Dois filmes dos quais muito se esperava têm sido recebidos com restrições no início de suas apresentações regulares, depois dos protocolares aplausos no Festival de Cannes. Um deles, Megalopolis, do veterano Francis Ford Coppola (84 anos), um projeto ambicioso sobre arquitetura, parece não corresponder a suas ambições. O cineasta, cuja trilogia sobre a máfia é um dos grandes momentos do cinema, parece não ter alcançado o que planejava e desta vez não igualando o nível de Apocalypse Now. De qualquer forma, um filme de Coppola gera sempre alguma esperança de um cinema que, pelo menos, se afaste da superficialidade dominante. E, além disso, também é importante olhar com alguma desconfiança manifestações críticas que nem sempre correspondem à realidade.
Outro filme que tem encontrado manifestações marcadas até mesmo por insultos, que o classificam como o mais chato das últimas décadas, é Horizon: an american saga, também exibido em Cannes e aplaudido durante alguns minutos. Este é ainda mais ambicioso do que o de Coppola. O filme é dirigido, produzido e protagonizado por Kevin Costner e deverá ser lançado em duas partes, ambas com duas horas de projeção. O adjetivo chato nada diz além de expressar uma opinião pessoal, mas as restrições são muitas e a obra tem sido classificada como apenas o primeiro episódio de uma nada prometedora série de televisão. Numa fase em que o cinema tem sido dominado pelo infantilismo, que nada tem a ver com os indispensáveis filmes para crianças, é triste ver que obras que procuram outros caminhos são recebidas de tal forma.
Florian Zeller, nascido em Paris em 1979, é o diretor de Meu pai e Um filho. O primeiro possibilitou ao ator Anthony Hopkins receber o segundo Oscar de sua carreira. Os dois são obras notáveis, sendo o segundo marcado por um epílogo de uma dramaticidade incomum. Por enquanto não há informações sobre um novo filme do diretor, cujos primeiros trabalhos foram no teatro parisiense. Seus filmes aqui exibidos permitem colocá-lo entre os mais importantes da atualidade, numa época em que as produções da Marvel recebem mais atenção, inclusive pela chamada crítica especializada. Zeller explora o universo familiar, algo que fica evidente nos títulos de seus filmes aqui exibidos. Seu olhar para tal cenário não restringe a amplitude do espaço explorado, pois ele sabe ver nas relações familiares os sinais que compõem um microcosmo revelador da crise de nosso tempo. Os minutos finais de Um filho não são apenas impactantes. Eles revelam distâncias, incompreensões e o doloroso sentimento de uma perda causada pela indiferença. Peter Vaclav, o diretor de Il Boemo, filme recentemente exibido na Festa do Cinema Italiano, tem sido visto por alguns como um nome a ser seguido com atenção. Seu filme sobre o compositor tcheco Josef Myslivecec, que fez carreira na Itália, não chega a ser um Amadeus. Mas tem o mérito de colocar na tela um compositor pouco conhecido. Além disso há uma cena curiosa, que reconstitui o encontro verídico entre o protagonista e o então menino Mozart. Vaclav nasceu em Praga, em 1967 e este é seu primeiro filme internacional, pois se trata de uma coprodução com a Itália.
Atualmente com 94 anos, Clint Eastwood parece mesmo interessado, como ele já afirmou, a repetir Manoel de Oliveira. Seu novo filme, um drama de tribunal, se intitula O segundo jurado e descreve o que acontece depois que é revelado que um dos integrantes do júri de um julgamento é acusado de ter participação no caso. No elenco, o nome mais conhecido é o da australiana Toni Collette. Eastwood é o realizador de dois grandes momentos do cinema: Os imperdoáveis e Menina de ouro. Além disso, As pontes de Madison, Um mundo perfeito, Gran Torino e o díptico sobre a guerra no Pacífico, formado por A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima, são obras notáveis de uma filmografia das mais expressivas.