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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 12 de Setembro de 2024 às 17:15

O último pub, de Ken Loach: conflito e solidariedade

Ken Loach anuncia que O último pub será seu último trabalho

Ken Loach anuncia que O último pub será seu último trabalho

ADOROCINEMA/REPRODUÇÃO/JC
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Hélio Nascimento
Com o apoio da BBC e do British Film Institute (BFI), Ken Loach chega, aos 88 anos de idade, ao marco de 57 filmes com este O último pub, que ele próprio anuncia como seu último trabalho, decisão que os admiradores do cineasta esperam que seja revogada, já que o realizador se mantém fiel a seu passado, lúcido e competente ao narrar acontecimentos que parecem integrar um documentário, tal a perfeição com que o diretor recria a realidade, como se os intérpretes não fossem atores e atrizes e sim figuras humanas acompanhadas por uma câmera oculta. De certa maneira, eis na tela o cinema em sua plenitude. O cinema de Loach não é voltado para grandes figuras e sim para pessoas comuns, cuja trajetória, embora desconhecida e ignorada pelo espetáculo corriqueiro, vivenciam dramas que caracteriza uma época, suas crises, seus conflitos, suas injustiças. Numa fase em que o cinema sofre grandes ameaças, inclusive as vindas do silêncio dos que, em vez de defendê-lo, parecem interessados em abalar suas estruturas, tal o fascínio demonstrado por futilidades que tomam conta de telas grandes e pequenas, é cada vez menor o número de resistentes entre os praticantes de um cinema responsável e os que, de maneira ou outra, o divulgam. Entre os resistentes, Loach, que está se despedindo da realização de filmes, é nome a ser incluído entre os que não se deixaram seduzir por miragens. Participante de um cinema praticado num país dos mais avançados do mundo, ele não se mostrou omisso diante de distorções, injustiças e sempre esteve comprometido com uma arte voltada para a focalização de personagens e situações geralmente esquecidas.
Com o apoio da BBC e do British Film Institute (BFI), Ken Loach chega, aos 88 anos de idade, ao marco de 57 filmes com este O último pub, que ele próprio anuncia como seu último trabalho, decisão que os admiradores do cineasta esperam que seja revogada, já que o realizador se mantém fiel a seu passado, lúcido e competente ao narrar acontecimentos que parecem integrar um documentário, tal a perfeição com que o diretor recria a realidade, como se os intérpretes não fossem atores e atrizes e sim figuras humanas acompanhadas por uma câmera oculta. De certa maneira, eis na tela o cinema em sua plenitude. O cinema de Loach não é voltado para grandes figuras e sim para pessoas comuns, cuja trajetória, embora desconhecida e ignorada pelo espetáculo corriqueiro, vivenciam dramas que caracteriza uma época, suas crises, seus conflitos, suas injustiças. Numa fase em que o cinema sofre grandes ameaças, inclusive as vindas do silêncio dos que, em vez de defendê-lo, parecem interessados em abalar suas estruturas, tal o fascínio demonstrado por futilidades que tomam conta de telas grandes e pequenas, é cada vez menor o número de resistentes entre os praticantes de um cinema responsável e os que, de maneira ou outra, o divulgam. Entre os resistentes, Loach, que está se despedindo da realização de filmes, é nome a ser incluído entre os que não se deixaram seduzir por miragens. Participante de um cinema praticado num país dos mais avançados do mundo, ele não se mostrou omisso diante de distorções, injustiças e sempre esteve comprometido com uma arte voltada para a focalização de personagens e situações geralmente esquecidas.
Quem desejar contemplar a essência do cinema de Loach e sem método de trabalho é só ver a cena de Terra e liberdade, filme ambientado na Guerra Civil Espanhola, quando um grupo de defensores da República canta o hino revolucionário composto por Eugéne Pottier e Pierre de Getier, várias vezes utilizado pelo cinema internacional, inclusive pelo norte-americano. No filme Reds, de Warren Beatty, premiado pela Academia de Hollywood, a versão é marcada pela grandiosidade e sempre tinha seu tema executado a cada premiação do Oscar, algo que surpreendeu muita gente acostumada com repressões e por vezes surpreendida por rituais praticados em países que já superaram preconceitos e ignorâncias. No filme citado, Loach flagra um momento de dor superado pelo desejo de continuar a luta, depois da morte de alguns combatentes. Mas o mais importante são as figuras dos que formam aquele coro improvisado, desde o chefe veterano até uma jovem que não controla a emoção, passando por figurantes marcados pelo realismo, entre eles o avô de uma jovem inglesa que descobre o diário do parente, combatente naquele conflito. É momento de antologia, que resume o estilo de Loach.
Em O último pub, Loach traz ao cinema um tema bem atual: o conflito resultante da ação de antigos colonizados que procuram abrigo em cenários cujas estruturas e nível de vida foram construídos em parte expressiva pela exploração de matérias-primas de seus territórios. O drama é imenso e profundo e atualmente faz parte dos problemas enfrentados pelos colonizadores. Loach não faz discursos e coloca em cena aqueles que colocam o respeito pela vida humana acima de tudo. Tudo é feito forma a expor tal situação através de personagens que atuam de formas opostas. Loach é também um otimista e, assim como o Nanni Moretti de O melhor está por vir, conclui o relato com uma exaltação da solidariedade e da crença de que o respeito pelo ser humana terminará por ser predominante. Seu filme não esconde preconceitos e agressividades, assim completando um painel de uma época e passando a fazer parte do grupo que procura se manter lúcido e ativo numa fase difícil e pouco voltada para as causas de distorções. Uma arte assim merecia mais atenção do que a dirigida às chamadas franquias voltadas para a irrealidade.
 

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