Na minha imaginação, posto-me no meio do Largo Glênio Peres e olho para a fachada que sei de cor e salteado, desde meus verdes anos e o doce pássaro da juventude, o Mercado Público Central de Porto Alegre. Quando verei o portão central escancarado com suas barras de ferro como se estivessem me abraçando, e em cima dele o velho relógio parado gritando "bem-vindo, a casa é sua!" ? Quando voltarei ter dois dedos de prosa com meu amigo e leitor do restaurante Havana? Quando entrarei novamente na Padaria Copacabana, com seu Fernandes fazendo aquele gesto de "entre"? Quando comerei os pastéis, o sanduíche Farroupilha de presunto e queijo e o enorme mil-folhas?
Quando comprarei embalagens de isopor e pratos de papelão ou plásticos do Martini? Viro-me para o lado oposto e vejo uma das duas lojas do Café do Mercado, onde quase que diariamente tomo um cafezinho amigo ouvindo as últimas das atendentes.
Antes de entrar de vez, faço uma aposta na Mega Sena com atendentes que conheço, e elas me conhecem. Pouco adiante, na quebrada do mundaréu do Mercado, olho para o Restaurante Naval, que teve um passado glorioso e complicado quando era bar da pesada e o pau comia solto entre marinheiros inundados por cachaça e cerveja, para, depois, se regenerar e virar restaurante com o camarão que tanto gosto.
Alguns passos adiante vejo o garçom Zezinho, o Último Samurai de Hulha Negra abrindo os braços contando piadinhas, entre elas a salada de batata com bacalhau "o bacalhau é nacional mas a batata é inglesa...".
Dirijo-me ao centro democrático onde está enterrado um Bará que salvou o Mercado de dois incêndios e duas enchentes e o salvará novamente. Deparo-me com as bancas 18, a 43, a do Holandês com Sérgio Lourenço dividindo atenção com outras duas operações fora do Centro, onde compro frios e queijos, a Banca 40 dos sorvetes e salada de fruta, os açougues, a banca que vende produtos naturais, a fruteira, os vendedores de ervas e hortaliças.
Todas estas imagens estão em volta do meu coração e do meu olfato, porque o Mercado exala vários cheiros.
E quando o dia glorioso de reabertura acontecer, me postarei novamente no Largo e gritarei o grito travado no meu peito nestes dias inundados:
- Mercado meu querido, eu estava com saudade danada de você!
De cima a baixo, a Justiça Eleitoral não aceita a prorrogação das eleições municipais no Rio Grande do Sul. Entende-se a complexidade de tal ato, mas há fatores extra-campo que merecem ser mencionados. Quando um prefeito (ou governador ou presidente) é eleito, o cafezinho do antecessor esfria.
Quando assume, vai acionar o primeiro escalão, que vai acionar os detentores do segundo e, provavelmente, vai substituí-los. Então, se gasta um ano para botar o bloco na rua e só pega o timão para valer em meados do segundo ano - e botar o pé no fundo no terceiro. Tudo isso em cenário de recuperação da enchente. Até lá, será tentativa e erro.
Todos os super heróis e seus poderes mágicos dos filmes de Hollywood são fichinha em comparação com o super senador Renan Calheiros (MDB-AL). Foi a acusação de corrupção arquivada pelo STF. Senador, diga uma coisa: qual é o nome do seu advogado?
Pessoas supostamente em busca de animais para adoção procuram cães de raça nos abrigos - principalmente Pitbull - com intenções assaz duvidosas. Barrados pelos valentes veterinários, auxiliares e seguranças voluntários, os meliantes mudam a estratégia e agora oferecem-se como ajudantes nos abrigos; quando identificam a oportunidade, tentam roubar os animais.
Deveriam se ouvir a toda hora, mas os pássaros estão silentes. Nem mesmo os loquazes papagaios pararam de fazer reunião de condomínio nas partes mais altas de alguns bairros.
De toda parte vem reclamações sobre o aumento descabido de produtos e serviços. Um leitor teve que contratar alguém para consertar o telhado. Serviço que antes custava R$ 600 subiu para R$ 1,2 mil. Equivalem-se aos assaltantes. Pensando melhor, são assaltantes. Ô vida miserável...
Se vis pacem para belum, se queres a paz, prepara a guerra. Este provérbio latino é o farol das prevenções, serve como uma luva para a reconstrução do Estado. Inclui o superdimensionamento das estruturas de prevenção das cheias.
Algumas lojas e operações gastronômicas estão cercando as portas porque o dono do imóvel pede um valor exorbitante. São os da escola "perco dinheiro mas não vou cobrar menos".
Além da vegetação encalhada nas calçadas e árvores, cabos de energia ou de telefonia também resolveram nadar. Antes ficavam em cima, com a enchente ficaram em baixo. O flagrante foi na avenida Ijuí.
Se é para listar os culpados pelos alagamentos, inclua-se boa parte da população que joga lixo nas ruas, causadora do entupimento das bocas de lobo e o bocal das bombas. Infelizmente pagam os justos pelos pecadores.