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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 28 de Novembro de 2024 às 19:20

O Herege, de Scott Beck e Bryan Woods: Grotesco e superficial

Hugh Grant está no elenco de O Herege, um dos mais badalados lançamentos de horror em 2024

Hugh Grant está no elenco de O Herege, um dos mais badalados lançamentos de horror em 2024

A24/DIVULGAÇÃO/JC
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Hélio Nascimento
Num mundo em que uma banana colada numa parede se transforma em uma obra de arte capaz de valer milhões, não deve causar surpresa que um filme como O herege seja levado a sério e até mereça algumas palavras de elogio de alguns assim chamados críticos espalhados por um cenário criado por avanços tecnológicos, estes sim notáveis e que mereciam um uso bem melhor, mesmo que tenham aberto possibilidades e oferecido oportunidades para que o conhecimento e a cultura se espalhem e ocupem espaços antes de difícil acesso. Os autores de algumas peças não são culpados de nada. Eles apenas exploram certa deterioração com uma ironia devastadora e, de certa forma, dão provas àqueles que afirmam que determinada tecnologia acabou de dar voz a quem ultrapassou etapas sem tomar conhecimento de dados relevantes. No final das contas, tudo se resume numa devastadora explosão de ingenuidades e deformações. O diretor canadense Dennis Arcand, no recente Testamento, resumiu de forma admirável toda uma época, num filme que merecia mais atenção do que aquela que recebeu. Os sinais de uma crise tão ampla como perigosa se manifestam em vários setores, inclusive nas salas exibidoras, com aqueles ridículos filmezinhos exibidos antes de cada sessão, no qual acontecimentos irrelevantes são transformados em testes de conhecimento e até alguns dramas são anunciados com sorrisos. Constatar tudo isso não é saudosismo, pois há muito ridículo espalhado no passado, mas sim chamar atenção para um processo que aos poucos vai se alastrando e enfraquecendo um setor indispensável para que seja sagrada a informação correta, elemento indispensável na operação destinada a criar uma sociedade sólida e fortemente protegida.
Num mundo em que uma banana colada numa parede se transforma em uma obra de arte capaz de valer milhões, não deve causar surpresa que um filme como O herege seja levado a sério e até mereça algumas palavras de elogio de alguns assim chamados críticos espalhados por um cenário criado por avanços tecnológicos, estes sim notáveis e que mereciam um uso bem melhor, mesmo que tenham aberto possibilidades e oferecido oportunidades para que o conhecimento e a cultura se espalhem e ocupem espaços antes de difícil acesso. Os autores de algumas peças não são culpados de nada. Eles apenas exploram certa deterioração com uma ironia devastadora e, de certa forma, dão provas àqueles que afirmam que determinada tecnologia acabou de dar voz a quem ultrapassou etapas sem tomar conhecimento de dados relevantes. No final das contas, tudo se resume numa devastadora explosão de ingenuidades e deformações. O diretor canadense Dennis Arcand, no recente Testamento, resumiu de forma admirável toda uma época, num filme que merecia mais atenção do que aquela que recebeu. Os sinais de uma crise tão ampla como perigosa se manifestam em vários setores, inclusive nas salas exibidoras, com aqueles ridículos filmezinhos exibidos antes de cada sessão, no qual acontecimentos irrelevantes são transformados em testes de conhecimento e até alguns dramas são anunciados com sorrisos. Constatar tudo isso não é saudosismo, pois há muito ridículo espalhado no passado, mas sim chamar atenção para um processo que aos poucos vai se alastrando e enfraquecendo um setor indispensável para que seja sagrada a informação correta, elemento indispensável na operação destinada a criar uma sociedade sólida e fortemente protegida.
Os amigos Scott Beck e Brian Woods são diretores e roteiristas que exploram o suspense e o horror. Pertencem ao grupo dos que acreditam que as explosões na faixa sonora e os sustos causados por recursos grotescos possibilitados pela montagem são os mais importantes para o cinema. E há também sempre casas mal iluminadas, portas que se sucedem e sinais de que algo perigoso se aproxima, função exercida pela tempestade, quando as duas protagonistas estão frente à casa do sinistro contestador de todas as religiões. Depois de algumas formalidades e gentilezas, o filme até parece que vai se desenrolar de forma diferente daquela que tem abastardado um gênero, quando o trio começa a discutir a função das religiões na construção do processo civilizatório. Mas logo a seguir os diretores e roteiristas se rendem aos lugares-comuns e mergulham no ridículo. O que se vê então é uma sucessão de cenas patéticas, num acúmulo de situações que transformam o filme num desfile de atrocidades, desprovidas de qualquer significado. Milagre seria se de um filme assim surgisse uma ideia que merecesse reflexão. Nem o tema de um pai discutindo com as filhas, numa espécie de encenação de um conflito entre épocas diferentes ou de conhecimento acumulado com ingenuidades juvenis, provavelmente nem passou pela cabeça dos realizadores.
O filme de Scott e Woods é apenas mais uma evidência da falta de imaginação que parece dominar uma geração de cineastas que não está à altura da que a precedeu. Tudo está a indicar que os executivos das empresas produtoras atingiram seu objetivo. Os veteranos que, felizmente ainda estão em atividade, se impõem graças ao prestígio alcançado em tempos melhores. Mas os novos parecem interessados apenas em adquirir fama graças a falta de critérios vigente. Para os interessados no estudo de uma época um tanto caótica, um filme como O herege até pode ser visto como prova eloquente e documento indispensável. Mas é necessário a paciência dos calmos e a curiosidade dos que ainda permanecem atentos. O passado não deve ser repetido. Mas é só olhar para os clássicos do gênero para que seja medida a distância entre obras-primas reveladoras e mediocridades como a que agora estamos vendo. Eis um filme que coloca na tela apenas caricaturas e superficialidades.
 

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