O morro dos ventos uivantes (Editora Zahar, 476 páginas, tradução de Adriana Lisboa), clássico e imortal romance da genial escritora inglesa Emily Brontë (1818-1848), é uma das maiores obras da literatura ocidental e tem sido reeditado em vários lugares do mundo. Em texto integral e cuidadosa edição de bolso de luxo, encadernada, a obra agora novamente é apresentada aos leitores brasileiros, como parte da Coleção Clássicos Zahar.
Após algumas recusas de editoras, o livro foi publicado originalmente em 1847 pela casa editorial Thomas Cautley Newby Publisher. Em síntese, o romance é considerado unanimemente como um retrato profundo e comovente da degradação humana. Como todo bom livro clássico, apresenta vários níveis de leitura e várias portas de entrada. O difícil é encontrar a saída, pois o efeito de sua leitura ficará entranhado para sempre nas lembranças dos leitores.
O romance trata da história de amor que nem mesmo as armadilhas do destino e a morte conseguem destruir. É também uma história de obsessão e dor, perversidade e vingança.
O enredo trata da história de amor em torno do triângulo formado pelos personagens Heathcliff, Catherine Earnshaw e Edgar Linton. A característica distintiva da narrativa é a transformação para pior do caráter humano quando exposto ao sofrimento. Os protagonistas, depois de vivenciar a dor, a rejeição e a morte de entes queridos, têm suas virtudes atrofiadas e suas fraquezas de caráter amplificadas.
As injustiças e inclemências do destino realmente provocam enormes e intermináveis danos nas pessoas e as boas obras de ficção perenizam dores, cenários e personagens . No centro dos acontecimentos os leitores acompanharão a relação de simbiose entre a obstinada Catherine Earnshaw e o rude Heathcliff, que aprende a odiar após sofrer humilhações e rejeições de todos os tipos.
A leitura de O morro dos ventos uivantes certamente responderá à clássica pergunta: "Por que ler os clássicos?". O tempo e os leitores, como sempre, são os melhores juízes. É o caso.
Café Haiti - o cafezinho do porto-alegrense
A história de uma cidade não pode ser contada sem a história de seus cafés. Porto Alegre não tem cafés centenários, multicentenários e lendários como o Zur Letzten Instanz, de Berlim (1621), El Florian, de Veneza (1720), Café de Flore, de Paris (1880), Café Nicola, de Lisboa (1929), ou o Tortoni, de Buenos Aires (1858), para citar alguns. Mas temos cafés septuagenários.
Haiti - Sabor, história e tradição (Edição do Autor, 2019, 112 páginas), obra coordenada por Clarice Ledur, que tratou do projeto editorial, da edição, dos textos e da revisão, e feita com base em pesquisa histórica de Sergio Adriano Cambraia Moreira, mostra histórias e imagens de um café que segue fazendo parte da vida de Porto Alegre, na avenida Otávio Rocha, 151, sendo que muitos o consideram o cafezinho do porto-alegrense.
O Haiti é considerado o café mais antigo de nossa cidade e, na introdução do volume, João Antonio Longoni Klee, neto do fundador e administrador da casa por décadas, escreveu: "A história do Café Haiti, ao longo de sua trajetória de mais de seis décadas, representa muito para mim. Sempre gostei da atividade, traduzida em experiência e trabalho prazerosos. Além disso, tudo o que adquiri, foi ali conquistado. Sem falar na relação de proximidade com a equipe e clientes, aos quais estendo meu carinho e amizade. Clientes fiéis à casa, ao cafezinho, aos produtos ofertadas, ao ambiente e seu entorno".
João Antônio Klee, entre os anos 1990 e 2000, assumiu a presidência do Sindha - Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região, em paralelo às suas funções no Haiti. O estabelecimento hoje tem novos proprietários e passou por modernizações, mas segue sendo ponto de encontro e local de visita diária de muitas pessoas.
O livro traz depoimentos emocionantes de clientes e funcionários e, claro, nas páginas 24 e 25, fala do eterno jingle publicitário: "Que gostoso é o Café Haiti/ Tá fazendo na cozinha, Tá cheirando aqui/ Haiti, Haiti, Haiti...". Nas páginas 52 a 56, os leitores saberão tudo sobre a famosa canja de galinha do Haiti e terão a receita completa da mesma, com dicas especiais.
Além da história do café e dos seus fundadores, o livro fala do projeto arquitetônico inovador e de produtos como o Café Haiti e os lendários produtos Plic Plac.
Na apresentação da obra, Gabriel Antonio Mendo da Cunha escreveu: "A história do Café Haiti se funde em muitos momentos à própria história do desenvolvimento da Capital, bem como aos hábitos e costumes de seus moradores, que aprenderam a valorizar a Casa por seus diferenciais oferecidos, passando pelos produtos, serviços e atendimento cordial. Restou contemplada a amizade, caracterizada pela convivência do cotidiano, entre todos que ainda estão ali ou que de alguma forma por ali passaram".
Lançamentos
De bandeja - A história de Dinarte Valentini (Arvoredo Books, 126 páginas) traz depoimento do antológico garçom do Bar do Beto ao consagrado jornalista e escritor Marcello Campos. Dinarte passou de guri arteiro do Vale do Taquari a trabalhador e estudante incansável. Hoje é advogado, marido apaixonado, pai amoroso e amigo incondicional.
A arte do silêncio - Para encontrar paz num mundo barulhento e exaustivo (Editora Gente, 192 páginas), da escritora, editora e professora Amber Hatch, traz um novo olhar sobre como podemos nos beneficiar com o silêncio em nossas vidas. Para ela, o silêncio é sagrado, profundo, especial e capaz de dar paz e calma.
Há espaço para a fé no mundo atual? (EST Edições, 94 páginas), do premiado Monsenhor e professor universitário Urbano Zilles, reúne quatro palestras proferidas no Ceará em 2017. A obra trata de fé e razão, filosofia da religião e pretende auxiliar a quem quer ser um cristão do século XXI sem renunciar à honestidade intelectual.
a propósito...
Nas páginas 102 e 103 estão texto e foto de Camila Eidt Iranzo e André Luis de Moura Santos, que desde 2 de janeiro de 2017 estão à frente do Café Haiti. Eles querem manter a tradição do Haiti e, ao mesmo tempo , trazer renovações, conservando, assim, antigos clientes e buscando novos. É isso mesmo, assim são os cafés que atravessam os tempos guardando a memória e preparando as memórias futuras. É preciso um olhar para as inesquecíveis lembranças do passado e outro para os novos tempos e frequentadores. Nos centenários cafés, é como disse o Mario Quintana: "O tempo é só um ponto de vista dos relógios". Longa vida, felicidades para o Haiti e para nosso Centro de Porto Alegre, do qual o Haiti é uma das partes mais históricas e vivas. De qualquer maneira, o Café Haiti de ontem e de hoje sempre estará eternizado nas páginas do livro, registro importantíssimo de nossa história.