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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 24 de Outubro de 2024 às 21:27

Super/Man, a história de Christopher Reeve: um ator e seu destino

Papel icônico no filme Superman, de 1978, fez de Christopher Reeve uma celebridade global

Papel icônico no filme Superman, de 1978, fez de Christopher Reeve uma celebridade global

/WARNER BROS/DIVULGAÇÃO/JC
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Hélio Nascimento
O documentário, mais que um gênero, é a essência do cinema, pois a ficção nada mais é do que uma tentativa de recriar o mundo real. O gênero raramente chega às telas das salas de exibição. Mas esta ausência não se limita a tela grande. Esta forma de cinema sofre também com os pobres métodos tão comuns em trabalhos feitos para a televisão, nos quais predominam a falta de imaginação e o recurso a entrevistas geralmente conduzidas de forma superficial e exercidas com o claro intento de exaltar a figura central, constatação que nada tem a ver com os méritos e a importância de quem é focalizado. Em certa época, antes de a tevê se intrometer em tal espaço, esse recurso foi chamado de cinema verdade, uma criação atribuída por Godard a Chaplin na cena do discurso do barbeiro em O grande ditador, uma manifestação que permanece atual como forma de advertência e chamado à razão. Lançado em janeiro no Festival de Sundance, mostra americana dedicada ao cinema independente, e exibido há alguns dias no Festival do Rio, Super/Man: a história de Christopher Reeve, graças à fama obtida pelo ator, ultrapassa a barreira do desinteresse de exibidores e alcança o privilégio de repartir espaço com filmes proprietários do mercado. Mesmo que não possa ser incluído entre os melhores documentários, o filme de Ian Bonhôte e Peter Ettedgut é trabalho que merece atenção, pois coloca em cena tanto temas relacionados a inesperados obstáculos criados por circunstâncias como também aborda questões ligadas à indústria cinematográfica e suas ligações nem sempre harmônicas com a criação artísticas.
O documentário, mais que um gênero, é a essência do cinema, pois a ficção nada mais é do que uma tentativa de recriar o mundo real. O gênero raramente chega às telas das salas de exibição. Mas esta ausência não se limita a tela grande. Esta forma de cinema sofre também com os pobres métodos tão comuns em trabalhos feitos para a televisão, nos quais predominam a falta de imaginação e o recurso a entrevistas geralmente conduzidas de forma superficial e exercidas com o claro intento de exaltar a figura central, constatação que nada tem a ver com os méritos e a importância de quem é focalizado. Em certa época, antes de a tevê se intrometer em tal espaço, esse recurso foi chamado de cinema verdade, uma criação atribuída por Godard a Chaplin na cena do discurso do barbeiro em O grande ditador, uma manifestação que permanece atual como forma de advertência e chamado à razão. Lançado em janeiro no Festival de Sundance, mostra americana dedicada ao cinema independente, e exibido há alguns dias no Festival do Rio, Super/Man: a história de Christopher Reeve, graças à fama obtida pelo ator, ultrapassa a barreira do desinteresse de exibidores e alcança o privilégio de repartir espaço com filmes proprietários do mercado. Mesmo que não possa ser incluído entre os melhores documentários, o filme de Ian Bonhôte e Peter Ettedgut é trabalho que merece atenção, pois coloca em cena tanto temas relacionados a inesperados obstáculos criados por circunstâncias como também aborda questões ligadas à indústria cinematográfica e suas ligações nem sempre harmônicas com a criação artísticas.
No ano de 1978, o diretor Richard Donner, que está entre os entrevistados, realizou o filme Superman, que obteve merecidamente um grande sucesso de bilheteria e elogios dos críticos. Foi a primeira vez que o herói das histórias em quadrinhos, personagem criado em 1938 por Joe Shuster e Jerry Siegel, mereceu um filme. Antes, na década de 50 do século passado, o personagem apareceu numa série de televisão, interpretado pelo ator George Reeves, uma semelhança de nomes que causou alguma confusão nos apressados de sempre. O filme de Donner, como um concerto barroco, era dividido, digamos, em três movimentos. O primeiro, dramático e movimentado, transcorria em mundo a ser destruído. O segundo era uma espécie de pastoral, que acompanhava o crescimento e a adolescência do personagem, em outro planeta, o nosso, também ameaçado. E o terceiro, movimentado e por vezes alegre, inclusive com um balé no espaço, também colocava na tela um vilão que não escapava da sátira. O filme abriu caminho para que Tim Robbins e Christopher Nolan realizassem respectivamente um díptico e uma trilogia, sobre Batman, ambos dotados de muitos méritos. E também Richard Lester dirigiu uma segunda parte, em 1980. Mas houve continuações dispensáveis, ditadas apenas por interesses econômicos, algo que o próprio ator, antes do acidente, denunciou. Reeve, com formação na Juilliard School, foi criticado por colegas depois de aceitar o papel. Mas as críticas sumiram depois da estreia do filme de Donner, que também contava com Gene Hackman e Marlon Brando.
O documentário de Bonhôte e Ettedgut não aborda os filmes que, depois do acidente, Reeve dirigiu e praticamente ignora uma refilmagem de Janela indiscreta, um dos clássicos de Alfred Hitchcock, dirigida em 1998 por Jeff Bleckner. O destaque vai para a ação do ator em prol de pesquisas para auxiliar pessoas com deficiências, inclusive pela utilização de células-tronco. Este caso claro da transformação de um herói de ficção num agente verdadeiro na luta por salvar vidas e abrir caminhos é o tema dominante. Um herói ferido, transformado, por esforço próprio, em figura importante no avanço de pesquisas científicas destinadas a beneficiar ou salvar seres humanos, aparece como o destaque maior. A trajetória de Reeve está muito distante de atitudes superficiais. Um caso raro de empenho e sacrifício que não deverá ser esquecido. Isso compensa algumas omissões e momentos tocados pela superficialidade. E um documentário nos cinemas, mesmo que por poucos dias, é um acontecimento a ser destacado.
 

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