Van Rijn, romance da escritora norte-americana Sarah Emily Miano, autora de Encyclopaedia of Snow, que foi publicado na Inglaterra, Alemanha, Espanha, Holanda e Eslováquia, dentre outros países, trata da vida do genial pintor Rembrandt van Rijn e da idade de ouro em Amsterdã, Holanda, no século XVII. Sarah foi chef de cozinha, guia de turismo e detetive particular antes de se dedicar à literatura. Atualmente mora em Londres e pelo projeto do romance Van Rijn recebeu o Arts Council Writer´s Award. A narrativa dá vida ao mais misterioso de todos os pintores e também fala das paisagens, dos cheiros, dos sons e das cores do extraordinário mundo da pintura de Amsterdã. Em 1667 Pieter Blaeu, jovem editor, encontra o idoso e desamparado pintor Rembrandt van Rijn numa visita a ateliê de artistas. Logo é atraído para sua vida por meio de uma estranha mistura de admiração e repulsa. À medida em que Pieter penetra o mundo sombrio do gênio, depara com um interessante grupo de personagens, vivos e mortos: parentes, amigos, criadas e patronos do pintor, cujas histórias são, em certas ocasiões, obscenas e engraçadas; em outras, filosóficas e macabras. Enquanto isso o pintor escreve um diário pessoal, um livrinho de capa preta com as páginas cheias de orelhas, onde registra tudo, de suas regras sobre a arte e a vida até suas peças dramáticas e receitas - ou o que ele chama de "caprichos de minha mente inquieta". Ao conhecer uma poeta chamada Clara, cujo interesse por Rembrandt se iguala ao dele, uma história de amor tem início ao tentarem desvelar e compreender o grande homem - da ascensão à fama e riqueza até o declínio de popularidade e pobreza. Não por acaso ele era o mestre na arte de revelar e ocultar. Os dois relatos, do pintor e do editor, são verdadeiras aulas de história, onde os leitores vão aprender acerca de várias personalidades artísticas e políticas da época. É notável a técnica da autora na descrição do processo criativo do pintor. Sarah aborda os personagens, com sua narrativa altamente visual, de modo que os leitores parecem estar diante de um quadro. Arte, história e ficção estão na obra de modo equilibrado e envolvente. Com seu olhar acurado para os detalhes, Sarah Emily Miano se posiciona entre os novos e brilhantes talentos da literatura internacional. Bertrand Brasil, 448 páginas, mdireto@record.com.br.
Darcy Alves merecidamente na ribalta
O violonista, cantor e professor Darcy Alves, sempre elegante e discreto, lembra Ataulfo Alves, Paulinho da Viola, Pixinguinha e outros que mostram que a música é mais importante do que o músico. Ao longo de uma carreira iniciada quando tinha 14 anos, em Santo Ângelo, e que continua, quando é um guri de 76, e acompanha, por exemplo, Plauto Cruz, Darcy leva a vida nas cordas, Plauto leva a vida na flauta. O jornalista Paulo César Teixeira, em Darcy Alves - Vida nas cordas do violão (Editora Libretos), com texto afetivo e competente, coloca o homem e o músico na ribalta. De quebra, mostra como Darcy personifica a cena musical e a boêmia da cidade ao longo dos últimos 50 anos. Com belas fotos em preto e branco, adequadas ao tema, os leitores acompanham Darcy no Interior e, depois, na Capital, onde foi morar numa pensão da Riachuelo e se iniciou como "exímio datilógrafo". Fernando Albrecht, do Jornal do Comércio, enriqueceu a obra com depoimentos sobre os tempos do American Boite, famosa casa noturna da Voluntários, a Rua do Pecado, e do legendário Adelaide's, da Marechal Floriano, de Adelaide Dias, que entre 1968 e 1989 foi uma das principais empresárias da noite da Capital. Aconselhada por Lupicínio Rodrigues, ela passou a contar com as canjas de Darcy, Jessé Silva, Mário Barros, Azeitona, Marino do Sax, Clio do Cavaquinho, Plauto Cruz, Túlio Piva, Lúcio Quadros e outros. Fernando Albrecht, Paulo Sant'Anna, Danilo Ucha, Demósthenes Gonzalez e Hamilton Chaves, entre outros, frequentavam. Em certo momento Darcy passou a trabalhar no Adelaide´s todas as noites. Se tornou o diretor artístico, escolhendo artistas, repertórios, datas e botando ordem no point. Em 1971, Adelaide abriu na José do Patrocínio 908 o bar e restaurante Chão de Estrelas. Lá Lourdes Rodrigues, Cléa Ramos e Zilah Machado eram conduzidas por Darcy, que acompanhou Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Beth Carvalho, Altemar Dutra e outros. Jamelão, quando vinha a Porto Alegre, não trazia violonista. "Não precisa, tem o Darcy lá", dizia. Darcy passou pelas big bands, grupos de choro, acompanhou Lupi e a MPB e foi presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais de Porto Alegre, onde defendia os direitos dos colegas. Yamandú Costa disse que Darcy integra uma nobre linhagem que manteve a tradição do choro, da valsa e da seresta, sempre com uma originalidade ímpar. Darcy é a elegância, a música e a noite saudáveis da cidade. Longa vida a ele.
Faroleiro nos oceanos