrados, com histórias do Quinto Êxodo. Enfim, como se vê, um ótimo livro para conhecer melhor as qualidades e defeitos dos hermanos e aprender com sua movimentadíssima história, para, quem sabe, não repetir certos erros e copiar acertos.
 

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