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Fernando Albrecht

Fernando Albrecht

Publicada em 07 de Novembro de 2024 às 18:36

Minha história com a garota que perdi na Feira do Livro de Porto Alegre

70ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre

70ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre

TÂNIA MEINERZ/JC
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Fernando Albrecht
Quem viveu as primeiras Feiras do Livro sabe que a comparação com a de agora é anterior ao exercício de inutilidade. Para começar, a sineta do xerife é uma gravação, o que me leva à suspeita de que não soubessem mais manejar o instrumento, que também servia para chamar o recreio ou o começo das aulas. Ou então, a sineta se misturou com os fantasmas dos escritores do passado. Mas isso é picuinha, direis amantes das letras pretas em páginas brancas. De fato, o espírito da feira se perdeu como a sineta que não é mais badalada.
Quem viveu as primeiras Feiras do Livro sabe que a comparação com a de agora é anterior ao exercício de inutilidade. Para começar, a sineta do xerife é uma gravação, o que me leva à suspeita de que não soubessem mais manejar o instrumento, que também servia para chamar o recreio ou o começo das aulas. Ou então, a sineta se misturou com os fantasmas dos escritores do passado. Mas isso é picuinha, direis amantes das letras pretas em páginas brancas. De fato, o espírito da feira se perdeu como a sineta que não é mais badalada.
Nos anos 1950, eu voava o doce pássaro da juventude e com asas saí do Interior especificamente para comprar um livro. Os livros sempre foram caros, mas na época fértil de títulos novos de ficção tinham abatimento de 50%. Os usados se comprava às dúzias, e não havia essa moda de obras de autoajuda. Como dizem os antigos, quem sabe faz e quem não sabe ensina. As barracas eram dispersas praça afora, um labirinto onde havia quase-colisões entre os ávidos leitores.
 
Mas eu havia colimado meu alvo, O Grande Circo, de Pierre Clostermann, um piloto francês que havia abatido 33 aviões alemães na II Guerra Mundial com seu caça Spitfire inglês. Um ás, com competência também para contar histórias de guerras, pessoas e aviões. Não titubei em gastar um dinheirinho dolorosamente poupado, e ainda deu para comprar um ou dois do Jorge Amado, o mestre baiano, e Machado de Assis, outro que merecia ser mais lido. As pessoas eram mais sensíveis para os prazeres da alma. Hoje, abunda a sensibilidade de uma retroescavadeira.
 
Com os volumes embaixo de cada sovaco, me permiti olhar a paisagem. Logo adiante vi uma garota usando saia plissada. Linda a mais não ver. Percebi que ela me olhava com o rabo do olho, esse periscópio lateral. Aleluia, pensei, eis uma feira de livros e meninas bonitas. Abrindo caminho me dirigi a ela, mas a perdi. Naveguei pelo mar da esperança com a bússola apontando para uma saia plissada. Essa brincadeira durou uns bons 20 minutos, até que não vi mais nem a saia, nem ela. Então cansei.
Confesso que lastimo a sorte madrasta. Em desespero visual percorri todas as bancas com olhos de farol de automóvel, mas realmente ela tomou chá de sumiço. Ou se arrependeu, sabe-se lá. Que coisa, vir de tão longe para se frustrar. Um amor possível que se transformou em impossível. Cá entre nós e Pierre Clostermann, amores eternos como Romeu e Julieta só são impossíveis quando não consumados. O amor é como a pluma, voa tão leve e tem a vida breve, precisa de vento sem parar, já cantava Vinicius Moraes.
 
Fui trotando até a Estação Rodoviária sobraçando minha nova biblioteca, ligeiramente temeroso que eles viessem ao chão. Era meu consolo por ter perdido a menina que me encantou. Relembrando o episódio, lembro da música "Feitio de Oração", do formidável Noel Rosa.
 
Quem acha
Vive se perdendo
 
Adiante, a letra fala na "dor tão cruel de uma paixão". Bueno, não cheguei a tanto, pelo menos eu tinha meus livros para um mês de leitura e releitura para esquecer a menina da saia plissada.
 
 

De parar o trânsito

TÂnia Meinerz/JC
De tanto ver motoristas desrespeitarem as faixas de segurança, estes dois cachorros também se deram ao luxo e fizeram suas necessidades em cima de uma. Ao passeador da dupla só restou rir da cena. É necessário dizer que os motoristas pararam seus possantes, respeitando o tempo dos cães. Menos mal que em seguida a forte chuva carregou os vestígios do crime.
 

A gravidez da orca

O tempo de gestação de uma baleia orca é de 18 meses. O tempo de gestação do pacote de redução de despesas do governo está neste caminho. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que faltavam "só dois detalhes". Certo. Um deles é Lula.

O brilho dos anônimos

A Calçados Bibi, com sede em Parobé, conta com um programa chamado Ninho de Inovação, que incentiva a contribuição de colaboradores, franqueados, fornecedores com novas ideias e sugestão de solução para os desafios do negócio. Eis um bom programa. Ao longo do tempo, a Bibi promoveu uma queda superior a 20% no tempo de sua produção. Não é incomum que o mais humilde dos funcionários tenha uma ideia brilhante.

Vespeiros alvoroçados

Como uma pedra jogada em ninho de vespas, o resultado das eleições municipais alvoroçou vespas e seus primos marimbondos, alguns já fardados para as eleições de 2026. No transcurso do processo, haverá picadas dolorosas e ensaio de guerras tribais e ao fim haverá choro e ranger de dentes.

Servos do inglês

Algum dia o Brasil vai ter que passar uma peneira nos denominados "influencers", uma dessas modas de chamar em inglês o que tem equivalente no português, os formadores de opinião. Parece que basta postar uma frase na internet que, automaticamente, o autor vira influencer. Em boa parte não influenciam nem a velhinha de Taubaté. Dá a impressão de que existem mais influenciadores do que influenciados.

O canal do tempo passado

O fim do Dado Bier do Bourbon Shopping traz uma certa melancolia de como a cidade mudou. O original, ao lado do Shopping Iguatemi, atraia gente mesmo que não bebesse sua cerveja. Palco de eventos, lembro como se fosse hoje que foi lá que o Weather Channel se mostrou à praça. A previsão do tempo é a única atividade humana que sobrevive apesar dos erros.

Carros abandonados

Um grande problema dos nossos dias é o abandono de veículos nas cidades. Carros com tempo de uso ultrapassado, com problemas mecânicos insolúveis e aqueles com débitos de licenciamento, dívidas e multas, que, por total descaso do poder concedente, saem de uso. Caso fossem destinados à sucata, fariam a alegria do doutor Jorge.

Só detalhes

O tempo de gestação de uma baleia orca é de 18 meses. O tempo de gestação do pacote de redução de despesas do governo está neste caminho. O ministro Fernando Haddad disse que faltam "só dois detalhes". Certo. Um deles é Lula.
 

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