Porto Alegre, sex, 14/03/25

Anuncie no JC
Assine agora
Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 13 de Março de 2025 às 19:50

Mickey 17, de Bong Joon Ho: Alegorias em um planeta distante

Longa 'Mickey 17' é assinado por Bong Joon Ho, diretor do vencedor do Oscar 'Parasita'

Longa 'Mickey 17' é assinado por Bong Joon Ho, diretor do vencedor do Oscar 'Parasita'

WARNER BROS/DIVULGAÇÃO/JC
Compartilhe:
Hélio Nascimento
O gênero da ficção-científica, no cinema, é um dos marcos iniciais. Por permitir um uso livre da fantasia, possibilitar a criação de mundos imaginários e a criação de espaços onde predomina a imaginação, tal forma de expressão esteve presente desde os primeiros anos. Entre os mais de 500 curtas-metragens que realizou, o mágico Méliès colocou nas telas, em 1902, A viagem à Lua, filme marcado pela comicidade e pela sátira que raras vezes voltariam a um gênero mais tarde enriquecido por obras assinadas por cineastas que iriam contribuir para a grandeza de uma arte nascida graças ao empenho humano de imortalizar um tempo e suas imagens. O sul-coreano Bong Joon Ho, que foi laureado pela Academia de Hollywood por seu Parasita, que recebeu o Oscar principal para um filme não falado em inglês, adquiriu prestígio suficiente para que seu novo filme, Mickey 17, produzido, entre outros, por Brad Pitt, contasse com recursos suficientes para a concretização de uma obra que pudesse ser vista como um exemplar significativo de uma forma de cinema. Esperava-se muito, é claro, de um realizador que antes havia demostrado imaginação e competência para falar de elementos ocultos, mas formadores de uma realidade. Mas a obra, de certa forma é uma decepção, inclusive pelas confusões de um roteiro, que tem o diretor como um dos autores, que não permite o predomínio das imagens e quase sempre recorre à palavra para tentar explicar o que está acontecendo.
O gênero da ficção-científica, no cinema, é um dos marcos iniciais. Por permitir um uso livre da fantasia, possibilitar a criação de mundos imaginários e a criação de espaços onde predomina a imaginação, tal forma de expressão esteve presente desde os primeiros anos. Entre os mais de 500 curtas-metragens que realizou, o mágico Méliès colocou nas telas, em 1902, A viagem à Lua, filme marcado pela comicidade e pela sátira que raras vezes voltariam a um gênero mais tarde enriquecido por obras assinadas por cineastas que iriam contribuir para a grandeza de uma arte nascida graças ao empenho humano de imortalizar um tempo e suas imagens. O sul-coreano Bong Joon Ho, que foi laureado pela Academia de Hollywood por seu Parasita, que recebeu o Oscar principal para um filme não falado em inglês, adquiriu prestígio suficiente para que seu novo filme, Mickey 17, produzido, entre outros, por Brad Pitt, contasse com recursos suficientes para a concretização de uma obra que pudesse ser vista como um exemplar significativo de uma forma de cinema. Esperava-se muito, é claro, de um realizador que antes havia demostrado imaginação e competência para falar de elementos ocultos, mas formadores de uma realidade. Mas a obra, de certa forma é uma decepção, inclusive pelas confusões de um roteiro, que tem o diretor como um dos autores, que não permite o predomínio das imagens e quase sempre recorre à palavra para tentar explicar o que está acontecendo.
Como sempre acontece no gênero, o futuro é usado como instrumento para falar do presente, seja em formato real, seja com a utilização da fantasia. O que vemos agora é uma tentativa de criticar um processo colonizador que, em nome de uma autodeclarada superioridade, ambiciona subjugar uma forma de vida tida como inferior e, portanto, segundo normas estabelecidas, indigna de merecer qualquer forma de respeito. É quando o filme se deixa levar pela ingenuidade, permitindo que um certo maniqueísmo, tão em moda atualmente, passe a ocupar lugar relevante na trama. É só comparar o que agora é proposto com o desenvolvimento do tema em Alien, o oitavo passageiro, um dos grandes filmes de Ridley Scott, para que se perceba que o tema, no filme de Bong Joon Ho, é superficialmente desenvolvido. É possível mesmo constatar que o cineasta não escapa do ridículo em alguns momentos, situações em que provavelmente fique bem claro que seu prestígio alcançado em alguns setores é um dos tantos equívocos atualmente surgidos e aceitos sem contestação. Não basta domínio sobre técnicas narrativas para que floresça algo significativo.
Porém, há um elemento que merece algum destaque. Ao mesmo tempo em que denuncia - de forma superficial, é verdade - o processo colonizador, o filme lança sua crítica a uma tendência ao poder maior que procura transformar o ser humano em cobaia, ao fazer do protagonista uma vítima de um processo destinado a transformar seres humanos em objetos descartáveis depois que réplicas são construídas, o que resulta em algo inesperado pelos donos do poder. É quando filme, produzido no ano passado, antecipa figuras que hoje ocupam o noticiário. É impossível deixar de ver na figura do chefe da nave espacial a tentativa de criticar o atual presidente americano ou seu principal assessor. Certamente, por outro lado, o diretor de Mickey 17 teria muito a aprender vendo, ou talvez revendo, neste último caso ficando revelado que ele nada aprendeu, Doutor fantástico, de Stanley Kubrick. O passado será sempre uma referência. Ignorá-lo abre espaço para a mediocridade ou para demonstrações de mau gosto, aqui presentes na forma como o cineasta utiliza dois intérpretes conhecidos para viver um casal dotado de poder para exterminar o diferente e o exercendo com inegável prazer. Mas a encenação deixa muito a desejar. Alguns males contemporâneos aparecem durante a ação, mas diálogos pobres e caretas constrangedoras comprometem o resultado final.
 

Notícias relacionadas

Comentários

0 comentários