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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 01 de Agosto de 2024 às 18:30

Sínteses reveladoras

Filme Seven - Os sete crimes capitais, realizado por David Fincher em 1995

Filme Seven - Os sete crimes capitais, realizado por David Fincher em 1995

CINEPOP/REPRODUÇÃO/JC
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Hélio Nascimento
Arquivando negativos, preservando filmes, exibindo obras históricas, as cinematecas de todo o mundo exercem papel fundamental no processo destinado a manter vivo o cinema, desde as primeiras imagens até os dias de hoje. Henri Langlois, um dos grandes precursores, costumava dizer que guardava com igual cuidado tanto filmes que amava quanto os que detestava. As cinematecas, com suas salas de exibição, têm também a importância de exibir filmes em locais e telas que permitem a aferição correta de obras preservadas, independentemente da visão de seus diretores, mesmo porque todas elas, de uma ou outra maneira, refletem uma época, seus acertos, seus erros, seus personagens. Nas últimas décadas, são muito os meios colocados à disposição do público interessado.
Arquivando negativos, preservando filmes, exibindo obras históricas, as cinematecas de todo o mundo exercem papel fundamental no processo destinado a manter vivo o cinema, desde as primeiras imagens até os dias de hoje. Henri Langlois, um dos grandes precursores, costumava dizer que guardava com igual cuidado tanto filmes que amava quanto os que detestava. As cinematecas, com suas salas de exibição, têm também a importância de exibir filmes em locais e telas que permitem a aferição correta de obras preservadas, independentemente da visão de seus diretores, mesmo porque todas elas, de uma ou outra maneira, refletem uma época, seus acertos, seus erros, seus personagens. Nas últimas décadas, são muito os meios colocados à disposição do público interessado.
Não vale a pena citá-los. Todos os conhecem. E alguns tiveram passagem rápida antes de desapareceram e nenhum deles chegou a ameaçar o verdadeiro cinema. Mas se constituem - e seria irracional negar tal fato - em auxiliares a serem aceitos, pois, embora com as restrições conhecidas, contribuem para que filmes realizados há anos e mesmo décadas tenham imagens e situações preservadas na memória dos que os admiram ou neles veem documentos a serem devidamente protegidos. E há filmes que, circulando normalmente em espaços domésticos, costumam mostrar resistência ao tempo e até mesmo revelam, a cada nova visão, novas forças e observações que permanecem atuais.
Um desses filmes é Seven - Os sete crimes capitais, realizado por David Fincher em 1995, a partir de um roteiro de Andrew Kewin Walker. A obra é pertencente ao gênero policial, do qual utiliza a célebre dupla de agentes, então interpretada por Morgan Freeman e Brad Pitt, ambos excelentes e o primeiro numa criação de personagem das mais marcantes. O filme, que possui uma sequência final de dramaticidade única e verdadeiramente impressionante, é daqueles que sintetizam de forma perfeita não apenas o tema desenvolvido, pois se ampliam de maneira a atingir a essência do que está sendo tratado, expondo dolorosamente contradições e agressões marcantes na trajetória humana, O filme, sem dúvida, foi um dos grandes do século passado, época marcada por agressões nunca antes praticadas contra a civilização, seja por interesses econômicos, paixões ideológicas ou pela loucura dos que se julgaram justiceiros. A cena final é concluída por uma citação a Hemingway, que confirma a contradição, exposta pelo personagem de Morgan Freeman.
Um outro destaque dessa obra-prima é a utilização da imagem como forma de definir um mundo. Tudo é sombrio e o tempo é quase sempre dominado por uma chuva que castiga a todos durante todo o tempo. As lanternas utilizadas pelos detetives são luzes que pouco iluminam um cenário dominado por sombras que parecem ameaças. E a biblioteca onde está depositada a cultura humana e na qual a música de Bach, citada por Howard Shore, que como autor da partitura original no restante do tempo contribui de maneira expressiva para a atmosfera do filme, reforça a ideia do humanismo perdido. E a cena do encontro de Freeman e Gwyneth Paltrow, num café, aprofunda um tema atualmente muito discutido, de forma a expressar o sofrimento, tocado pela lucidez de quem tomou uma atitude que julgou correta, mas que não deixa de atormentá-lo pela perenidade da dúvida. A palavra também exerce papel importante num filme que não recusa meios para pintar um quadro dos mais expressivos de uma crise de grandes proporções.
O espetáculo contemplado pela câmera de filmar é revelador de um painel onde são poucas as luzes e inúmeras as partes dominadas pelas trevas. Os dardos lançados contra o alvo por um ser humano que sabe dominar sua agressividade, concentrando-a no seu espaço particular, é um exemplo de resistência. Certamente vale a pena ressaltar a citação final, mesmo que as grandes obras do passado, o que é sintetizado na cena da biblioteca, tenham servido de inspiração para o executor da barbárie. Outra contradição e mais um exemplo da complexidade ignorada por uma sociedade em crise.
 

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